Notícias Das jantes aos catalisadores. É assim que estão a roubar carros em Portugal

Reportagem

Das jantes aos catalisadores. É assim que estão a roubar carros em Portugal

Nos primeiros quatro meses do ano o roubo de catalisadores em Portugal teve um aumento. Onde, como e porque é que estão a roubar mais carros em Portugal.

Mercedes-Benz roubo peças
Página de Facebook Autoroubo

As imagens partilhadas nesta reportagem foram publicadas com o consentimento dos proprietários dos veículos, garantindo o anonimato dos mesmos.

É inevitável. Um dos maiores receios dos automobilistas é o roubo do automóvel. “Onde está o meu carro? Foi roubado!”. É uma ameaça latente, que não escolhe marcas nem modelos, dos utilitários aos desportivos. Nenhum carro está a salvo dos «amigos do alheio».

De acordo com os últimos dados das autoridades, esta atividade criminosa está a crescer no nosso país. Não só o furto integral das viaturas, mas também o furto específico de peças e componentes, como comprovam as notícias e as constantes partilhas de utilizadores nas redes sociais.

A Razão Automóvel contactou a Guarda Nacional Republicana e algumas vítimas do roubo de carros em Portugal, para entender onde, como e porque é que estão a roubar carros no nosso país.

O roubo dos catalisadores está a crescer. Porquê?

Na “mira” dos ladrões estão vários componentes, mas há um que se tem destacado nos últimos tempos: os catalisadores. Produzidos com recurso a metais raros especialmente valiosos como o ródio, o paládio ou a platina, os catalisadores têm sido o componente predileto dos ladrões de carros. Um aumento que está diretamente relacionado com a escalada de preço destes metais no mercado.

Ouro, prata e platina são os metais mais conhecidos, mas o ródio é o mais precioso de todos. Pode nunca ter ouvido falar deste metal, mas é um dos metais que pode encontrar no catalisador do seu carro.

catalisadores portugal
De acordo com o Comando Territorial da GNR de Setúbal, só no período de 1 de janeiro de 2021 a 13 de abril a 2021, foram registadas 64 ocorrências.

Em 2014 cada onça de ródio (28,35 gr) custava cerca de 872 euros. Hoje os valores são totalmente diferentes: cada onça de ródio vale mais de 20.000 euros, ou seja, mais de 700 euros por cada grama deste metal precioso.

Em contraste, o paládio tem um valor de 85 euros por grama (2 400 dólares por onça). O curioso é que, há cinco anos, um grama de paládio custava 15 euros, cinco a seis vezes menos do que o seu valor atual. Por fim, a platina custa agora 36 euros por grama (970 dólares por onça).

Valores que, somados, significam que um catalisador roubado e desmantelado no «mercado negro» pode valer mais de 300 euros.

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O caso português

Para perceber como se tem desenvolvido este tipo de criminalidade em Portugal contactámos a Guarda Nacional Republicana (GNR) e, infelizmente, os números apresentados não deixam margem para dúvidas: o furto de catalisadores está a crescer um pouco por todo o país.

Senão vejamos: enquanto que ao longo de todo o ano de 2020 a GNR registou 103 ocorrências de furtos de catalisadores, em 2021, e só até ao dia 1 de maio, o número de ocorrências registadas já ascendia a 221.

Ou seja, comparando com o período homologo de 2020 (1 de janeiro a 1 de maio), houve em 2021 um aumento de 2600% no furto de catalisadores.

Quanto aos distritos mais afetados por este tipo de criminalidade, sem grande surpresa, surgem alguns dos mais populosos do país, com especial destaque para Lisboa, Porto e Setúbal, com este último a liderar a tabela — tanto em 2020 (32 ocorrências) como em 2021 (82 ocorrências até o dia 1 de maio).

Furto de Catalisadores
Distrito N.º ocorrências em 2020 (total) N.º ocorrências em 2021
(até 1 de maio)
Aveiro 10 8
Beja 1 2
Braga 2 6
Bragança 1 2
Castelo Branco 2 0
Coimbra 6 8
Évora 2 7
Faro 9 16
Guarda 0 1
Leiria 8 8
Lisboa 16 38
Portalegre 0 1
Porto 6 20
Santarém 7 15
Setúbal 32 82
Viana Do Castelo 0 1
Vila Real 0 3
Viseu 1 3
Total 103 221

Fonte: Guarda Nacional Republicana.
No campo do combate a este tipo de crime, a GNR informou-nos que em 2020 deteve seis pessoas relacionadas com o furto de catalisadores, sendo que em 2021 (e à data do nosso contacto) já tinha efetuado cinco detenções  assumindo estar “particularmente atenta a este fenómeno criminal, o qual sofreu um aumento face ao ano anterior”.

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modus operandi

A GNR explicou-nos ainda como é que o roubo dos catalisadores é efetuado, havendo vários métodos para o fazer. No método mais comum “os suspeitos colocam-se debaixo da viatura e procedem ao corte do catalisador recorrendo a um equipamento de corte, por exemplo uma rebarbadora elétrica”.

Já outro modo de atuação implica o roubo efetivo do carro, levando-o para um local isolado onde depois se procede à retirada do catalisador. Por fim, a GNR refere ainda que também foram participadas ocorrências nas quais os suspeitos entraram em armazéns com vários veículos estacionados para furtarem os catalisadores.

Furto de Catalisadores
Meses N.º ocorrências em 2020 N.º ocorrências em 2021
(até 1 de maio)
Janeiro 1 30
Fevereiro 1 32
Março 1 65
Abril 5 89
Maio 6
Junho 3
Julho 4
Agosto 4
Setembro 10
Outubro 17
Novembro 30
Dezembro 21

Fonte: Guarda Nacional Republicana.

Os outros alvos

Apesar de serem o alvo mais valioso, os catalisadores não são o único componente furtado. Talvez o componente cujo furto é mais visível (e fácil) são as jantes do veículo, não sendo incomum encontrar carros em cima de blocos, pedras ou até de tripés, sem as jantes.

Outros componentes muito “procurados” são os volantes, manetes das mudanças e também os ecrãs e painéis de instrumentos digitais. Além destes há também registos de roubos de faróis, baterias, tabliês, para-choques e até de bancos e portas.

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Segundo os dados disponibilizados pela GNR, em 2020 foram registadas 8035 ocorrências de furtos em veículos. Destas, 573 referiam-se ao furto de jantes e chapas de matrículas. Em 2021 (até ao dia 1 de maio) foram registadas 2010 ocorrências, 193 envolvendo furtos de jantes e chapas de matrículas.

Quanto à atuação das forças de segurança, em 2020 a GNR deteve 37 pessoas relacionadas com este tipo de crime e em 2021 já contabilizou oito detenções.

Roubo de carros «às peças» está a aumentar. Porquê?

O aumento do roubo de componentes dos automóveis está a aumentar. Uma das justificações avançadas para este fenómeno, prende-se com a melhoria dos sistemas de imobilização dos carros mais modernos.

catalisadores
Em 2020, numa operação denominada “Drive In”, a GNR desmantelou um rede organizada de roubo de viaturas. O valor estimado do material apreendido superava os 500 mil euros.

Sem possibilidade de colocar em funcionamento o motor das viaturas, tem-se assistido ao desmantelamento parcial dos automóveis nos lugares de estacionamento. Bancos, volantes, portas, sistemas de infotainment, jantes e até faróis.

Componentes que são de fácil desmontagem — com as ferramentas certas — e cujo valor no mercado negro é bastante apetecível e a proveniência difícil de detetar.

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O que fazer?

Infelizmente, não há muito que se possa fazer para impedir este tipo de furtos. Contudo, há algumas medidas que podem ser tomadas para atenuar o risco destes acontecerem. Para começar, sempre que possível, estacionar o carro numa garagem ou parque privado.

catalisadores Honda Civic interior roubo
Não parece, mas o carro que estão a ver é um Honda Civic. O interior foi totalmente desmontado. Página de Facebook Autoroubo

Além disso, também é aconselhável não deixar o carro muito tempo parado no mesmo lugar e evitar estacionar o carro em locais mais escondidos ou mal iluminados. O “velho” alarme pode também servir de elemento dissuasor tal como, no caso do roubo de jantes, a instalação de porcas de segurança.

Já da parte da GNR, o conselho é de que, caso alguém se depare com uma situação de furto de catalisadores ou de peças, entre em contacto com as autoridades o mais depressa possível e que até à chegada destas, tente recolher o maior número possível de elementos e de informações que possam levar à identificação dos suspeitos.

Fonte: Guarda Nacional Republicana

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