Como o programa de apresentação internacional à imprensa do Citroën Ami foi cancelado devido à covid-19, a marca francesa levou o carro até alguns dos principais mercados europeus e convidou jornalistas para o guiarem no seu habitat natural: cidades lotadas com poucos lugares de estacionamento.
Neste caso, causou um grande impacto com os “berlinenses”, que mostraram uma tendência generalizada para sorrir ao verem o cubo elétrico a rolar: “É tãããão giro!”, foi o comentário de duas estudantes adolescentes quando o Citroën que quer ajudar a responder aos problemas de mobilidade urbana do século XXI passou lentamente à sua frente.
Em movimento puramente elétrico, claro, mas com apenas 8 cv e uma velocidade máxima de 45 km/h, o que significa que é homologado na Europa como um veículo L6e ou um “quadriciclo ligeiro”. A mesma categoria do Renault Twizy e do eAixam, que permite ser conduzido por adolescentes de 14 ou 16 anos, dependendo do país, após obterem a devida qualificação por meio do mesmo teste utilizado para motociclos de 50 cm3.
7000 euros ou 19,99 €/mês (x48)
A ideia de um Isetta elétrico francês tem o seu charme. Realmente acessível — cerca de 7000 euros ou leasing mensal de 19,99 €/mês —, é sempre vendido online e pode ser recolhido numa loja Fnac perto de si.
É extremamente manobrável: com 2,41 m de comprimento, o Ami é 28 cm mais curto e 27 cm mais estreito do que o atual Smart Fortwo e tem um diâmetro de viragem de 7,20 m, o que vale ouro numa cidade como Berlim. Mesmo não sendo tão bom como o Smart Fortwo nesse aspeto, que é capaz de dar uma volta de 360º em menos 25 cm — motor atrás permite que as rodas dianteiras virem ainda mais. O carro alemão, no entanto, não é comparável, porque tem valências muito superiores e custa quase quatro vezes mais.
É uma espécie de cubo de polipropileno sobre rodas, totalmente simétrico por fora (em algumas situações, será preciso olhar uma segunda vez para saber se o carro está a aproximar-se ou a afastar-se). Isto significa que os painéis da carroçaria são iguais à frente e atrás, assim como as portas laterais, e é por isso que são montadas ao contrário. O condutor tem uma “porta suicida” — articulada na parte traseira — e o passageiro, uma porta normal.
O efeito que causa é divertido, mas a explicação para esta solução não é nenhum efeito cénico quando as pessoas entram e saem, tratando-se antes de uma solução para tornar a produção e o custo geral o mais barato possível, o que levou também a determinar que existe apenas uma cor de carroçaria disponível (a que vê nas fotos). Quem quiser um pouco de personalização deve pedir à Citroën para lhe enviar uma caixa de elementos decorativos que podem ser aplicados por dentro e por fora — a sério, os funcionários da Citroën na fábrica marroquina em Kenitra não têm tempo fazer carros sob medida.
O que o torna mais adorável é o cruzamento de genes do Ami original (um 2 CV melhorado produzido 1,8 milhões de vezes entre 1961 e 1978), com os de uma carripana da cidade do Noddy e os de um carro desenhado por uma criança de quatro anos.
É impulsionado pelo referido motor de 8 cv (instalado na frente, ligado a uma “transmissão” de uma relação por uma correia que envia a força às rodas dianteiras) que é alimentado por uma bateria de iões de lítio de 5,5 kWh, montada na traseira. A autonomia é limitada a 70 km (de acordo com WTMA, o Ciclo de Teste Mundial de Motociclos) e a bateria leva três horas a carregar numa tomada doméstica comum.
O chassis é um amontoado de perfis de aço quadrados e retangulares acima dos quais ficam as partes de plástico do interior e da carroçaria. Ao todo, são pouco menos de 250 peças neste veículo simplista que pesa 485 kg, baterias incluídas (60 kg a menos sem elas).
VÊ TAMBÉM: Mais um “novo” Isetta? Este vem da Alemanha e vai custar cerca de 20 mil eurosUm mundo de simplicidade
Para guiar o Citroën Ami, é melhor esquecer quase tudo o que sabe e até mesmo aquilo que toma como certo num automóvel, mesmo em assuntos de conforto residual e equipamentos de segurança. Pronto? Ok… Então o Ami não tem ar condicionado, fecho centralizado de portas, airbag, ABS, luzes de máximos, espelho retrovisor interior (olhe para trás por cima do ombro), rádio, navegação (use o Google Maps do seu telemóvel para isso), porta-bagagens ou vidros elétricos (não se podem subir ou descer, apenas abrir a metade inferior e virá-la para cima, à imagem do 2 CV).
Agora que sabemos o que (não) esperar é hora de entrar no carro. Ambos os bancos são estruturas de plástico muito básicas, com uma almofada no assento e outra nas costas, e nem isso no encosto de cabeça — onde bates com a nuca repetidas vezes até porque quase não há capacidade de amortecimento nesta “suspensão”.
O banco do passageiro é fixo e está chegado o mais atrás possível para que haja espaço para uma pequena mala de cabina de avião aos pés. E isso, com alguns outros espaços de armazenamento mais pequenos, é tudo o que existe para colocar bagagem.
O condutor tem mais sorte e o seu assento move-se para a frente e para trás para que seja mais fácil chegar a uma posição de condução adequada. A coluna de direção fixa integra o painel de instrumentos monocromático e simples, que apenas mostra a velocidade, o nível da bateria (autonomia restante) e a posição da transmissão — Drive (andar para a frente), Neutral (ponto-morto) ou Reverse (marcha-atrás) à esquerda do assento do condutor, no piso do carro. E a qualidade dos plásticos combina com toda esta simplicidade.
Nesta altura já terás notado que o espaço em altura é bastante generoso, mesmo para pessoas com 1,90 m, mas a largura desaconselha a que dois ocupantes anafaditos usem o carro ao mesmo tempo: 114 cm de largura interior significa 16 cm menos do que dentro de um Smart Fortwo ou 23 cm menos do que um Volkswagen up!. É bom aceitar a ideia de, ocasionalmente, esfregar o cotovelo com o parceiro de viagem. Como se não estivéssemos todos fartos do aperto de mão desta era covid-19…
Seria bom ter mais alguns comentários positivos, certo? Vamos a isso. O habitáculo liliputiano fica inundado de luz pelas amplas janelas, o pára-brisas totalmente vertical também ajuda a ter uma boa visão do mundo exterior e o teto panorâmico é um dos poucos luxos do Ami. Porém, por mais agradável que seja este aquário inundado de luz, quando o sol incide diretamente, a instrumentação de aspeto datado é difícil de ler.
VÊ TAMBÉM: Razão vs emoção. Testámos o elétrico Honda EAr muito condicionado
Um dos três botões no painel de bordo é o que deves pressionar para desembaciar o para-brisas, mas funciona apenas com uma velocidade, muito ruidosa, talvez para lhe fazer companhia, já que não há rádio, e há apenas uma pequena ranhura através da qual o ar é lançado, o que quer dizer que não chega para toda a superfície do pára-brisas. E é melhor não reclamar porque a janela traseira não tem como ser desembaciada — usemos essa essa energia para pegar num pano e a limpar…
Em países mais quentes ou dias de verão o interior do Ami aquece rapidamente e pode ser que as janelas dobráveis não forneçam ventilação suficiente (cuidado para não bater nos espelhos retrovisores exteriores, dos anos 60, quando as abrir ou fechar).
Uma coisa que este mini-carro de dois lugares tem mais do que qualquer outro automóvel moderno é o número de chaves. Uma para abrir a porta e outra para ligar o motor. Bata a porta (com um som muito cru), solte a grande alavanca do travão de mão, pise no acelerador e… desfrute a viagem!
Um elétrico menos silencioso
Após os primeiros quilómetros, estamos certos de que a Citroën dispensou qualquer isolamento acústico acabando com a ideia de que qualquer carro elétrico é silencioso. Não é. Vento, suspensão (ok… parecido…), pneus e motor, tudo o que se move produz ruídos que podem dar a ideia de estar a viajar sentado numa nave espacial da Guerra das Estrelas; tudo em alto e bom som.
Mas estando o motor na frente e a bateria atrás, o Citroën Ami tem uma distribuição equilibrada de massas e isso é útil porque (a par da velocidade máxima muito baixa) ajuda a evitar qualquer tendência para subvirar em curvas. A reduzida potência e binário é igualmente fundamental para evitar que os pneus patinem ao pisar no acelerador, o que pode acontecer em carros elétricos nos quais o quase sempre elevado binário é entregue de uma assentada.
O mesmo pode ser dito sobre a travagem: como não há ABS, é bom que não se possa exceder os 45 km/h. O volante faz o que deve fazer — gira as rodas e envia o Ami na direção pretendida — e nem é preciso dizer que não há assistência, mas como os pneus são tão finos, não vem mal ao mundo por aqui.
É bom que o Citroën Ami possa ser totalmente carregado em qualquer tomada doméstica de 220 V em cerca de três horas (não é possível fazê-lo numa estação de carga, pelo menos enquanto não existir o adaptador prometido para o futuro). Por outro lado, é desagradável que o cabo de carregamento, que está alojado num compartimento atrás da porta do passageiro, não se enrole sozinho como se fosse um aspirador, sendo preciso empurrá-lo para dentro de seu espaço com a mão. É pena que a bateria não possa ser retirada do carro, visto que nem toda a gente tem uma tomada em frente de casa ou na garagem.
Especificações técnicas
Citroën Ami | |
---|---|
Motor elétrico | |
Posição | Dianteira transversal |
Tipo | Síncrono (imã permanente) |
Potência | 8 cv (6 kW) |
Binário | N.D. |
Bateria | |
Tipo | Iões de lítio |
Capacidade | 5,5 kWh |
Peso | 60 kg |
Transmissão | |
Tração | Traseira |
Caixa de velocidades | Caixa redutora (1 vel.) |
Chassis | |
Suspensão | FR: Independente, MacPherson; TR: Eixo de torção |
Travões | FR: Discos; TR: Tambores |
Direção | Não assistida |
Diâmetro de viragem | 7,2 m |
Dimensões e Capacidades | |
Comp. x Larg. x Alt. | 2410 mm x 1395 mm x 1520 mm |
Distância entre eixos | N.D. |
Capacidade da mala | Não tem |
Rodas | 155/65 R14 |
Peso | 485 kg (DIN) |
Prestações e consumos | |
Velocidade máxima | 45 km/h (eletronicamente limitada) |
0-45 km/h | 10s |
Consumo combinado | 119 Wh/km |
Emissões CO2 | 0 g/km |
Autonomia combinada | 70 km (ciclo WMTA) |
Autores: Joaquim Oliveira/Press-Inform
Parece de brincar, mas é a sério. Já conduzimos o Citroën Ami
Primeiras impressões
Data de comercialização: Abril 2021
Prós
- Preço
- Manobrabilidade
- Interior luminoso
Contras
- Conforto geral
- Equipamento
- Velocidade limitada (45 km/h)
Sem comentários
Parece de brincar, mas é a sério. Já conduzimos o Citroën Ami
O Citroën Ami chega a Portugal em abril com um triplo regresso ao passado: pela sua simplicidade tecnológica, preço e pela vénia que faz ao Ami original. Já guiámos o acessível citadino elétrico de 8 cv e com 70 km de autonomia.
Consulte, antes de comentar, a informação legal e os nossos termos e condições aqui
Este artigo ainda não tem comentários.
Seja o primeiro a partilhar uma opinião.