Autopédia Porsche não desiste e regista primeiro motor a seis tempos

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Porsche não desiste e regista primeiro motor a seis tempos

Novo conceito de motor a seis tempos da Porsche poderá duplicar o trabalho mecânico em cada ciclo completo de combustão. Complexo? Um pouco…

Motor Porsche 911 GTS
© Porsche

Apaixonados pela música mecânica — como aqueles que encontraram refúgio neste vídeo, temos boas e más notícias. Vamos começar pelas boas.

Nos bastidores da Porsche o desenvolvimento de motores de combustão não cessou. A marca alemã acaba de patentear o primeiro motor a seis tempos do mundo.

O pedido de patente foi submetido no dia 23 de fevereiro de 2024, com o número 18/585 308, mas só agora foi divulgado pelo U.S. Patent and Trademark Office (Registo de Marcas e Patentes dos EUA). Podem consultar o documento na íntegra no website.

Taycan Celestial Jade - logótipo da Porsche
© Porsche

Esta ação da Porsche tem três dimensões distintas: técnica, económica e política. Do ponto de vista técnico, revela que os engenheiros da marca acreditam que ainda há sumo para espremer desta tecnologia. Do ponto de vista económico e político, que há um plano para o futuro destes motores, caso contrário não se investiriam recursos no seu desenvolvimento.

Como funciona o motor a seis tempos?

Vamos deixar as más notícias para o final do artigo. Primeiro vamos admirar esta tecnologia e tentar explicar como e porque é que a Porsche desenvolveu um motor a seis tempos, começando pelo básico.

Como sabem, todos os carros modernos estão equipados com motores a quatro tempos. Ou seja, para completarem um ciclo completo de combustão (trabalho) precisam de passar por quatro fases (tempos): admissão, compressão, explosão e escape. É assim há mais de 130 anos.

Na fase de admissão dá-se a entrada da mistura (ar e combustível) na câmara de combustão. Na fase da compressão comprime-se essa mistura para retirar o melhor rendimento da terceira fase: a expansão (resulta da ignição e consequente combustão da mistura ar-combustível).

É nesta fase que o motor desenvolve o impulso (trabalho) que o mantém em funcionamento. Finalmente, temos a fase de escape, onde os gases são expelidos da câmara de combustão para dar entrada a novos gases e à repetição deste ciclo milhares de vezes por minuto.

Dito de outra forma, nos quatro tempos do motor de combustão atuais, apenas um tempo (expansão) é que desenvolve trabalho. Ou seja, nas quatro duas rotações completas da cambota, apenas uma é que providencia força às rodas.

É precisamente aqui que os engenheiros da Porsche deram um «murro na mesa». Este motor a seis tempos duplica as fases de compressão e expansão, duplicando também assim as fases de trabalho por cada ciclo. Ou seja, podemos dividir o ciclo de combustão em dois ciclos de três tempos: admissão, compressão e expansão; e compressão, expansão e escape.

Como é que a Porsche fez isto? Na patente que a marca registou vemos que a biela não está diretamente ligada à cambota.

Porsche registo patente motor seis tempos
© USPTO

Os engenheiros da Porsche confirmam que com a ligação da biela a uma engrenagem secundária adicionaram um movimento de compressão e expansão ao ciclo normal do motor, passando de quatro para seis tempos no total.

Graças a esta engrenagem, antes da fase de escape há mais dois tempos de compressão e expansão.

Teoricamente, esta mudança significará um importante incremento no rendimento e na eficiência dos motores de combustão tal como os conhecemos atualmente.

Porsche registo patente motor seis tempos
© USPTO

No entanto, este dois tempos adicionais não significam que o rendimento do motor irá duplicar. Esta segunda fase de compressão e expansão será menos intensa que a primeira. A taxa de compressão deverá ser menor (devido à geometria do movimento) e devido à presença de gases de escape oriundos da explosão primária.

Mas é possível que hajam ganhos importantes ao nível das emissões, graças a uma queima mais intensa da mistura. Neste momento, só os engenheiros da Porsche poderão responder a estas questões.

Agora as más notícias…

Sempre que os amantes de motores de combustão ouvem falar de uma nova tecnologia abrem uma garrafa de champanhe. Mais rendimento e eficiência é sempre um motivo para celebrar, sem dúvida.

No entanto, entre os anúncios e a realidade, às vezes a festa demora ou nem sequer chega a começar. Damos o exemplo do motor com taxa de compressão variável. Entre muitas patentes e protótipos, foi preciso esperar quase um século até ser instalado num modelo de produção.

Em 2016, a Nissan apresentou o primeiro motor com taxa de compressão variável, tendo sido colocado pela primeira vez no Infiniti QX50 em 2017. Ainda hoje é produzido, equipando vários modelos da divisão premium da Nissan. Como dá para perceber, entre as promessas e a realidade, o passo é gigante.

Será que esta tecnologia de motor de seis tempos da Porsche terá um destino similar? Apenas o tempo nos poderá dar essa resposta.

Entretanto, o facto é que o desenvolvimento de motores de combustão continua, das marcas generalistas às marcas mais exclusivas.

Os exemplos sucedem-se e não significam nem o fim da crença nos elétricos nem o fim da utilidade nos motores de combustão.

Ao contrário do que alguns setores desejariam, parece que o mercado automóvel continua a caminhar para um futuro onde o problema da mobilidade de milhões de pessoas não terá uma única resposta. A resposta é múltipla e tem respostas cada vez mais eficazes. O planeta agradece.

Fonte: USPTO

Atualizado a 24 de setembro: Foi substituído o termo “explosão” por “expansão” quando nos referimos aos diversos tempos do ciclo de combustão; e corrigimos a informação relativa ao motor de taxa de compressão variável da Nissan, que se encontra, à data da publicação deste artigo, em comercialização.