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UE quer fim dos motores de combustão em 2035. Renault quer adiar para 2040

O Grupo Renault diz que a proposta da UE para acabar com os motores de combustão em 2035 é um prazo curto para tudo o que isso implica.

Renault 5 Prototype
© Guilherme Costa / Razão Automóvel

Foi durante o Salão de Munique que Gilles Le Borgne, diretor de Pesquisa e Desenvolvimento no Grupo Renault e até Luca de Meo, o diretor executivo do Grupo Renault, expressaram o seu desacordo com a data proposta pela União Europeia em pôr um fim aos motores de combustão interna em 2035.

A proposta da UE não refere, efetivamente, o fim do motor de combustão interna, mas impõe uma meta de redução das emissões de CO2 em 100% para todos os veículos novos, o que é o mesmo que dizer que não vai haver espaço para o motor de combustão interna, só para propostas 100% elétricas, sejam com bateria ou célula de combustível — nem os híbridos plug-in “escapam”.

Em declarações à Autocar, Gilles Le Borgne, durante o salão alemão, foi claro de que o grupo francês iria resistir à data proposta pela UE de 2035, propondo que essa transição aconteça mais à frente no tempo.

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Renault Mégane E-Tech Electric com Luca de Meo e Gilles Vidal.
Luca de Meo, CEO do Grupo Renault (à direita) e Gilles Vidal, diretor de design Renault, com o novo Renault Mégane E-Tech Electric no Salão de Munique 2021 © Guilherme Costa / Razão Automóvel

Luca de Meo reforçou essa sentença afirmando que o Grupo Renault tinha o apoio total do governo francês nesse sentido e esperava que outros construtores dissessem o mesmo.

Porquê adiar?

O Grupo Renault não está contra os elétricos, ou contra a transição para a mobilidade elétrica — bem pelo contrário.

O grupo francês foi um dos pioneiros desta nova vaga de eletrificação da indústria automóvel, tendo lançado em 2012 o Zoe — o elétrico mais vendido na Europa em 2020 — e levou até Munique o novo Mégane E-Tech Electric.

Além disso, decidiu recuperar o Renault 5 e a lendária 4L para serem os novos pontas de lança elétricos (chegam em 2023 e 2025, respetivamente) que terão como missão ajudar a democratizar a mobilidade elétrica; também nesse sentido já comercializa o Dacia Spring, o elétrico mais barato do mercado; e já anunciou que a Alpine será 100% elétrica em poucos anos.

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Mas ao contrário de outros, que já anunciaram o ano em que mudarão, em definitivo, para um portefólio de modelos apenas e só elétricos, o Grupo Renault é uma das exceções. As projeções do grupo francês apontam para que 90% das vendas da marca Renault sejam de automóveis 100% elétricos em 2030, mas, talvez mais revelador, sejam de apenas 10% para a Dacia.

Então porque é que o Grupo Renault procura adiar a transição final? Primeiro, Le Borgne, ainda em declarações à publicação britânica, quer que fique bem claro que não estão a resistir à transição em si, só ao prazo estabelecido, propondo que essa transição aconteça em 2040 e não 2035. E estes são os argumentos para essa intenção:

"Há três razões claras porque acreditamos que faz sentido estender a transição.

Primeiro, queremos ter confiança absoluta de que a infraestrutura (de carregamento) se expanda ao ritmo de que são exigidos mais veículos elétricos. Está longe de ser uma certeza, pelo que ir mais depressa não faz sentido.

Depois, apesar de termos confiança absoluta que temos a tecnologia — já estão à venda hoje híbridos, híbridos plug-in e elétricos —, não sabemos se teremos os clientes que a queiram ou, mais significativo, se a conseguem pagar.

Por fim e crucialmente, precisamos de tempo para nos adaptarmos. Mudar as nossas fábricas para estas novas tecnologias não é simples e adaptar os nossos trabalhadores a elas vai levar tempo. Este prazo [2035] seria difícil para nós — e mais difícil ainda quando acrescentamos a cadeia de fornecedores à equação.

As pessoas precisam de se mover e uma marca popular como a Renault tem de ser capaz de lhes dar uma possibilidade de o fazerem de uma maneira prática e a um preço acessível."

Gilles Le Borgne, diretor de Pesquisa e Desenvolvimento no Grupo Renault em declarações à Autocar