Autopédia Novo motor Ferrari com tecnologia que a Honda deitou fora

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Novo motor Ferrari com tecnologia que a Honda deitou fora

Saiam da secretária e partilhem a notícia com os vossos amigos e colegas de trabalho: a Ferrari está a desenvolver um novo motor V12.

Motor V12 Ferrari Patente
© Razão Automóvel

A Ferrari acaba de registar uma patente para um novo motor V12. Até aqui nada de novo — já se percebeu que o futuro dos supercarros vai passar, sobretudo, pelos motores de combustão.

A grande novidade está no facto de este novo motor V12 da Ferrari ter pistões ovais. Porquê ovais e não redondos? Porque permitem reduzir significativamente o comprimento total do motor, mantendo a cilindrada e o curso original de um motor equivalente com pistões redondos.

Uma ideia genial cuja execução — nos cada vez mais longínquos anos 80… — quase levou os engenheiros da Honda à loucura. Antes de continuarmos a falar da Ferrari, alinhamos numa viagem ao passado? Eu sei que sim…

Motor V12 Ferrari 812
© Ferrari

Um falhanço e o Ferrari das motas

Nos anos 80 a Honda também desenvolveu um motor com pistões ovais. O objetivo era desenvolver um motor a quatro tempos tão avançado que seria capaz de enviar diretamente para a reforma os motores a dois tempos que competiam na classe rainha (500cc) do Mundial de Motociclismo — hoje conhecida por MotoGP.

Nascia assim a Honda NR500, conhecida como “Never Ready” devido às suas dificuldades técnicas iniciais. Apesar do conceito inovador com pistões ovais e oito válvulas por cilindro, a moto enfrentou problemas de fiabilidade e desempenho que a impediram de ser competitiva contra as motas a dois tempos que misturavam óleo com gasolina.

Morreu assim uma mota de competição, mas a tecnologia não foi para o lixo. Dos despojos da NR de competição nasceu uma das motas de produção mais belas e avançadas de sempre: a Honda NR750.

Honda NR750 - 3/4 de frente
© Honda A Honda NR750 era considerada o «Ferrari das motas» devido à sua beleza, tecnologia avançada, exclusividade e preço. Era a mota de produção mais cara do mundo.

Quão bela era — e continua a ser… — a Honda NR750? Basta afirmarmos que foi a musa inspiradora de Massimo Tamburini (1943-2014) para a emblemática Ducati 916. O designer que foi responsável por modelos tão emblemáticos como a já referida Ducati 916 ou a MV Agusta F4 — passem por aqui para saber mais sobre isso.

Pistões ovais com nova abordagem

Entretanto passaram mais de 40 anos — há quem diga que ainda há engenheiros da Honda a fazer terapia até aos dias de hoje, com o mesmo terapeuta dos engenheiros da Toyota, Subaru e Mazda, que também são muito teimosos. Mas a Ferrari não vai exatamente pelo mesmo caminho.

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Enquanto o motor oval da Honda era essencialmente um V8 simplificado em V4, com duas bielas por pistão e cabeças com oito válvulas por cilindro, a solução patenteada pela Ferrari difere substancialmente. Os pistões têm um formato oval alongado, semelhante a um comprimido, posicionados a 90 graus, relativamente à abordagem da Honda.

Como funciona a nova solução da Ferrari?

No motor V12 convencional, os cilindros opostos partilham um moente da cambota, mas as bielas estão ligeiramente desalinhadas, resultando num aumento do comprimento total do bloco do motor. Na nova configuração patenteada pela Ferrari, os pistões da bancada esquerda estão ligados diretamente às bielas do lado direito.

Patente Motor V12 - Ferrari
© European Patent Office

Deste modo, cilindros opostos ficam perfeitamente alinhados entre si em vista superior, eliminando os milímetros extra que habitualmente aumentam o comprimento total do motor.

Tanto trabalho para quê?

Esta nova disposição permite à Ferrari reduzir o espaçamento entre os cilindros sem sacrificar a cilindrada total, resultando num motor mais compacto.

Patente Motor V12 - Ferrari
© European Patent Office

Além disso, prevê-se uma redução de peso nas massas rotativas (conjunto móvel interno), devido à utilização de menos componentes e de dimensões menores, possibilitando maiores regimes de rotação. Um fator crucial para aumentar o nosso sorriso… desculpem, o desempenho em motores de alta performance.

Mas ainda há mais vantagens

Ao encurtar o comprimento do motor V12, a Ferrari poderá reduzir as dimensões totais dos seus veículos ou criar espaço adicional para componentes híbridos, como motores elétricos entre o bloco e a transmissão. Quando a nós, a medida certa de eletrificação num supercarro.

Patente Motor V12 - Ferrari
© European Patent Office

Outra vantagem é a possibilidade de usar válvulas de admissão e escape maiores ou em maior número, melhorando significativamente a eficiência volumétrica do motor. Contudo, a patente não detalha a parte superior do motor (cabeça). Quem está a perder a cabeça somos nós, com especulações…

Vamos continuar a especular?

Não está claro se a Ferrari pretende efetivamente produzir este motor ou se a patente serve, sobretudo, para proteger a sua tecnologia contra as marcas rivais. A verdade é que, perante normas cada vez mais exigentes em termos de emissões, fabricantes como a Ferrari não podem dormir se pretendem manter os emblemáticos motores V12 no ativo.

Se a Ferrari avançar com este motor — nós esperamos que sim — estaremos perante uma das maiores revoluções técnicas nos motores V12 da marca de Maranello.