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Shhh… União Europeia amordaça motores para reduzir ruído dos automóveis

Para reduzir o ruído dos automóveis, novas regras europeias entrarão em vigor no próximo ano — os motores serão os principais afetados.

Porsche 918

Quando conduzimos o Honda Civic Type R, talvez o único ponto a merecer crítica seja o som do seu motor, ou melhor, a falta dele — sem dúvida que merecia uma voz em sintonia com as suas capacidades dinâmicas e prestacionais. Bem, é como se o “silêncio” do hot hatch previsse o futuro — vêm aí novas regras europeias para limitar o ruído dos automóveis.

Foi durante a apresentação dos novos A 45 e CLA 45, em declarações da AMG á publicação australiana Motoring, que acabámos por ficar expostos a esta próxima realidade.

A casa de Affalterbach — conhecida pelos seus sonoros e musculados V8 — afirmou que o som da próxima geração dos seus modelos será obrigatoriamente mais discreto. A nova família de modelos 45 é a primeira a obedecer ao novo regulamento.

Estão a imaginar um V8 da AMG com voz de menino de coro? Pois, nós também não…

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McLaren 600 LT 2018
Escapes, ou lança-rockets? Um pouco de ambos…

Este regulamento da União Europeia acabará por não afetar apenas os automóveis vendidos na Europa. Bastian Bogenschutz, diretor de planeamento de produto para os Mercedes-AMG compactos, justifica: “Podemos (desenvolver sistemas de escape específicos), mas é muito caro fazê-lo para todos os mercados, é muito difícil”.

Até agora, havia forma de contornar a legislação existente. Muitos foram os desportivos equipados com uma válvula bypass, que permitia ter, efetivamente, uma sonoridade tipo Dr. Jekyll e Mr. Hide — suave que nem um ronronar de um gatinho em modo “normal” e, ao toque de um botão (ou a escolher outro modo de condução), um rugido capaz de acordar um morto, adicionando ainda uma panóplia de “pops” e “bangs”, que em muito enriquecem a experiência sonora.

Não mais! Ao abrigo dos novos regulamentos, a medição do ruído emitido pelo motor será sempre feita no seu modo mais “barulhento”, precisamente onde reside essa camada extra de diversão sonora.

Hyundai i30 N
© Thom V. Esveld / Razão Automóvel

Regulamento N.º 540/2014, o culpado

Afinal que regulamento é esse que se prepara para amordaçar o ruído dos automóveis? Escondido sob a inócua referência n.º 540/2014, encontramos o regulamento que trata de tudo relativo ao nível sonoro dos veículos a motor e dos sistemas silenciosos de substituição.

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O objetivo passa por combater o excesso de ruído do tráfego, devido às consequências nefastas para a saúde, como refere uma das considerações do regulamento n.º 540/2014:

O ruído devido ao tráfego causa vários tipos de danos à saúde. O stress prolongado devido à exposição ao ruído pode levar ao esgotamento das reservas do organismo, perturbar as funções reguladoras dos órgãos e, consequentemente, limitar a sua eficácia. O ruído devido ao tráfego representa um potencial fator de risco para o desenvolvimento de doenças e outros problemas de saúde, tais como a hipertensão e o enfarte do miocárdio.

Assim, o regulamento define metodologias de teste para medir o ruído dos automóveis (ligeiros e pesados), como também coloca limites ao ruído que poderão emitir. Em relação aos automóveis de passageiros (categoria M), estes são os limites a cumprir:

Categoria Descrição Valores-limite em dB
Fase 1 — a partir de 1 de julho de 2016 Fase 2 — novos modelos a partir de 1 de julho de 2020 e a primeira matrícula a partir de 1 de julho de 2022 Fase 3 — novos modelos a partir de 1 de julho de 2024 e a primeira matrícula a partir de 1 de julho de 2026
M1 relação potência massa ≤ 120 kW/1000 kg 72 70 68
M1 120 kW/1000 kg < relação potência massa ≤ 160 kW/1000 kg 73 71 69
M1 160 kW/1000 kg < relação potência massa 75 73 71
M1 relação potência massa > 200 kW/1000 kg

Número de lugares sentados ≤ 4

Ponto R do lugar sentado do condutor ≤ 450 mm acima do solo

75 74 72

Nota: Categoria M — Veículos a motor concebidos e construídos para o transporte de passageiros com, pelo menos, quatro rodas; Categoria M— Veículos concebidos e construídos para o transporte de passageiros com oito lugares sentados no máximo, além do lugar do condutor.

Para ter uma ideia aproximada do que significam aqueles valores em dB (decibéis — escala logarítmica para medir o som), 70 dB equivale a um tom de voz normal a 30 cm de distância, ao ruído de um aspirador ou de um secador de cabelo.

Convém notar que os valores da tabela acima não são referentes apenas ao ruído do motor/escape. Os valores-limite anunciados referem-se ao ruído total produzido pelo automóvel, ou seja, além do ruído do motor/escape, também entram para as contas o ruído de rolamento provocado pelos pneus — uma das principais fontes de ruído dos automóveis. Como seria de esperar, também os pneus têm o seu próprio conjunto de requisitos a cumprir: Regulamento N.º 661/2009.

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Olá, som artificial

Com o barulho de escape a ser substancialmente reduzido nos próximos anos por força dos regulamentos, ouvir o motor de máquinas de calibre mais desportivo, por parte do condutor, vai ficar mais difícil. No entanto, há uma solução, nem sempre a mais apreciada: som “aumentado” de forma artificial, recorrendo ao sistema de som do automóvel.

Aston Martin Valkyrie 6.5 V12
11 100 rpm! Nada de artifícios por aqui

Facto é que os motores hoje em dia já não têm grande voz de tenor e muitos são “mudos”, salvo algumas excepções, devido à “invasão” turbo que os motores a gasolina conheceram. E são cada vez mais carros, como alguns dos hot hatch que testámos, que recorrem a estes artifícios para compensar uma falta inata de voz.

Agora, à luz dos novos regulamentos, deverá ser a única solução à disposição dos construtores para dar voz às suas máquinas mais possantes… pelo menos no interior do habitáculo.

Certamente, vamos-nos queixar nos próximos anos pela falta de voz naqueles carros que mais voz deveriam ter. Até lá, ainda há espaço para momentos destes: