Primeiro Contacto Ao volante do novo Renault Mégane RS. Temos máquina

Ao volante

Ao volante do novo Renault Mégane RS. Temos máquina

Já conduzimos o novo Renault Mégane RS, um modelo para o qual as expectativas são sempre elevadas. Estará a nova geração à altura delas?

Renault Mégane RS

As expectativas são muitas — afinal trata-se de mais um capítulo de uma história gloriosa que caminha a largos passos para os seus 15 anos. E durante esse período de tempo, o Renault Mégane RS foi sempre dos mais reverenciados hot hatch do mercado.

Chegou a hora de conhecer o terceiro capítulo desta saga e os receios são muitos — as mudanças operadas nesta nova geração do Mégane RS são extensas, ao nível do que vimos no Clio RS, e todos sabemos que os resultados não foram os esperados no mais pequeno representante da Renault Sport.

O que mudou?

Tal como o Clio, também o Renault Mégane RS perdeu a carroçaria de três portas, estando apenas disponível com cinco portas — tal como muitos construtores, também a Renault decidiu exclui-las do seu portefólio. Não vendem? Rua.

Renault Mégane RS
Aquela traseira.

De fora também ficou o F4RT — piada demasiado fácil se forem anglófonos… —, o motor que sempre equipou o Renault Mégane RS. O 2.0 litros turbo foi substituído pelo novíssimo M5PT, estreado pelo Alpine A110. Trata-se à mesma de um quatro cilindros em linha, mas agora com 1.8 litros, mantendo o turbo (naturalmente…). Pode ser mais pequeno, mas não é menos pujante — o M5PT garante 280 cv às 6000 rpm (mais cinco do que no último RS Trophy e mais 28 cv do que no A110), e 390 Nm de binário entre as 2400 e as 4800 rpm.

Agora existem duas transmissões — uma de dupla embraiagem de seis velocidades (EDC) e a manual, com mesmo número de velocidades. Uma palavra de apreço para a Renault Sport, que mesmo sabendo que a caixa manual deverá ser uma pequena parte do mix de vendas, manteve-a na nova geração. Mesmo que que não venda, há soluções que permanecem nos nossos corações.

E o RS também mudou, mas desta vez, relativamente aos outros Mégane. As vias mais largas 60 mm à frente e 45 mm atrás, levaram à conceção de novos para-choques, que integram uma lâmina à lá Fórmula 1, e guarda-lamas — a aparência ficou claramente mais musculada, com as opcionais jantes de 19″ da unidade testada a encher devidamente os arcos, e a pose do carro bastante mais assertiva.

Não cai em exageros visuais, está tudo com o devido peso e medida e quase, quase tudo corretamente integrado. Contém também os pormenores que já são imagem de marca, como as óticas R.S. Vision, na frente — com o seu característico padrão a lembrar uma bandeira axadrezada —, e a saída de escape central que acompanham o Mégane RS desde a sua génese.

Também o chassis traz novidades…

Se há algo em que o Mégane RS sempre se destacou foi no seu comportamento e capacidade do seu chassis. E mais uma vez a Renault Sport segue o seu caminho: atrás mantém-se uma barra de torção, quando a concorrência traz suspensão independente. E suspensão adaptativa como os seus rivais? Não obrigado, diz a Renault Sport. Há muitos caminhos para chegar ao mesmo destino, e a Renault Sport escolheu um caminho interessante (mas já lá vamos).

Nesta geração, a Renault Sport muniu o Mégane RS com novos argumentos dinâmicos, à conta de duas novidades. Pela primeira vez, um RS traz o sistema 4CONTROL, ou seja, quatro rodas direcionais, já conhecido de outros modelos da marca, mas pela primeira vez presente num RS e exclusivo entre os seus pares.

A segunda novidade passa pela introdução de quatro batentes hidráulicos de compressão nos amortecedores, solução inspirada do mundo dos ralis, e trata-se, resumidamente, de um “amortecedor dentro de um amortecedor”. Um pistão secundário dentro do amortecedor, amortece o movimento da roda quando a suspensão se aproxima do fim do seu curso, dissipando a energia sem a “reenviar” à roda. Permite um controlo otimizado do contacto entre o pneu e a estrada, evitando os efeitos de repercussão que acontecem com batentes convencionais. Engenhoso? Sem dúvida.

…e é o melhor do Mégane RS

Sem dúvida que o chassis é a estrela no Renault Mégane RS. A apresentação decorreu em Jerez de la Frontera, Espanha, e o percurso escolhido, com uma primeira parte bastante aborrecida — por vezes mais parecia o Baixo Alentejo, com longas retas —, mas que depois nos brindava com a “mãe das estradas de montanha”. Montanha russa talvez fosse o termo mais correto — bastante enrolada, estreita, algo degradada, depressões, gradientes diversos, curvas cegas, a descer, a subir… parecia ter de tudo. Sem dúvida o desafio ideal para este chassis.

Soberbo é a única palavra que me ocorre para definir o chassis deste carro — a mestria da Renault Sport na conceção de chassis é notável. O chassis absorve tudo com uma eficácia avassaladora, permitindo ritmos a velocidades inarráveis numa estrada que mal dava para se cruzarem dois carros.

O chassis é firme, sem dúvida, mas nunca desconfortável. É aliás um dos seus maiores trunfos — os bancos, sempre com excelente apoio, também ajudam. Absorve as irregularidades com uma eficácia surpreendente, mantém a trajetória delineada, imperturbável. Até mesmo quando a estrada colocava desafios impossíveis, como uma ou outra depressão, a suspensão nunca “bateu”; apenas absorveu o impacto e continuou o caminho, como se nada fosse. Tomara que as minhas vértebras dissessem o mesmo, tal a compressão…

Também nada a apontar ao 4CONTROL — a Renault Sport afirma que o calibrou especialmente para esta versão. Nunca senti nenhuma reação “contra-natura” por parte da direção — sempre precisa e com o peso correto, mas gostaria de mais sensibilidade — ou do chassis aos meus comandos. A agilidade não deixa de surpreender nas mudanças rápidas de direção, mesmo sabendo que são mais de 1400 kg de carro. E a agilidade extra garantida, permite manter as mãos no volante sempre na mesma posição, às “um quarto para as três”, mesmo quando as curvas são mais fechadas.

Renault Mégane RS
FWD magic.

Não confundam a eficácia com falta de diversão. O Renault Mégane RS reage quando provocado e gosta de brincar. Em modo Sport, o ESP fica bem mais permissivo, pelo que podem esperar subviragem e torque steer quando esmagam o acelerador na altura errada, e travar em apoio resulta no soltar da traseira, por vezes de forma acentuada e muito excitante. Inerte é coisa que o Mégane RS não é!

Motor convence

Felizmente, o motor, apesar de não estar ao nível do chassis, acompanhava-o de forma convincente — excelente resposta desde as mais baixas rotações, turbo lag aparentemente inexistente, e um gosto por regimes elevados caracterizam-no. Podia era soar melhor.

No caso do Mégane RS, se de fora o som grave até era convincente, no interior deixou algo a desejar. Nos primeiros quilómetros ao volante, soava até algo artificial — suspeitas que foram confirmadas mais tarde, quando os responsáveis da marca afirmaram que o som do motor é enriquecido digitalmente. Também tu, Mégane… 

Mas nada de duvidar sobre as suas capacidades. O Renault Mégane RS 280 EDC é rápido — 5,8 segundos até aos 100 km/h, 25 segundos até aos 1000 m e capaz de atingir os 250 km/h —, e impressiona a sua facilidade em atingir velocidades elevadas. Só mesmo quando olhamos para o velocímetro é que percebemos o quão depressa vamos e como o Mégane RS o faz como se fosse a coisa mais natural do mundo.

As patilhas, ai, as patilhas…

A confiança da Renault Sport na sua nova criação é claramente elevada — só disponibilizou para as provas de estrada o Renault Mégane RS 280 EDC com chassis Sport, talvez a versão mais “civilizada” do hot hatch. A caixa EDC, o motivo de muitas preocupações entre os fãs do modelo, acabou por se revelar melhor do que o esperado, decidida e rápida no geral (modo Sport), mas por vezes com vontade própria — confesso que conduzi mais em modo manual do que em automático. Mesmo em modo manual, e caso as rotações subam em demasia, a relação é automaticamente engrenada.

Renault Mégane RS — interior
Vêm as longas patilhas por detrás do volante? Não são longas o suficiente

As patilhas que permitem selecionar as relações, por outro lado, têm de ser repensadas. São maiores que a maioria, sem dúvida, e estão fixas à coluna de direção — o que é bom —, mas são maiores onde não interessam. Era necessário uns poucos centímetros a mais para baixo e, também importante, estarem um pouco mais próximas do volante.

RS Monitor
O Renault Mégane RS vem equipado com um dispositivo de telemetria e indicação de dados e vem em duas versões. A primeira sintetiza informações de 40 sensores e permite visualizar no ecrã tátil R-Link 2 vários pârametros: aceleração, travagem, ângulo de volante, funcionamento do sistema 4CONTROL, temperaturas e pressões. A segunda, denominada RS Monitor Expert, permite até filmar a ação, e sobrepor os dados da telemetria, criando videos de realidade aumentada. Videos que podem ser posteriormente partilhados nas redes sociais — através de apps Android e iOS —, e os dados guardados podem ser exportados para o website R.S. Replay, podendo ser visualizados e analisados ao detalhe, e compará-los com os restantes utilizadores,

Em circuito

Depois de ter convencido na estrada, também houve oportunidade de experimentar o Mégane RS em circuito, e tal como já perceberam pela localização da apresentação, naturalmente foi no circuito de Jerez de la Frontera, conhecido mais pelas provas de MotoGP que ali se realizam.

Só que desta vez, à minha disposição, estava o outro Renault Mégane RS, aquele que traz caixa manual e chassis Cup — amortecimento mais rígido 10%, diferencial autoblocante Torsen, e opcionalmente travões em ferro fundido e alumínio, que poupam 1,8 kg em massas não suspensas.

Infelizmente, a experiência foi breve — não mais do que três voltas lançadas —, mas permitiu averiguar várias coisas. Primeiro, a caixa manual adiciona uma camada de interação com o Mégane RS muito mais apelativa que as patilhas. É uma caixa de curso curto e rápido, basicamente, um mimo de usar, mesmo quando em modo de ataque no circuito.

Segundo, não deu para perceber se os 10% de rigidez extra da suspensão lidam bem com irregularidades — não o pudemos testar em estrada —, já que o circuito tinha um piso liso como uma mesa de bilhar. Terceiro, no modo Race, o ESP fica verdadeiramente desligado o que obriga a um doseamento mais sensível do acelerador, sobretudo à saída das curvas.

Quarto, os travões parecem ser incansáveis. Os carros tiveram em circuito mais do que duas horas, a trocar constantemente de mãos, e aguentaram todo o tipo de abusos, oferecendo sempre toda a potência necessária e com um tato de pedal sempre exímio.

Renault Mégane RS em circuito
Atrasar a travagem, apontar com convicção ao apex e esperar… o efeito é este. Para regressar tudo ao normal basta esmagar o acelerador. O Mégane RS faz parecer fácil.

Em Portugal

A chegada do Renault Mégane RS ao mercado nacional será faseada. O primeiro a chegar será o Mégane RS 280 EDC, com chassis Sport — exatamente como o modelo testado em estrada —, com preços a começar nos 40 480 euros. O Mégane RS 280 com caixa manual, chegará mais tarde, com preços a iniciarem-se nos 38 780 euros.

A gama continuará a crescer. Além do RS 280 com caixa manual e EDC, e as duas opções de chassis — Sport e Cup —, já foi confirmado o RS Trophy, com 300 cv, que deverá marcar presença no próximo Salão de Paris, em outubro.

Ao volante do novo Renault Mégane RS. Temos máquina

Primeiras impressões

9/10
As expectativas não saem defraudadas. O novo Renault Mégane RS é um excelente hot hatch. Só não leva pontuação máxima, porque apenas testámos a versão RS 280 EDC em estrada — o breve contacto, apenas em circuito, com a caixa manual deixa antever que seja a opção certa para o Mégane RS. Veredicto final quando o Mégane RS chegar até nós. Na versão RS 280 EDC, a caixa automática de dupla embraiagem não é o terror que se antevia, mas também não é perfeita. Pior nota para as patilhas, tanto pelo posicionamento, como pela forma. De resto, o Mégane RS é aquilo que nós quisermos que seja — desde um (bastante) confortável carro para o dia-a-dia, até uma máquina que ataca qualquer estrada com uma eficácia avassaladora. O chassis é fenomenal — o que nos deixa ainda mais curiosos para saber como se comporta o ainda mais acutilante chassis Cup fora dos circuitos. Mas o potencial está lá — o Renault Mégane RS tem tudo para se tornar novamente na referência da sua categoria.

Data de comercialização: Maio 2018

Prós

  • Chassis
  • Caixa manual
  • Bancos confortáveis e excelente apoio

Contras

  • Posicionamento e dimensão das patilhas (EDC)
  • Particularidades da caixa EDC
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