Notícias Renault quer reduzir os custos fixos em mais de dois mil milhões de euros. Como o vai fazer?

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Renault quer reduzir os custos fixos em mais de dois mil milhões de euros. Como o vai fazer?

Para recuperar a sua competitividade, a Renault quer e tem de reduzir os custos fixos em mais de dois mil milhões de euros. Fica a saber como.

Renault Mégane

A apresentação deste plano do Grupo Renault (Renault, Dacia, Alpine, Renault Samsung Motors e Lada) para reduzir os custos fixos em mais de dois mil milhões de euros até ao final de 2022 é o culminar de uma semana particularmente ativa por parte da Aliança Renault-Nissan-Mitsubishi.

Há dois dias vimos a Aliança anunciar novas formas de cooperação entre os seus membros, ontem a Nissan apresentou o seu plano para sair da crise onde se encontra há vários anos, e hoje vemos a Renault apresentar um compreensivo plano de redução de custos.

E é apenas e só sobre custos. Pouco  foi referido em termos estratégicos — o futuro da Renault a esse nível será delineado com a entrada em funções a 1 de julho de Luca de Meo, ex-CEO da SEAT. Teremos de esperar mais alguns meses para confirmar se Luca de Meo manterá a “razia” prevista à gama da marca francesa.

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Renault Captur
© Thom V. Esveld / Razão Automóvel

Há que referir também que este plano não é uma reação aos efeitos da pandemia; tal como vimos ontem na Nissan, este plano tem vindo a ser discutido e delineado há já bastante tempo, consequência do período difícil pelo qual os dois construtores têm passado. No entanto, as consequências do Covid-19 apenas aumentaram o nível de urgência na implementação das medidas deste plano.

"Num contexto incerto e complexo, este projeto é vital para garantir um desempenho sólido e sustentado (…). Ao tirarmos partido dos nossos vários pontos fortes e dos recursos tecnológicos do Grupo Renault e da Aliança, reduzindo a complexidade de desenvolvimento e de produção dos nossos automóveis, vamos gerar economias de escala para restabelecer a nossa rentabilidade e assegurar o desenvolvimento em França e no resto do mundo. (…)"

Clotilde Delbos, Diretora-Geral interina da Renault
Alpine A110S
Alpine A110S

Mudança de paradigma

Conseguir reduzir os custos fixos em mais de dois mil milhões de euros até ao final de 2022 é a primeira prioridade na mudança de paradigma que ocorre no Grupo: conseguir mais rentabilidade e ficar menos dependente do volume absoluto de vendas.

Paradigma que segue direção contrária ao do anterior plano pela qual o Grupo Renault se guiava, um de expansão. Plano que não gerou os resultados esperados e acabou por incrementar os custos e a dimensão da empresa para lá do razoável.

A redução dos custos fixos dividir-se-á por três áreas:

  • PRODUÇÃO — redução estimada de 650 milhões de euros
  • ENGENHARIA — redução estimada de 800 milhões de euros
  • SG&A (Vendas, Administrativos e Gerais) — redução estimada de 700 milhões de euros
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Reduzir os custos fixos em mais de dois mil milhões de euros. Que ações concretas vão tomar?

Previsivelmente, quando o assunto é cortar custos, uma das formas é a de reduzir a força de trabalho. O Grupo Renault anunciou que pretende reduzir durante os próximos três anos o número de funcionários em aproximadamente 15 000, dos quais 4600 serão em França.

A redução da força de trabalho é uma das consequências da otimização do aparelho industrial — PRODUÇÃO — do Grupo Renault. Há que ajustar a produção à procura, e por isso veremos a sua capacidade instalada passar de quatro milhões de veículos por ano (2019) para 3,3 milhões até 2024.

Dacia Duster Adventure
Dacia Duster Adventure

Esta otimização levou também à suspensão dos trabalhos de expansão de capacidade das fábricas da Renault em Marrocos e Roménia, estando a ser estudada a adaptação da capacidade de produção do Grupo na Rússia. Decorre também um estudo para a racionalização da produção de caixas de velocidades a nível mundial.

O encerramento de fábricas também está em discussão. De momento, confirma-se apenas o encerramento da sua unidade em Choisy-le-Roi (França) — produção de motores, transmissões e outros componentes — que verá as suas atividades transferidas para Flins. Outras estão a ser reavaliadas, como a de Dieppe, onde é produzido o Alpine A110.

Além desta contração, veremos as restantes fábricas a fazer cada vez mais parte da chamada Indústria 4.0 (maior aposta na automação e digitalização). E estão em cima da mesa propostas para a criação de um polo para a produção de veículos elétricos e comerciais ligeiros no norte de França, que envolve as fábricas de Douai e de Maubeuge.

Renault Cacia, caixa de velocidades
Caixa de velocidades produzida na Renault Cacia.

Ao nível da ENGENHARIA o objetivo é melhorar a eficácia beneficiando das competências da Aliança, que afetará o desenvolvimento de novos modelos.

É aqui que a Renault espera conseguir a maior redução de custos — cerca de 800 milhões de euros —, e para o conseguir as ações a tomar assentarão sobre a redução da diversidade de componentes e no aumento dos níveis de standardização. Ou seja, tal como vimos na Nissan, seguirá o mesmo programa leader-follower que a Aliança quer implementar.

Veremos os vários membros da Aliança concentrar-se no desenvolvimento de tecnologias específicas — no caso da Renault o foco estará nas arquiteturas elétricas e eletrónicas, por exemplo —, a veremos ainda a otimização dos centros de I&D (Investigação e Desenvolvimento) e um uso crescente de meios digitais na validação de processos.

novo renault zoe 2020

Por fim, ao nível dos custos gerais, administrativos e marketing — SG&A —, estes serão reduzidos como consequência da contração para fazer face ao sobredimensionamento atual, complementados com uma crescente digitalização e redução de custos com funções de suporte.

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"Tenho toda a confiança nas nossas capacidades e pontos fortes, nos nossos valores e na direção da empresa para levar a cabo esta necessária transformação e para elevar, através deste plano, o valor do nosso Grupo. (…) Será coletivamente, e com o apoio dos nossos parceiros da Aliança, que seremos capazes de atingir os nossos objetivos e de fazer do Grupo Renault um ator principal na indústria automóvel, nos próximos anos. (…)"

Jean-Dominique Senard, Presidente do Conselho de Administração da Renault
Renault Morphoz
Renault Morphoz assenta sobre nova plataforma elétrica.