Ensaio Testámos o Honda HR-V. Um B-SUV injustamente esquecido?

Desde 25 600 euros

Testámos o Honda HR-V. Um B-SUV injustamente esquecido?

Será que a atualização recebida em 2019 permitiu ao Honda HR-V recuperar alguma da competitividade perdida e torná-lo mais visível neste concorrido segmento?

Honda HR-V 1.5 i-VTEC Executive

O Honda HR-V continua a ser um modelo de grande sucesso para a marca japonesa em mercados como o norte-americano ou o chinês, mas não o europeu.

Na Europa a carreira do HR-V tem sido marcada pela… discrição. O “velho continente” é, por norma, um dos mercados mais difíceis de vingar, e num segmento tão saturado como é o dos B-SUV — à volta de duas dezenas de modelos à escolha —, é fácil passar ao lado de várias propostas que poderão ser tão válidas como outras rivais de maior sucesso.

Será que o Honda HR-V está a ser injustamente esquecido pelos europeus… e, mais em particular, pelos portugueses? Altura de descobrir.

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Pouco sex appeal, mas muito prático

Foi o ano passado que chegou a Portugal um renovado HR-V, retocado na estética exterior e no interior com novos bancos dianteiros e novos materiais. O destaque foi todo para a introdução do HR-V Sport equipado com o 1.5 Turbo de 182 cv, que tantas boas recordações deixou quando o testei no Civic, mas não é esse o HR-V que estamos a testar — aqui temos o 1.5 i-VTEC, naturalmente aspirado, na versão Executive, uma das mais bem equipadas.

Pessoalmente não o considero muito apelativo — é como se os designers da Honda tivessem ficado indecisos entre ousar ou agradar a “gregos e troianos”, faltando assertividade no conjunto. No entanto, o que lhe falta em sex appeal, compensa largamente com os seus atributos práticos.

Bancos mágicos
A proximidade técnica com o Jazz permitiu ao HR-V usufruir dos “bancos mágicos”, como lhe chama a Honda. Muito fáceis de usar e agradavelmente úteis. © Thom V. Esveld / Razão Automóvel

Ao derivar da mesma base técnica do mais pequeno Jazz, herdou deste o seu excelente packaging, que lhe garante excelentes cotas de habitabilidade — um dos mais espaçosos do segmento que fariam um pequeno familiar do segmento acima corar de inveja — e muitos bons índices de versatilidade.

Destaque para os 470 l de capacidade da bagageira (quando somamos o espaço por baixo do piso amovível) e para a versatilidade que os “bancos mágicos” — como a Honda os define — permitem. Não temos bancos deslizantes como, por exemplo, no líder Renault Captur, mas esta possibilidade de rebater o assento em direção às costas abre todo um mundo de possibilidades.

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Na primeira fila

Se a segunda fila e bagageira estão entre os mais fortes argumentos competitivos do HR-V, quando na primeira fila essa competitividade desvanece em parte. A principal razão prende-se com a usabilidade encontrada, especialmente quando temos de interagir com o sistema de info-entretenimento e painel da climatização.

Interior do Honda HR-V
Não é o interior mais convidativo de todos — falta alguma cor e harmonia visual. © Thom V. Esveld / Razão Automóvel

E porquê? Onde deviam haver botões físicos — rotativos ou tipo tecla — temos comandos hápticos que acabam por criar alguma frustração no seu uso, comprometendo a usabilidade.  O sistema de info-entretenimento também fica atrás de outras propostas rivais, tanto pelos grafismos algo datados (já o eram quando era novo), como pelo seu uso que podia ser mais intuitivo.

Estas críticas são comuns a vários modelos da Honda, mas temos visto ações por parte da marca japonesa para as corrigir. Os botões físicos começaram a regressar — vimo-lo na renovação do Civic, e também na nova geração do Jazz, que também traz um novo sistema de info-entretenimento. Ficamos sem compreender bem o porquê do HR-V ter recebido uma tão recente atualização e não ser brindado com o mesmo tipo de desenvolvimentos.

Apesar destes pontos menos conseguidos, o interior do Honda HR-V compensa com uma montagem acima da média. Os materiais usados são na sua larga maioria duros, nem sempre os mais agradáveis ao toque — exceção feita aos vários elementos revestidos a pele.

Ao volante

Demorei algum tempo a encontrar uma posição de condução confortável, apesar das amplitudes generosas no movimento do volante e banco, mas encontrei-a. Se o volante revelou-se um item de excelente qualidade — diâmetro e espessura corretas, pele de toque agradável —, já o banco, mesmo sendo confortável q.b., acaba por não ter nem apoio lateral e para as coxas suficiente.

Todo o acerto dinâmico do Honda HR-V está mais orientado para o conforto, caracterizando-se por uma certa suavidade geral no tato dos comandos (não deixam de ser precisos), como também na resposta da suspensão.

Talvez por isso, as irregularidades são, na sua maioria, absorvidas competentemente, contribuindo para o bom nível de conforto a bordo. Consequência dessa “macieza” traduz-se na carroçaria que apresenta algum movimento, mas sem nunca ser excessivo ou descontrolado.

Honda HR-V 1.5
© Thom V. Esveld / Razão Automóvel

Para quem procura propostas no segmento dinamicamente mais apuradas tem outras opções à escolha: Ford Puma, SEAT Arona ou Mazda CX-3 satisfazem mais nesse capítulo. O HR-V revelou ter melhores atributos (dinâmicos) como um confortável estradista, caracterizado por uma convincente estabilidade, mesmo a velocidades elevadas — os ruídos aerodinâmicos são, no entanto, intrusivos, com os de rolamento a estarem melhor suprimidos.

A favor do Honda HR-V temos uma excelente caixa de velocidades manual — das melhores senão a melhor do segmento —, com um tato mecânico e oleado que é um deleite usar — porque não há mais caixas assim? Só peca por apresentar um escalonamento longo — não tão longo como o que encontrei num outro SUV, de segmento acima, o CX-30 —, uma forma de manter os consumos em níveis aceitáveis.

Por falar nos consumos…

… o escalonamento longo da caixa parece funcionar. O 1.5 i-VTEC, naturalmente aspirado, revelou um apetite moderado: ligeiramente acima dos cinco litros (5,1-5,2 l/100 km) a 90 km/h, subindo para algures entre os 7,0-7,2 l/100 km a velocidades de autoestrada. Nas “voltas” urbanas/suburbanas manteve-se nos 7,5 l/100 km, um valor bastante razoável até pelo tipo de utilização a que este motor obriga.

Somos “obrigados” a recorrer mais vezes da (longa) caixa do que seria o esperado e a puxar mais pelas rotações do que num equivalente motor turbo, porque os 155 Nm estão disponíveis apenas a umas elevadas 4600 rpm. Se fosse uma experiência mais agradável, até não o criticaria tanto.

No entanto, o 1.5 i-VTEC é bastante ruidoso quando aumentamos a carga e também mostrou ser um pouco pachorrento a subir de rotação — apesar do limite próximo das 7000 rpm, após as 5000 rpm parecia não valer muito a pena puxar mais por ele.

Parte da culpa deverá estar nos menos de 400 km que apresentava, notando-se algo “preso”. Com mais um par de milhares de quilómetros rodados talvez se mostrasse mais enérgico na sua resposta, mas não seria de esperar um caráter muito diferenciado. Parece-nos que, neste caso, o 1.0 Turbo do Civic seria claramente um melhor par para o HR-V e o uso pretendido.

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É o carro certo para mim?

Apesar de ser algo injusto o esquecimento do mercado ao Honda HR-V, a verdade é que se torna difícil recomendá-lo com este motor 1.5, quando existem concorrentes com motores bem mais agradáveis e elásticos de usar, mais indicados para o seu propósito.

E hoje em dia, o 1.5 i-VTEC é o “único” motor disponível em Portugal para o HR-V — o 1.6 i-DTEC deixou de ser vendido e o excelente 1.5 Turbo encontra-se a uma… “distância social” de 5000 euros, um valor elevado para o considerarmos uma alternativa.

Honda HR-V 1.5
© Thom V. Esveld / Razão Automóvel

Mais difícil de compreender é o facto de a Honda ter em catálogo, há vários anos, um muito apreciado 1.0 Turbo que “encaixaria como uma luva” neste seu modelo — não deveria ter também chegado ao HR-V?

Parece-me que sim… Assim como estava à espera de uma revisão mais detalhada ao interior que melhorasse a sua usabilidade aquando da sua renovação. Tudo aspetos que acabam por prejudicar a apreciação deste modelo. É pena… pois o Honda HR-V é dos B-SUV que encontrei mais indicados para um uso familiar (até por ser aquele que mais aparentar ter um caráter de… MPV), oferecendo excelentes cotas, acessibilidade e versatilidade.

Honda HR-V 1.5
© Thom V. Esveld / Razão Automóvel

Este é um dos segmentos mais concorridos de hoje e ninguém pode dar-se ao luxo de relaxar. As segundas gerações dos “peso-pesados” Renault Captur e Peugeot 2008 elevaram a fasquia do segmento e esvaziaram de argumentos propostas como o HR-V, pois também passaram a oferecer cotas internas mais competitivas, juntando-se aos argumentos mais fortes que já tinham em motorizações ou até… sex appeal.

Testámos o Honda HR-V. Um B-SUV injustamente esquecido?

Honda HR-V 1.5 i-VTEC Executive Connect Navi

6/10

O Honda HR-V parecia ter quase tudo para estar entre os melhores do segmento num uso familiar. Tem um dos interiores mais espaçosos e versáteis, é confortável e, dinamicamente, caracteriza-se por oferecer um bom conjunto de qualidades estradistas. No entanto, o motor destoa — o próprio 1.0 Turbo da Honda teria tudo para ser um melhor parceiro —; e o design do interior, sobretudo na forma como interagimos com ele, está a necessitar de uma revisão. A verdade é que não é difícil encontrar rivais que o superam nestes pontos, sem perder muito ou quase nada para os muito bons aspetos práticos do HR-V.

Prós

  • Cotas internas
  • Bancos "mágicos" garantem versatilidade
  • Tato mecânico/oleado da caixa manual
  • Conforto

Contras

  • Sistema de info-entretenimento
  • Comandos hápticos dificultam utilização
  • Motor ruidoso, com disponibilidade insuficiente

Versão base:€30.500

IUC: €172

Classificação Euro NCAP: 5/5

€31.392

Preço unidade ensaiada

  • Arquitectura:4 cilindros em linha
  • Capacidade: 1498 cm3 cm³
  • Posição:Dianteira Transversal
  • Carregamento: Inj. direta. Admissão variável
  • Distribuição: 2 a.c.c., 4 válvulas/cilindro
  • Potência: 130 cv às 6600 rpm
  • Binário: 155 Nm às 4600 rpm

  • Tracção: Dianteira
  • Caixa de velocidades:  Manual de 6 vel.

  • Comprimento: 4335 mm
  • Largura: 1772 mm
  • Altura: 1605 mm
  • Distância entre os eixos: 2610 mm
  • Bagageira: 470 l (inclui caixa por baixo do piso) até 1533 l
  • Jantes / Pneus: 225/50 R18
  • Peso: 1316 kg

  • Média de consumo: 6,7 l/100 km
  • Emissões CO2: 152 g/km
  • Velocidade máxima: 192 km/h
  • Aceleração máxima: >10,7s

    Tem:

    • Avisador de saída de faixa
    • Limitador inteligente da velocidade
    • Sistema de reconhecimento da sinalização de trânsito
    • Avisador de colisões dianteiras
    • Sistema de Travagem ativa em cidade
    • Sistema de alerta de esvaziamento de pneus (DWS)
    • Sistema de Acesso e Arranque sem Chave
    • Interior Pele e Tecido (Preto)
    • Volante, Punho da alavanca das Mudanças em pele
    • A/C Automático com controlo duplo da climatização
    • Cruise Control com limitador de velocidade
    • Sensor de chuva e de luz
    • Vidros elétricos (dianteiros e traseiros) com função um toque
    • Espelhos das portas com regulação elétrica, aquecimento e retráteis
    • Apoio de braços traseiro
    • Regulação elétrica do apoio lombar do banco do condutor
    • Bancos aquecidos (frente)
    • Honda CONNECT NAVI Garmin e leitor de CD (ecrã tátil de 7" com navegação, AM/FM/DAB, rádio via internet, aplicação Aha TM e navegador de internet)
    • 2 fichas USB/HDMI
    • Vidros traseiros escurecidos
    • Spoiler traseiro à cor da carroçaria
    • Puxadores exteriores das portas cromados
    • Teto de abrir em vidro (panorâmico)
    • Faróis em LED
    • Acendimento dos máximos automático

Pintura metalizada — 550 €
Jantes de 18" — 342 €

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Glórias do Passado. Honda Accord Type R, o mais “adulto” dos Type R