Testes Dacia Duster 1.5 dci Prestige 4X4: Um velho amigo de «quatro rodas»

Dacia Duster 1.5 dci Prestige 4X4: Um velho amigo de «quatro rodas»

Há carros que não são brilhantes em nenhum aspecto, mas que ainda assim conquista-nos o coração. O Dacia Duster 1.5 dci Prestige 4×4 é um bom exemplo.

A história da industria automóvel está cheia de exemplos de carros que não foram brilhantes no seu tempo (nem em tempo algum…) mas que ainda assim, por motivos às vezes desconhecidos, foram grandes sucessos de venda ou mais tarde objectos de culto. O Dacia Duster podia fazer parte desse grupo. Não é nenhum exemplo em termos de conforto, design, tecnologia o seja lá o que for, mas que tem sido um enorme sucesso de vendas lá isso tem.

Como não podia deixar de ser nós tivemos de ir descobrir o porquê de tanto entusiasmo em torno deste SUV romeno , afinal de contas 400.000 mil pessoas não podem estar enganadas.

Dia 1: O primeiro impacto

Dacia Duster 2013

Vamos já directos à questão: o Dacia Duster tem pouco equipamento. Não nos mima com materiais suaves ao toque, bancos aquecidos, aviso de mudança da faixa de rodagem, não estaciona nem trava sozinho e quando anoitece ou chove não nos acende os faróis ou nos liga as escovas. Nem mesmo nesta versão topo de gama Prestige, que até tem uns bancos forrados a pele.

Se não vivem sem estes equipamentos escusam de continuar a ler este artigo porque o Dacia Duster não é decididamente o vosso SUV. Com a agravante de que também não é especialmente bonito nem por fora nem por dentro. As opções de personalização resumem-se à cor da carroçaria e nos interiores nem isso. O catálogo de opcionais é, sem exagero nenhum, mais curto que o livro «Aquilo que os Homens Sabem Sobre as Mulheres».

E pronto, até agora, várias linhas depois continuamos na mesma: sem saber porque carga de água é que a Dacia conseguiu vender quase meio milhão de unidades deste SUV. Que na verdade é um Renault Kangoo, que por sua vez é na verdade um Renault Clio… enfim!

Dia 2: O aparentemente indiferente Dacia Duster

Dacia Duster 2013

Cheguei a casa ao volante do Dacia Duster, depois de um dia inteiro na redacção a escrever sobre automóveis que nós mimam e nos fazem sentir amados, coisa que o Duster aparentemente não nos faz. O silêncio entre mim e ele só era cortado pelo som do rádio e do motor que até é discreto – desde que não se exceda os 120km/h. Saí do habitáculo, mas imediatamente fui recordado de que tinha deixado os faróis ligados por um apito digno de um despertador dos anos 70. O Duster definitivamente não se esforça nem um bocadinho para ser agradável. Acham que me iluminou o caminho até chegar à porta? Nem pensar, qual sistema «follow me home» qual quê!

Dia 3: Começo a entender a personalidade do Duster

Dacia Duster 2013

No dia seguinte era Sábado. Como o meu carro pessoal estava na oficina e não tinha mais nenhum carro da imprensa para testar, peguei no Duster quase que por obrigação profissional e necessidade. Mas ao contrário de ontem, ia mais descontraído. Roupa de fim-de-semana, óculos de sol e a cabeça sem problemas no «radar». Por outras palavras, já estava mais disponível para conhecer o até agora «mal-amado» Dacia Duster.

O motor foi a primeira surpresa, é bastante agradável. Não estivéssemos nós a falar do conhecido 1.5 dci de 110cv de origem Renault. Motor que imprime no pequeno Duster um ritmo bastante alegre, apesar da dimensão dos pneus e da aerodinâmica capaz de fazer inveja a qualquer «tijolo». O comportamento em estrada também é saudável. Apesar de nas travagens em apoio se sentir um «afundar» por vezes demasiado pronunciado da dianteira. Nada de mais… afinal de contas é um SUV.

Dacia Duster 2013

O conforto esse sim é surpreendente. As suspensões filtram tudo com a certeza de quem não quer ser um desportivo. Algo que hoje parece uma obsessão. Até os mais «anémico» utilitários vêm equipados com suspensões duras e pneus de baixo perfil. Desportivos, dizem eles…

Durante a viagem fui cantando e batendo no volante ao ritmo da música (não me queiram ouvir a cantar…). Volante esse que apesar de não ter botões para todas as funções e mais algumas, afinal até era agradável ao toque. Sem dar por isso já tinha cumprido os 1o0 km de viagem até à minha casa no Alentejo. Seria possível eu estar a entrar na filosofia do Duster? Foi nesse momento que resolvi dar uma outra hipótese ao modelo mais irreverente da Dacia. Em boa hora o fiz…

Dia 4:  Lama, terra e natureza

Dacia Duster 2013

Já tinha lido que o Dacia Duster 4×4 tinha boas aptidões todo-o-terreno. O Dacia Duster provou um pouco de tudo: água, lama, areia e gravilha. E em boa verdade não «virou a cara» a nada.

O conjunto suspensões/transmissão oriundas do «quase-premium» Nissan Qashqai coadjuvadas pelo baixo peso do modelo fizeram as minhas delícias em percursos moderadamente exigentes, como podem ver nas fotos. O único travão a toda a aventura foi apenas o meu bom senso, porque na verdade o Duster parecia pronto para outros vôos mais técnicos. Não tem bloqueio de diferencial nem redutoras – a 1ª velocidade nesta versão 4×4 é mais curta – mas chega perfeitamente para que com a devida destreza se consiga mesmo envergonhar alguns jipes «puros e duros».

Dia 5: Regresso ao quotidiano em Lisboa

Dacia Duster 2013

Depois dos momentos que passei com o Duster em modo «Lisboa-Dakar» – perdão «Lisboa-Grândola», e das agradáveis viagens que o Duster me proporcionou deixei de implicar como SUV de origem franco-romena.

Sim é verdade, ele continua sem acender os faróis automaticamente, sem fazer os 0-100km/h em menos de 10 segundos, os materiais no tablier continuam tão duros como no primeiro dia (mas a montagem é rigorosa) e os avisos sonoros continuam a ser desagradáveis. Mas agora somos «parceiros», partilhámos aventuras juntos. Eu sei que sempre que eu queira, ele está pronto para sair do asfalto e acompanhar-me até à serra. E isso de certo modo isso é reconfortante…

O Duster de «mal-amado» passou a ser um dos melhores amigos de quatro rodas que já tive. O equivalente àqueles amigos de longa data que chegam à nossa casa, abrem o frigorífico e vêm ter connosco ao grelhador, dizem uma piadas e vêm futebol connosco. Não tentam nem se esforçam para ser agradáveis. Há muito que nos deixámos de cerimónias. E assim é o Duster, sem cerimónias.

É este à vontade e humildade de não tentar ser aquilo que não é, que tem conquistado tantas pessoas por essa Europa fora e não só. Em mercados emergentes como o angolano, podem ver-se diariamente modelos Duster – com o logótipo da Renault… – a fazerem os mesmos serviços que até há uns anos atrás eram exclusivos dos modelos de uma determinada marca japonesa.

Conclusão: Voltar às origens

Dacia Duster 2013

O Duster é um SUV sem complexos. Quem tinha alguns complexos era eu confesso, mas cedo ele fez-mos perder. Não é super equipado e depois? Será que nos faz mesmo falta todas aquelas toneladas de equipamento?

O Dacia Duster é uma viagem às origens. Temos aquilo que nos faz mesmo falta: ar-condicionado, direcção assistida, vidro eléctricos, um motor moderno e poupado, montes de espaço, conforto e até um rádio com leitor de Mp3 e telefone. Tudo isto com preços que começam nos 15.990 euros e que vão até aos 23.290€ da unidade ensaiada.

O sistema 4×4, que faz o preço desta unidade disparar – em 90% das ocasiões dispensa-se. Cheguei inclusivamente a tirar algumas das fotos que vêem só com a tração dianteira ligada. Mas quem a puder comprar que compre porque vale a pena. Nem que seja só para olhar com desdém para os SUV’s da moda, duas e três vezes mais caros que o Duster mas que até um lancil têm dificuldades em subir.

Em jeito de conclusão, o Dacia Duster é um automóvel mais preocupado com o «ser» do que como o «ter». Uma espécie de calças de ganga com quatro rodas. Estão a ver onde quero chegar?

Dacia Duster 2013

É um produto «low-cost» não porque recorra a elementos baratos, mas sim porque deixou de lado tudo o que era supérfluo e caro. A sensação com que fiquei é que o Duster é na verdade um automóvel muito sólido, onde a simplicidade será sempre um trunfo. Uma agradável surpresa, que me deixou saudades na hora de o entregar à marca.

Entretanto voltei aos pequenos luxos dos carros modernos e que me voltaram a conquistar e a deixar mal habituado. Mas de vez em quando, quando vejo uma estrada secundária sem asfalto ainda penso: aí se eu estivesse aqui com o Duster!

MOTOR 4 Cilindros
CILINDRADA 1461 cc
TRANSMISSÃO Manual, 6 Vel.
TRAÇÃO 4×4
PESO 1294 kg.
POTÊNCIA 110 CV / 4000 rpm
BINÁRIO 240 NM / 1750 rpm
0-100 KM/H 12,5 seg.
VEL. MÁXIMA 168 km/h
CONSUMO 5,3 lt./ 100 km
PREÇO 23.290€

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