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Entrevista

O dia em que falei com o CEO da Audi sobre carros voadores

A Audi meteu-nos num avião e levou-nos até Valência, para testarmos o novo Audi A8. Mas este artigo não é sobre o carro, esqueçam o carro. É sobre quem lá encontrei: o CEO da Audi, Rupert Stadler.

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Podia começar por vos dizer que já conduzi o novo Audi A8, o primeiro automóvel equipado com o nível 3 de condução autónoma (não, a Tesla não está no nível 3, está ainda no nível 2), porque foi isso que motivou a nossa viagem a Espanha. Vou guardar esse primeiro contacto para um artigo a publicar muito em breve, porque antes disso, há algo que gostava de partilhar..

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Posso levantar ligeiramente o pano e dizer-vos que o novo Audi A8 é um dos melhores automóveis que já conduzi e onde fui conduzido, seja na sua versão “normal”, seja na sua versão “Longa”.

Podemos discordar no estilo, mas teremos de concordar que a Audi fez um trabalho soberbo no interior e no rigor que colocou na montagem, nos componentes de última geração disponíveis, nos ínfimos detalhes, na tecnologia, mas também na preocupação em proporcionar uma excelente experiência de condução, mesmo sendo este um automóvel que se promove como o primeiro dotado do nível 3 de condução autónoma. Esse primeiro contacto vais encontrá-lo muito em breve aqui.

O homem forte da Audi

Fomos convidados pela Audi a integrar um grupo restrito que iria participar numa conversa informal com o CEO da Audi, Rupert Stadler. É daqueles convites que não se podem recusar. Mesmo para espanto dos membros da Audi presentes, incluindo o próprio CEO da marca, por estarmos a trabalhar no Dia da Implantação da República Portuguesa, feriado nacional. Mas, quem é Rupert Stadler?

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Rupert Stadler no discurso de inauguração da nova fábrica da Audi, no México. © AUDI AG

O Professor Dr. Rupert Stadler é CEO da Audi AG desde 1 de janeiro de 2010, e CFO da marca dos anéis desde 2007. Entre outros cargos que ocupa no Grupo Volkswagen, Stadler é ainda Vice-Chairman de um clube de futebol. Já devem ter ouvido falar: um tal de Bayern de Munique.

O seu nome esteve envolvido em algumas polémicas recentes, relacionadas com o Dieselgate, de onde conseguiu sair ileso e com uma posição aparentemente reforçada dentro do Grupo. Posição essa que permitirá com que lidere a Audi nos próximos anos. É claro que Stadler e a sua equipa reagiram a esta fase negra com a resposta inevitável: serviu como mote para uma mudança de rumo, acompanhando o Grupo Volkswagen.

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Aqui não podem existir clubismos. Responsável por 88 mil postos de trabalho, o homem forte da Audi teve de colocar para trás das costas todos os danos provocados pelo Dieselgate e seguir em frente, continuando a marca e os seus responsáveis a colaborar com as autoridades, naturalmente. Foi esse homem com “votos renovados” que encontrei em Valência.

Duas perguntas

Ninguém daria pela sua presença, não fosse estarem 20 pessoas na sala, entre as quais o vosso escriba, que vivem todos os dias muito perto desta indústria. Sentado ao fundo da sala, a beber uma cerveja, aguardava pacientemente pela chegada dos convidados e das suas perguntas. Durante a conversa informal pude colocar-lhe duas perguntas.

O que é que a Audi pretende fazer para melhorar a sua performance de vendas em Portugal?

A primeira pergunta surgiu na sequência de uma declaração que Stadler proferiu sobre o mercado português – “a Audi não está mal posicionada (em Portugal), mas pode estar melhor e vamos tentar encontrar soluções que permitam, futuramente, melhorar a performance da marca nesse país.”

A resposta à nossa questão centrou-se na necessidade de disponibilizar e reforçar a entrega modelos de segmentos importantes para o nosso mercado, sendo do conhecimento geral que a Audi tem dificuldades em entregar modelos como o Audi Q2 não só em Portugal, mas em todos os mercados, devido ao elevado número de encomendas.

Não foi uma crítica! Foi apontar uma oportunidade para o futuro. Para mim é muito simples. Depende da segmentação do produto, que em Portugal é muito diferente dos outros países. Nós vemos o sucesso que o Audi Q2 está a ter e no futuro, o novo Audi A1, que será lançado em 2018, será uma oportunidade para Portugal. E também temos de trabalhar nas vendas do A4 e do A5, mesmo sendo segmentos que em Portugal têm menos penetração.

Rupert Stadler, CEO Audi AG.

É a última vez que vamos ver o motor W12 ou o motor V10 num automóvel com o símbolo da Audi?

Infelizmente não foi possível obter uma resposta direta à nossa segunda pergunta, mas certamente que conseguimos retirar algumas conclusões e antecipar o que irá acontecer.

Não posso responder a isso agora. Talvez o próximo Audi A8 seja 100% elétrico, o tempo dirá o que vai acontecer! Agora estamos a lançar o carro assim e é aquilo que consideramos ser o estado de arte da indústria. Aquilo a que temos assistido nos últimos anos é a um downsizing dos motores, mas não necessariamente uma diminuição da performance.

Rupert Stadler, CEO Audi AG.

Stadler acrescentou ainda que “…o gosto dos consumidores também está a mudar, e a atenção ao interior e aos seus detalhes está a ganhar mais importância do que o motor, sendo pouco importante se é um 12 cilindros ou um 8 cilindros.”

“Se olhar para os mercados europeus, à excepção da Alemanha, todas as estradas estão limitadas a 120/130 km/h. Nós temos de acompanhar a alteração de interesses dos nossos clientes e começar a construir os nossos produtos, talvez, com outro foco.”

Carros voadores?

A Italdesign, a start-up italiana da qual a Audi é proprietária, está a desenvolver em conjunto com a Airbus um projeto muito interessante de mobilidade. O “Pop.Up” foi apresentado no Salão de Genebra, em março de 2017 e é um carro autónomo, elétrico e que consegue voar, como podem ver nas imagens. 

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A Razão Automóvel esteve na apresentação do projeto “Pop.Up”, no Salão de Genebra 2017.

Rupert Stadler deixou-nos um aviso em relação a este projeto dizendo “Stay tuned”, alertando para o facto de termos de olhar com atenção para os seus desenvolvimentos. Stadler, referiu-se ao “grande investimento” que a Airbus aceitou fazer nesta proposta da Italdesign, reforçando também que “…a Audi está empenhada em tornar esta proposta numa realidade para além do protótipo“.

No final da conversa “informal”, o CEO da Audi convidou-nos para ir até ao bar onde poderíamos continuar a conversa. Eu pensei: caramba, tenho de lhe perguntar mais coisas sobre carros voadores, quando é que terei outra oportunidade?!? (talvez em Março de 2018 no Salão de Genebra, mas falta muito…). Eu via os Jetsons e achava brutal! Quem é que via os Jetsons?

Junto ao bar, iniciei a conversa.

Diogo Teixeira (DT): Dr. Rupert, é um prazer conhecê-lo. Diogo Teixeira da Razão Automóvel, Portugal.
Rupert Stadler (RS): Portugal! Temos de vos agradecer terem aceite o nosso convite num dia de feriado nacional!
DT: “Sobre o projeto da Italdesign, o “Pop.Up”, há uma coisa que tenho de lhe perguntar. Da mesma forma que quando o Homem construiu o carro anfíbio, conseguiu criar um carro que se comportava como um barco na estrada, e um barco que se portava como um carro na água, o que é que nos garante que não vamos fazer o mesmo com o carro voador?”
RS: (Risos) Essa pergunta é pertinente sim. Quando os rapazes da Italdesing me mostraram o concept pela primeira vez fiquei reticente. Era um carro voador! Mas disse-lhes: ok, nós pagamos para ver.
DT: Digamos que um carro voador implica algumas coisas…
RS: Exato. Algum tempo mais tarde chegou-me a notícia de que a Airbus queria entrar no projeto e eu pensei “olha, isto tem pernas para andar”. Foi aí que surgiu o “Pop.Up”, em parceria com a Airbus.
DT: Só a autonomização total do veículo é que tornará viável este tipo de oferta? Ou seja, será certamente impensável projetar um ambiente citadino onde voamos manualmente de um lado para outro.
RS: Claro que sim isso seria impensável. O “Pop.Up” é completamente autónomo.
DT: Podemos esperar notícias para breve sobre este projeto?
RS: Sim. Nós apoiamos estes projetos de uma startup como a Italdesign porque acreditamos que com ideias novas e frescas, há sempre alguma que será certeira. É uma aposta que fazemos para garantir que somos pioneiros, como é o caso deste “Pop.Up”.

Esta conversa serviu de aperitivo para o que motivou a nossa viagem. Conduzir aquele que é, provavelmente, o automóvel tecnologicamente mais avançado do mercado: o novo Audi A8.

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