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A Gigafactory 4 da Tesla na Alemanha vai ser paga pela FCA?

Estão prestes a começar os trabalhos para erigir a Gigafactory 4 da Tesla em Grünheide, perto de Berlim na Alemanha, mas de onde veio o dinheiro para o empreendimento?

Tesla Model 3
© Tesla

E vão quatro. A Gigafactory 4 da Tesla perto de Berlim na Alemanha juntar-se-á às restantes que já operam nos EUA (estado do Nevada e Nova Iorque) e na China (perto de Xangai).

Um feito notável para o (ainda) pequeno construtor norte-americano, e desta vez a instalar-se no coração do território da poderosa indústria automóvel alemã. Na futura fábrica além da produção de baterias e da cadeia cinemática dos seus modelos, será montado o Tesla Model Y e o Model 3, a partir de 2021.

Após ter sido conhecida a localização da Gigafactory 4, não foi preciso esperar muito para encontrar resposta à questão de como esta seria financiada.

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Tesla Gigafactory

A Gigafactory 3, por exemplo, localizada na China, conseguiu 1,4 mil milhões de dólares (1,26 mil milhões de euros) através do financiamento de vários bancos chineses. Na Europa, por outro lado, os fundos necessários vieram do local mais improvável: a FCA (Fiat Chrysler Automobiles).

Não faz muito sentido, pois não? Porque é que a FCA financiaria a construção de uma fábrica para um construtor rival? Para mais, quando a falta de recursos tem sido um dos principais problemas com que o grupo italo-americano se tem deparado nos últimos anos, sendo um dos motivadores para a fusão anunciada no final do ano passado com a PSA.

Emissões, sempre as emissões

Como refletimos muito recentemente, 2020 e 2021 serão bastante desafiantes para a indústria automóvel. Até 2021 as emissões médias de CO2 da indústria automóvel na Europa terão de ser reduzidas para 95 g/km (este ano, 95% das vendas terão de já cumprir esse requisito). O incumprimento resulta em multas avultadas.

Entre as várias medidas que a CE (Comunidade Europeia) permite aos construtores para atingir as ambiciosas 95 g/km, uma delas é a de se poderem associarem entre eles para que o cálculo das emissões em conjunto seja mais favorável.

Ou seja, se um construtor com emissões elevadas e com poucas possibilidades de atingir as metas impostas no prazo disponível, pode associar-se a outro, com emissões mais favoráveis, com o cálculo das emissões dos dois construtores a serem combinados como se de um se tratasse.

É precisamente o tipo de acordo estabelecido entre a FCA e a Tesla o ano passado. Com vendas crescentes de SUV e atrasada na eletrificação dos seus modelos (a forma mais eficaz de reduzir as emissões), as emissões de CO2 da Tesla — iguais a zero, por apenas vender veículos elétricos —, passam a contar agora para o cálculo das emissões da FCA a partir deste ano, atenuando a sua exposição às avultadas multas.

Como devem imaginar, a Tesla não o fez como um ato de caridade. A FCA está a pagar à Tesla uma soma expressiva para o efeito. De acordo com o banco de investimento Robert W. Baird & Co, a FCA irá pagar 1,8 mil milhões de euros à Tesla a começar este ano e a terminar em 2023.

Tesla Model Y
O Model Y é um dos modelos que será montado na Gigafactory 4 na Alemanha.

Não é, portanto, de admirar que essa quantia tenha sido aproveitada pela Tesla para erigir a Gigafactory 4 e instalar-se na Europa. É o que refere Ben Kallo, analista do banco Baird:

“Apesar de reconhecermos que os investidores queiram cortar estes créditos na avaliação da execução operacional, notamos que esses créditos (da FCA) são efetivamente os fundos para a fábrica europeia da Tesla.”

Se a quantia a pagar por parte da FCA à Tesla é elevada, o valor das multas é ainda maior — de acordo com os analistas, estima-se que, mesmo com as suas emissões a serem calculadas como se a Tesla fizesse parte do grupo italo-americano, a FCA pague 900 milhões de euros em multas em 2020 e mais 900 milhões em 2021. Um valor que seria muito superior caso as (zero) emissões da Tesla não fizessem parte do cálculo.

Eletrificação a caminho

Apesar da FCA estar atrasada na eletrificação, ela ganhará força durante este ano. Já foram reveladas as versões híbridas plug-in dos Jeep Renegade, Compass e Wrangler; os pequenos Fiat 500 e Panda acabaram de receber versões mild-hybrid (emissões reduzidas entre 20-30%); no próximo Salão de Genebra veremos um novo 500 totalmente elétrico; e por fim, a Maserati prepara-se para eletrificar a maioria da sua gama (híbridos).

Fiat Panda Mild-Hybrid e 500 Mild Hybrid
Fiat Panda Mild-Hybrid e 500 Mild Hybrid

Modelos que contribuirão para que a FCA consiga, progressivamente, estar em cumprimento nos próximos anos, altura que prescindirá da associação com a Tesla na Europa.