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Passo atrás? Reino Unido reconsidera metas de vendas de elétricos

O Reino Unido estabeleceu um mandato ZEV (veículos zero emissões), mas as vendas de elétricos não estão a subir o suficiente para cumprir as quotas.

carregador ligado à porta de carregamento do automóvel
© CHUTTERSNAP

O Reino Unido (RU) está a reconsiderar as quotas de vendas de elétricos, impostas aos fabricantes automóveis, como parte do mandato Veículos Zero Emissões (ZEV), tendo em conta as dificuldades no cumprimento dos objetivos, potencial encerramento de fábricas e despedimentos, e custos adicionais envolvidos.

Embora o mandato ZEV tenha o mesmo objetivo geral que a União Europeia (UE) — eletrificar totalmente o parque automóvel —, estes diferenciam-se na sua abordagem.

Enquanto o mandato do Reino Unido exige quotas mínimas de venda de veículos elétricos (ZEV), o bloco europeu define limites máximos de emissões de CO2 (dióxido de carbono) para os automóveis vendidos, independentemente da motorização.

ID.7 GTX Tourer - de frente em movimento
© Volkswagen Volkswagen ID.7 GTX

Procura abaixo do esperado

A procura por automóveis elétricos tem sido mais fraca do que o esperado no RU — apesar de ser dos países europeus onde mais sobe —, assim como está a acontecer na União Europeia.

Em causa estão as redes de carregamento deficitárias e os custos elevados associados a este tipo de automóveis. Os fabricantes vêem-se obrigados a explorar outras formas de fomentar a procura, como descontos muito generosos.

A Sociedade de Fabricantes e Comerciantes Automóveis britânica (SMMT), avança que o custo do cumprimento das quotas está a ser muito elevado.

Estima-se que as marcas já tenham gasto quatro mil milhões de libras (cerca de 4,84 mil milhões de euros) em descontos para elétricos, diminuindo os preços para valores que os clientes estejam dispostos a pagar. Este valor deverá subir para seis mil milhões de libras (cerca de 7,245 mil milhões de euros) até ao final do ano. A sustentabilidade desta opção está a ser, por isso, equacionada.

O mandato ZEV no Reino Unido tem objetivos ambiciosos. Em 2024, a venda de automóveis ligeiros elétricos terá de corresponder a 22% das vendas totais. Os veículos comerciais são também afetados, com a exigência de uma quota de 10%.

O plano implica uma subida progressiva da quota da venda de elétricos até aos 80% em 2030, no caso dos ligeiros de passageiros e até 70% nos veículos comerciais. O RU estabeleceu ainda como meta alcançar os 100% de vendas de elétricos em 2035.

Os fabricantes, contudo, estão a ter muitas dificuldades em atingir as quotas planeadas. Até outubro, as vendas de automóveis ligeiros de passageiros elétricos corresponderam apenas a 18,7% do total, afirma o SMMT.

Em novembro registou-se uma subida expressiva na venda de automóveis elétricos, apoiada em grandes descontos, tendo atingido uma quota de 25,1%.

Metas difíceis de alcançar

São vários os construtores que estão muito aquém dos objetivos de quotas, como por exemplo o Grupo Volkswagen, que não foi além dos 15% até outubro de 2024, segundo dados da New Automotive.

Para auxiliar o cumprimento das metas, o mandato ZEV inclui um sistema de créditos, que compensa os construtores automóveis de acordo com a sua performance.

Assim, “cada crédito ganho (através da venda de elétricos), permite compensar a venda de um veículo a combustão”, sendo que o número de créditos gerado por um automóvel depende das suas características.

Os fabricantes ganham créditos extra se reduzirem as emissões médias de CO2 da sua frota para além do limite estabelecido. As vendas de veículos híbridos e híbridos plug-in também geram créditos, dependendo das suas emissões.

De acordo com este sistema de créditos, o Grupo Volkswagen é aquele que se encontra mais para trás com -13 509 créditos. A este segue-se a Ford (-7070), a Renault (-5866), a Suzuki (-3876) e a Nissan (-2938).

Por cada automóvel vendido abaixo da quota estabelecida, o construtor é multado em 15 mil libras (cerca de 18 150 euros) — 9000 libras (cerca de 10 890 euros) para os veículos comerciais. O Grupo Volkswagen arrisca-se a pagar uma multa potencial de 200 milhões de libras (cerca de 242 milhões de euros).

Para evitar ou mitigar as multas, está também em prática um programa de negociação de créditos, ou seja, os construtores que conseguiram alcançar as suas quotas podem vender os créditos em excesso. Neste grupo temos a Tesla, que tem 27 742 créditos para vender, seguida da Geely (11 185), da BYD (4357) e a BMW (3605).

Governo britânico vai reconsiderar mandato ZEV

Já são muitos os fabricantes a pedir uma suavização do mandato ZEV, entre eles a Ford, que até setembro, de todos os carros que vendeu no mercado britânico, apenas 7,6% foram elétricos.

A Stellantis também já exigiu que a quota fosse suavizada: “Não prejudica o planeta, apenas torna o mandato ZEV mais fácil”, afirmou Carlos Tavares, na altura ainda o diretor-executivo do grupo. O mandato ZEV é a principal causa indicada pela Stellantis para ter decidido encerrar a fábrica de Luton, transferindo a produção de comerciais elétricos para a sua outra fábrica na ilha, em Ellesmere Port.

O Secretário de Negócios e Comércio do Reino Unido, Jonathan Reynolds, admitiu que as quotas não estão a funcionar como previsto.

No entanto, admite que o Governo continua comprometido com as emissões zero a partir de 2030: “quando eu disse descarbonização não queria dizer desindustrialização. Ganhar a corrida para a neutralidade carbónica e ter um setor automóvel líder mundial deve acontecer em conjunto”.

“É muito importante nós termos a certeza de que acertamos no equilíbrio e que temos o apoio do setor automóvel no Reino Unido.”

Rachel Reeves, Ministra das finanças do RU

Fonte: Automotive News Europe

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