“Primeiro estranha-se, depois entranha-se” poderia ser muito bem o ditado que sintetizaria a minha experiência com o Skoda Kamiq, o B-SUV da marca checa.
“Estranha-se” à primeira porque… bem, olhem para ele; dificilmente ganhará prémios de beleza e, tal como o Scala com quem partilha tanto, parece ficar um pouco em “terra de ninguém” no que toca à sua aparência e proporções.
O que quero dizer com isto? Bem, sabemos que o Kamiq encaixa no segmento dos B-SUV, mas o seu design pouco nos diz de que se trata de um. Ao apresentar-se com uma carroçaria nua de elementos típicos da estética SUV — nem sequer temos as proteções em plástico à volta da carroçaria — o Skoda Kamiq passa mais depressa por um carro convencional, que é apenas um pouco mais alto que a norma.
VÊ TAMBÉM: Testámos o Skoda Scala. TDI ou TSI, eis a questãoNão deixa de ser distinto, é certo, mas a verdade é que entre a miríade de propostas que existem no segmento, talvez seja o Kamiq aquele que menos poder de atração inicial tem.
Porém, como rapidamente descobri, os atributos do Kamiq não se esgotam na sua aparência — bem pelo contrário. O lado pragmático do Kamiq não demora muito tempo a sobressair e, sem darmos conta, já nos encontramos na parte do “entranha-se” que o ditado refere.
Para mais, consegue-o fazer mesmo tratando-se do Kamiq mais barato que podes comprar, ou seja, a versão 1.0 TSI 95 cv Ambition. Talvez por isso, ao ser o mais “básico”, não somos distraídos com detalhes acessórios e focamos-nos apenas nos seus aspetos essenciais… que se revelaram, por norma, bem bons.
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Entre os seus principais argumentos, senão o principal, está o espaço disponível — é uma das referências do segmento. O espaço atrás para pernas e em altura iguala o do maior Skoda Karoq, e só quando tentamos sentar três pessoas atrás é que o Kamiq denuncia ser um mais compacto B-SUV. Dentro do segmento só o Dacia Duster equivale-se nas cotas e o Honda HR-V é o único a conseguir mais espaço para pernas.
Não se fica pelo espaço. Ao contrário da maioria das propostas do segmento, os passageiros traseiros são brindados ainda com janelas altas, a permitir uma excelente visibilidade para o exterior; e temos saídas de ventilação — na versão de acesso…
Peca apenas por não ter maior flexibilidade nas soluções. Por exemplo, o banco traseiro não desliza longitudinalmente como no “primo” Volkswagen T-Cross ou no Renault Captur.
Déjà vu…
Saltando para a primeira fila a sensação é de elevada familiaridade. A estreita proximidade com o Scala não podia ser mais evidente do que quando olhamos para o tabliê, pois é exatamente o mesmo.
Não é o desenho mais apaixonante, mas é inofensivo e não incomoda. Nada a apontar, no entanto, à disposição lógica dos vários elementos e à correta ergonomia dos comandos disponíveis. Não se perde muito tempo a aprender a “navegar” neste interior.
Pode ser a versão de acesso, mas neste, como é comum nos Skoda, “respira-se” robustez. A montagem é sólida, e apesar de não faltarem materiais duros e pouco agradáveis ao toque espalhados pelo habitáculo, nos principais pontos de contacto temos sempre materiais mais cuidados, de tato mais agradável.
No entanto, alguns aspetos da sua utilização necessitam de revisão — não são assim tão simply clever…
Por um lado, temos práticos e acessíveis comandos físicos para controlar o ar condicionado… Bem, para controlar algumas funções do ar condicionado. Só permitem selecionar o modo Auto e temperatura, basicamente. Se pretenderem ajustar a velocidade da ventilação têm de carregar em “Menu” e fazê-lo no… sistema de infoentretenimento.
O mesmo acontece com a ativação/desativação dos assistentes à condução. Queres desligar o “chato” do sistema de manutenção da faixa de rodagem (Lane Assist)? Não existe um botão para isso. A forma mais fácil de o fazer consiste em aceder a um menu presente no computador de bordo no painel de instrumentos… e temos de o fazer sempre que ligamos o carro, pois não memoriza a nossa escolha.
Ao volante
O pragmatismo do Skoda Kamiq sente-se também ao seu volante. Não deve haver B-SUV com melhor visibilidade, uma “arte” algo esquecida nos dias de hoje, sendo uma das críticas mais recorrentes que faço não só aos rivais, como a muitos outros automóveis.
À muito boa visibilidade junta-se um raio de viragem também muito bom mesmo, tornando a condução urbana e o efetuar das manobras mais apertadas uma brincadeira de crianças — não há câmara traseira, mas os sensores atrás são mais que suficientes.
Sentados ao volante, facilmente encontramos uma boa posição de condução — não tão alta como noutros B-SUV… Até neste ponto, o Kamiq afasta-se dos rivais, aproximando-se mais do típico carro. Destaque para a presença de ajuste de apoio lombar no banco do condutor, algo raro de encontrar, para mais na versão mais acessível. Por outro lado, o arranque é ainda feito com chave e não um botão.
Em andamento, o Skoda Kamiq revelou-se bastante confortável — um Renault Captur ou um Peugeot 2008 talvez o sejam mais, mas não muito mais —, mas conjuga essa faceta com uma agradável precisão dinâmica e movimentos da carroçaria contidos.
Se aumentarmos o ritmo não entretém como o “primo” SEAT Arona, ou os rivais Ford Puma e Hyundai Kauai, mas também não entedia. Além de que é senhor de maior compostura que, por exemplo, os modelos gauleses em estradas mais enroladas e degradadas.
As muito boas aptidões familiares são reforçadas pelas suas qualidades estradistas, com a estabilidade em alta, assim como refinamento geral acima da média. A insonorização do habitáculo não é referencial, mas também não compromete, com os ruídos de rolamento, mecânicos e aerodinâmicos bem contidos.
VÊ TAMBÉM: Uma semana ao volante do novo e exclusivamente elétrico Kia e-SoulNúmeros não lhe fazem justiça
Os modestos números que vemos na ficha técnica não fazem justiça ao 1.0 TSI de 95 cv. O mil de três cilindros turbo do Grupo Volkswagen continua a ser uma das melhores unidades do género no mercado (independentemente do nível de potência).
Não só demonstra um saudável “nervosismo”, muito boa disponibilidade e um confortável à vontade nos regimes mais elevados, como também tem um nível de refinamento convincente no seu trato, mais refinado do que, por exemplo, o 1.0 EcoBoost da Ford — apesar disso, o EcoBoost ganha a minha preferência por ser ainda mais… “efervescente”.
A caixa manual de cinco velocidades também ajuda: o escalonamento está bem ajustado à disponibilidade do motor e o seu tato é positivamente mecânico. Só se lamenta que o curso não seja mais curto, assim como o do pedal da embraiagem.
Além do mais revelou um apetite, por norma, contido. A ritmos moderados e estabilizados (90 km/h) os consumos ficaram-se pelos 4,2-4,3 l/100 km, subindo para os 6,8 l/100 km em autoestrada. Sem surpresas, é na cidade que revela o maior apetite, com os consumos a oscilarem entre os 7,5 l/100 km e os 8,0 l/100 km.
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Tal como o Scala parece ser o elo perdido entre o carro e a carrinha, também o Kamiq parece ser o elo perdido entre o carro e o SUV. No entanto, não há dúvidas sobre o seu pragmatismo e positiva homonegeidade, sendo um dos B-SUV melhor conseguidos para um uso familiar.
Mesmo tratando-se do degrau de acesso à gama, o Skoda Kamiq 1.0 TSI 95 cv Ambition cumpre eficazmente esse papel, revelando-se bastante completo. As outras versões, mais caras, encantam mais ao virem com outros equipamentos e até performance, mas quase parecem ser uma extravagância.
Porém, talvez a maior ameaça ao Kamiq não sejam os seus “primos” e rivais no universo B-SUV, mas sim, precisamente o… Scala, com o qual partilha tanto.
Porquê? Os B-SUV adicionam aos utilitários dos quais derivam espaço, versatilidade e praticabilidade — superam, em alguns casos, até os familiares do segmento C, um patamar acima. Algo que também podemos “acusar” em parte o Skoda Kamiq de o fazer, caso o comparemos com o Fabia.
Mas dado a proximidade estreita entre o Kamiq e o Scala (segmento C) — partilham mecânicas, equipamentos e também o interior —, é impossível não os confrontar, para mais ao apresentarem preços idênticos — ambos começam pouco acima dos 21 mil euros, e com as campanhas que decorrem, a prometer ficar abaixo dos 20 mil euros.
E é o Scala que, do meu ponto de vista, está em vantagem.
Faz tudo o que o Kamiq faz, mas é superior dinamicamente (está tudo mais próximo do solo) e oferece ainda mais espaço para passageiros e bagagens, consequência dos 12 cm adicionais em comprimento (o Scala é uma das referências do segmento C em habitabilidade).
Um facto que coloca o Skoda Kamiq, numa posição peculiar no universo B-SUV.
Skoda Kamiq 1.0 TSI 95 cv Ambition
Não é o modelo do segmento com a aparência mais atrativa, mas é definitivamente uma das melhores propostas para quem necessita de fazer um uso familiar mais intenso. Mesmo sendo o mais acessível dos Skoda Kamiq, este convence pelas suas soluções maioritariamente pragmáticas de usabilidade, espaço disponível e até pelo efervescente motor, apesar dos números modestos. Tal como o Scala do qual deriva, além das cotas internas, não se destaca particularmente em nenhum parâmetro, mas convence pela coesão do conjunto, sendo, provavelmente, a mais pragmática proposta do segmento.
Prós
- Visibilidade
- Espaço atrás referencial
- Motor enérgico
- Manobrabilidade
- Binómio conforto/comportamento
Contras
- Curso longo da caixa de velocidades e pedal da embraiagem
- Espaço não falta, mas podia oferecer soluções mais flexíveis
- Detalhes na usabilidade
Versão base:€21.680
IUC: €103
Classificação Euro NCAP:
€22.365
Preço unidade ensaiada
- Arquitectura:3 cilindros em linha
- Capacidade: 999 cm3 cm³
- Posição:Dianteira Transversal
- Carregamento: Inj. Direta, Turbo e Intercooler
- Distribuição: 2 a.c.c.; 4 válv./cil.
- Potência: 95 cv entre as 5000-5500 rpm
- Binário: 175 Nm entre as 2000-3500 rpm
- Tracção: Dianteira
- Caixa de velocidades: Manual de 5 velocidades
- Comprimento: 4241 mm
- Largura: 1793 mm
- Altura: 1531 mm
- Distância entre os eixos: 2651 mm
- Bagageira: 400-1395 l
- Jantes / Pneus: 205/55 R17
- Peso: 1214-1291 kg
- Média de consumo: 5,7 l/100 km
- Emissões CO2: 129 g/km
- Velocidade máxima: 181 km/h
- Aceleração máxima: >11,1s
- Faróis LED, com função cornering
- Faróis traseiros LED
- Front Assist - com sistema de travagem de emergência
- Lane Assist
- Cruise Control + Speedlimiter
- Apoio de braços dianteiro com Jumbo BOX
- Inserções decorativas Grained Black
- Jantes de liga leve 16" Hoedus Aero
- Pneu sobressalente
- Ar condicionado Climatronic
- Hill Hold control
- Keyless Go
- Sistema de Infotainment com rádio Bolero, ecrã de 8,25"; navegação Amundsen
- Bluetooth
- Wired & Wireless SmartLink
- Volante multifunções em pele
- Bancos dianteiros com apoio lombar ajustável
- Monitorização da pressão dos pneus
- Sensor de parqueamento traseiro
- Sensor de luz e chuva
- Computador de bordo Maxidot
- Vidros elétricos à frente e atrás
- Espelhos retrovisores exteriores elétricos e aquecidos
- 8 altifalantes
- Chapéu de chuva
Tem:
Jantes de liga leve 17" Propus Aero, polido — 185 €
Pintura metalizada — 500 €
1 comentário
Este é o Skoda Kamiq mais barato que podes comprar. Será preciso mais?
O Skoda Kamiq 1.0 TSI 95 cv Ambition é o degrau de acesso à gama do B-SUV da marca checa. Será que é preciso mais? Fica a saber nas próximas linhas.
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