Crónicas Toda a gente fala nos carros chineses mas estão a vender muito ou pouco?

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Toda a gente fala nos carros chineses mas estão a vender muito ou pouco?

Estamos na reta final do ano. Como é que estão as vendas das marcas chinesas em Portugal, em Espanha e na Europa? É que não se fala de outra coisa.

BYD Attto 3 com bandeiras portuguesa e chinesa
© Razão Automóvel

Só não perdemos a conta à quantidade de marcas chinesas que chegaram ao mercado português nos últimos tempos porque é nossa obrigação não nos esquecermos de nenhuma. E não nos esquecemos. Recapitulando: BYD, MG, XPeng, Dongfeng, Leapmotor, Aiways, Forthing, Voyah, M-Hero e Maxus*.

Depois de anos a fio a falar das mesmas marcas — muitas delas com mais de 100 anos de história — não faltam novos alunos na turma. Uns bastante promissores, outros ainda em fase de adaptação, mas quase todos já têm provas dadas.

E eu sei, é ingrato colocar todas as marcas chinesas nos mesmo «saco». Não são todas iguais, não têm a mesma dimensão e nem sequer o mesmo posicionamento. Este olhar diferenciado ainda não existe.

Dongfeng, Voyah, Dongfeng portugal
© Salvador Caetano Dores de crescimento. Demorará algum tempo até os consumidores olharem para cada uma delas sem procurarem o mesmo: muito equipamento e baixo preço.

Talvez com excepção da BYD (tecnologia) e da MG (preço), todas as outras ainda não têm grande significado (ou diferenciação) aos olhos dos consumidores. Vai ser um desafio para cada marca mostrar que não é “farinha do mesmo saco”. É nessa diferenciação que reside um dos desbloqueadores de vendas.

É que nesta primeira fase, a ruidosa chegada de cada uma delas — amplificada pela dicotomia política e económica China/Ocidente —, pode ser suficiente mas não durará para sempre. E feitas as contas, as marcas chinesas vendem muito ou vendem pouco?

Estamos perante um caso de “muita parra e pouca uva” ou de “paciência de chinês”? Provérbios à parte, vamos tentar encontrar a resposta nos números. Se não os torturarmos eles dizem a verdade e apontam caminhos. É sempre isso que procuramos na Razão Automóvel.

As vendas de carros chineses em Portugal

Como comecei por afirmar, estamos na reta final de 2024 e já podemos olhar para os números.

Quando olharmos em retrospectiva, este será apontado como o ano da chegada em força das marcas chinesas a Portugal, mas não será apontado como o ano em que as marcas chinesas treparam a tabela de vendas nacional.

Se isso vai acontecer? Não quero repetir argumentos. Já deixei a minha opinião neste artigo por isso vamos concentrarmo-nos nos números atuais.

Olhando para os dados publicados pela ACAP — vendas acumuladas até ao final de outubro —, temos de descer mais de 20 marcas para encontrar as primeiras marcas chinesas. Nomeadamente BYD e a MG.

RankingMarcaUnidades (jan/out)
1.ºPeugeot17 841
2.ºMercedes-Benz13 726
3.ºDacia13 048
4.ºRenault12 520
5.ºBMW11 294
6.ºToyota9549
7.ºVolkswagen9481
8.ºCitroën8530
9.ºTesla7576
10.ºSEAT6484
11.ºKia6419
12.ºNissan5957
13.ºHyundai5913
14.ºVolvo5899
15.ºOpel5270
16.ºFord4216
17.ºFIAT4145
18.ºAudi3835
19.ºSkoda3297
20.ºMitsubishi2807
21.ºBYD2221
22.ºMG1925
23.ºCUPRA1728
24.ºJeep1593
25.ºMINI1423
26.ºPorsche1137
27.ºDS882
28.ºLand Rover797
29.ºHonda634
30.ºMazda578
Dados: ACAP (jan. a out. 2024)

Pode dizer-se que se as caixas de comentários das redes sociais fossem vendas, a posição seria mais elevada. Mas estes são números, como referimos anteriormente, que não contam a história completa.

Se retirarmos da equação os carros com motor de combustão e nos concentrarmos exclusivamente nos 100% elétricos temos, por exemplo, a BYD no TOP 5. E se o futuro dos automóveis for 100% elétrico — não estou a defender que é — isto diz muito do potencial de penetração das marcas chinesas.

Encontrar paralelo noutros mercados

Olhar para o mercado espanhol é tentador, sem dúvida. Mas o seu comportamento é totalmente diferente do português: da fiscalidade às preferências dos consumidores.

Neste mercado encontramos a MG de «pedra e cal» no Top 15 e outra marca chinesa a escalar de forma rápida, a Omoda.

Temos um artigo mais profundo sobre a sua ascensão nesta ligação:

Olhando para a Europa, quando analisamos o mercado como um todo, em 2023 as marcas chinesas representavam aproximadamente 2,5% do mercado.

Mais uma vez, analisando os números com maior detalhe, quando filtramos apenas carros elétricos esta percentagem aumenta: no segundo trimestre de 2024 (abril-junho), a quota de mercado dos veículos elétricos chineses na Europa atingiu 14,1%.

MG Marvel R, fremte
© MG MG Marvel R.

Seja qual for a forma como olhamos para os números, há sem dúvida uma tendência de crescimento, ainda mais acelerada quando falamos de veículos 100% elétricos. Foi este número que motivou a UE a avançar com as conhecidas tarifas aos carros elétricos produzidos na China.

Se vão dominar o mercado? Talvez não seja esse o principal motivo de preocupação das marcas ocidentais (pelo menos para já…).

Para já a preocupação é outra: as vendas não estão a aumentar, por isso, o crescimentos das marcas chinesas está a acontecer à custa da quota de mercado das marcas já instaladas. A nível mundial, o cenário em 2023 foi este:

Estamos por isso a assistir a um momento de ajuste no mercado automóvel. Se a história acabar bem, acontecerá aquilo que já aconteceu no passado, primeiro com as marcas japonesas e depois com as marcas coreanas. Vão chegar ao mercado, vão ajustar-se, vão começar a produzir na Europa e tudo encontrará um novo equilíbrio. Os chineses têm tempo e a Europa não tem outra hipótese.

Assim que tivermos os números definitivos do mercado automóvel em 2024 — tanto de Portugal como da Europa — voltaremos a este tema. Gosto sempre de ver como é que as minhas previsões falham.

* Antecipando algum comentário, não me esqueci da KGM. Simplesmente porque a KGM não é chinesa, é sul-coreana. É uma marca conterrânea da Hyundai e, sobretudo da Kia, com quem partilha o importador em Portugal, a Astara.