Notícias Entrevistámos os diretores da Toyota GR Europe: “Corremos para testar novas tecnologias”

Entrevista

Entrevistámos os diretores da Toyota GR Europe: “Corremos para testar novas tecnologias”

Para descobrir os desafios enfrentados por uma equipa como a Toyota Gazoo Racing, estivemos à conversa com o diretor da equipa e o seu diretor técnico.

Toyota GR010 Hybrid_1

A disputar a sua 100ª prova no Campeonato do Mundo de Resistência (WEC), as 8 Horas de Portimão revestiram-se de especial importância para a Toyota. Por isso mesmo, fomos tentar descobrir os desafios enfrentados pela equipa nipónica num ano no qual os novos regulamentos dos Hypercar se tornaram o “centro das atenções”.

Para o fazer nada melhor que falar com dois dos maiores responsáveis pelas operações da Toyota Gazoo Racing Europe no mundial de resistência: Rob Leupen, o diretor da equipa, e Pascal Vasselon, o seu diretor técnico.

Desde a sua posição em relação aos novos regulamentos até à sua opinião sobre o circuito algarvio, passando pelos desafios que a equipa vai enfrentar, os dois responsáveis da Toyota Gazoo Racing Europe “abriram-nos” um pouco a porta para “espreitar-mos” para o mundo do Campeonato do Mundo de Resistência.

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Toyota GR010 Hybrid
Em Portimão o GR010 Hybrid assegurou a 32ª vitória da história da Toyota no WEC.

Novo foco? A poupança

Razão Automóvel (RA) — Quão importante é para a Toyota correr?
Rob Leupen (RL) — É muito importante. Para nós é uma combinação de fatores: a formação, a descoberta e testagem de novas tecnologias, e a apresentação da marca Toyota.

RA — Como lidam com os novos regulamentos? Consideram-nos um retrocesso?
RL — Para os engenheiros e para todos aqueles que gostam de desportos motorizados, cada novo regulamento é um desafio. Do ponto de vista de custos, sim, pode ser um retrocesso. Mas do ponto de vista da engenharia, e após um a dois anos de novos regulamentos, estamos mais capazes de olhar para novas tecnologias. Não é uma questão de construir um novo carro a cada época, mas sim de otimizá-lo e de otimizar também a performance da equipa. Por outro lado, estamos a olhar para outras opções no futuro, como por exemplo, o hidrogénio. Também nos estamos a focar em adotar uma abordagem mais ‘consciente’ a nível de custos, sem descurar no elevado grau de tecnologia, com carros mais competitivos num ambiente igualmente competitivo. E, claro, temos de preparar 2022 para a chegada de marcas como a Peugeot ou a Ferrari; ou na categoria LMDh, com a Porsche e a Audi. Vai ser um grande desafio e um grande campeonato, com grandes marcas a competir entre si ao mais alto nível do desporto automóvel.

RA — Relativamente ao desenvolvimento do carro, existe algum objetivo em concreto a ser alcançado entre o início e o fim da época?
Pascal Vasselon (PV) — Os regulamentos “congelam” os carros, isto é, os Hypercars, assim que são homologados, ficam “congelados” durante cinco anos. É importante frisar que esta categoria não privilegia o desenvolvimento. Existe algum desenvolvimento, por exemplo, nas configurações do carro. Se uma equipa estiver com problemas na fiabilidade, na segurança ou na performance, pode usar “tokens” ou “fichas” para poder desenvolver. Contudo, o pedido tem de ser avaliado pela FIA. Já não estamos numa situação da LMP1, em que todas as equipas vão progredindo. Atualmente, quando queremos desenvolver o carro precisamos de uma forte justificação e da aprovação da FIA. É uma dinâmica completamente diferente.

Rob Leupen
Rob Leupen, ao centro, está na Toyota desde 1995.
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RA — Acham que os novos regulamentos podem ajudar a criar carros mais semelhantes aos carros convencionais? E podemos nós, consumidores, beneficiar deste “encurtar” do fosso tecnológico?
RL — Sim, já o estamos a fazer. Vemos isso aqui através da tecnologia do TS050, através da melhoria da fiabilidade do sistema híbrido, da sua eficiência, e isso está a chegar passo a passo aos carros de estrada. Vimos isso, por exemplo, no último Super Taikyu Series, no Japão, com um Corolla de motor de combustão alimentado a hidrogénio. É tecnologia que chega ao público através do desporto automóvel e que pode contribuir para a sociedade e para o ambiente. Por exemplo, já conseguimos reduzir significativamente os consumos de combustível ao mesmo tempo que aumentamos a performance.

RA — Em campeonatos como o WEC, que requerem grande espírito de equipa, é difícil gerir os egos dos pilotos?
RL — Para nós é simples, aqueles que não são capazes de se integrar na equipa não podem correr. Cada um tem de chegar a um compromisso: o de o carro que conduzem ser o mais rápido em pista. E isso significa que, se tiverem um grande ego e só pensarem em si, se não forem capazes de trabalhar com os companheiros, vão “bloquear” a equipa, inclusive engenheiros e mecânicos. Por isso, entrar com mentalidade de “eu sou a grande estrela, eu faço tudo sozinho” não funciona. É preciso saber partilhar.

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Portimão, um circuito único na Europa

RA — Portimão é um dos poucos circuitos onde podem testar de noite. Existe outra razão pela qual vieram cá?
PV — Inicialmente vínhamos a Portimão porque a pista era muito acidentada e era o “nosso” Sebring. Vínhamos apenas para testar a suspensão e o chassis. Além disso, era muito mais barato do que o circuito americano. Agora a pista foi repavimentada, mas continuamos a vir porque é um circuito interessante.

Pascal Vasselon
Pascal Vasselon, à esquerda, ingressou nos quadros da Toyota em 2005 e hoje é o diretor técnico da Toyota Gazoo Racing Europe.
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RA — E o facto de já cá terem estado pode ser uma vantagem face às outras equipas?
PV — É sempre positivo pois já testámos a pista, mas não acho que seja uma grande vantagem.

RA — A Toyota já anunciou que o próximo passo será a eletrificação total. Isso significa que, no futuro, vamos ver a Toyota abandonar a WEC e entrar num campeonato exclusivamente elétrico?
RL — Não acredito que isso aconteça. Quando falamos em carros totalmente elétricos falamos num determinando contexto, normalmente urbano, onde podemos ter um carro mais pequeno ou com um alcance de quilómetros mais reduzido. Penso que é preciso uma combinação de tudo: 100% elétricos na cidade, puro combustível em países ou áreas onde não existe acesso a eletricidade ou hidrogénio para grandes veículos, como autocarros ou camiões . Não nos podemos focar numa só tecnologia. Acredito que no futuro as cidades caminhem cada vez mais para a eletrificação, que nas zonas rurais se aposte numa combinação de tecnologias e que surjam novos tipos de combustíveis.

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