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Estes carros são novos mas não têm ecrãs táteis

Há quem defenda que os carros novos estão cada vez mais parecidos com os smartphones. Estas são as excepções à regra e sem ecrãs táteis.

Interior Dacia sem ecrã
© Dacia

Em menos de uma década, os ecrãs táteis tomaram de assalto a indústria automóvel. Se por um lado incrementaram de forma inequívoca as funcionalidades disponíveis a bordo dos nosso carros, por outro lado, também aumentaram a complexidade de utilização.

Em alguns casos, levantam-se até questões de segurança por distração do condutor. Aquilo que antigamente era possível fazer apenas com recurso ao tato, agora exige o auxílio da visão para «guiar» as mãos.

Foi por isso que recentemente a EuroNCAP decidiu colocar um «travão» nesta tendência e quer que as marcas regressem aos botões físicos. Caso contrário não há cinco estrelas nos testes de segurança para ninguém.

Nesse aspeto, há quatro modelos que estão a salvo dessa problemática. Dacia, Citroën e Fiat ainda têm modelos que resistem à propagação de ecrãs táteis.

Os resistentes aos ecrãs

São poucos, mas existem. Os carros sem ecrãs são uma verdadeira espécie em vias de extinção. Vamos começar pela marca e pelo modelo mais óbvio: o Dacia Sandero. Modelo que, curiosamente, liderou as vendas europeias no primeiro mês do ano.

A Dacia é conhecida por fazer carros que oferecem o essencial — a conotação com produtos low-cost já morreu há muito tempo. E para alguns consumidores, ter um ecrã no tabliê não é essencial.

Naturalmente, as versões mais equipadas do Dacia Sandero também têm sistema de infoentretenimento — inclusivamente com Apple Car Play e Android Auto sem fios —, mas nas versões mais básicas só temos uma plataforma para pousar o nosso smartphone.

tabliê do Dacia Sandero
© Dacia A Dacia justifica esta decisão de forma simples: há utilizadores que preferem utilizar os seus dispositivos móveis. Além disso, a aaixa de velocidades e o ar condicionado são manuais. Há clientes que continuam a procurar a simplicidade.

Ainda assim, mesmo nas versões sem ecrã, o sistema de som da Dacia continuam a ter ligação Bluetooth. Quanto às informações do carro (consumos, revisões, quilómetros percorridos), continuamos a ter acesso a tudo através de uma aplicação móvel.

O novo Dacia Duster, em alguns mercados também vai ter esta possibilidade: não ter infoentretenimento (ver imagem de topo). É o caso português. A versão com nível de equipamento Essential vai ter apenas isso mesmo: o essencial.

Interior Fiat Panda
© Fiat Fiat Panda.

Mas a Dacia não está sozinha, há outras marcas que acompanharam a marca romena nesta simplificação. O Fiat Panda na sua configuração mais básica também abdica do ecrã de 7″. É algo que não parece incomodar os italianos: há 12 anos consecutivos que o Panda lidera as tabelas de vendas em Itália.

Continuando a nossa lista de dissidentes, encontramos um modelo que só chegará ao mercado este ano: o novo Citroën ë-C3 100% elétrico. Um modelo de segmento B (utilitário) que terá no preço e no espaço dois dos seus principais argumentos.

© Citroën Nas versões menos equipadas, não há sistema de infoentretenimento. A solução encontrada é é em tudo similar à da Dacia.

Agora vamos dar um salto para o extremo oposto: um hipercarro. Não resistimos em subir a parada. Estou a referir-me ao Bugatti Chiron e todas as suas derivações: do Divo ao Mistral. É verdade, no seu interior não cabem ecrãs. Apenas luxo, muito luxo.

Além disso, quando temos 1500 cv de potência ao serviço do pé direito, não perder o foco em tudo aquilo que está à nossa frente parece algo sensato. Os engenheiros da Bugatti reduziram ao mínimo as distrações. O foco está, naturalmente, noutro tipo de experiências, como a localização de radares de velocidade

interior Bugatti Chiron Sport Les Legendes Du Ciel
© Bugatti O interior é simples. E a escolha dos materiais também foi simples: escolheram o melhor.

A importância dos ecrãs táteis

É preciso deixar claro que este texto não é uma apologia ao fim dos ecrãs táteis nos automóveis. Mas em alguns casos, o recurso excessivo a estas soluções pode tornar a condução mais complexa. O equilíbrio é ténue e a possibilidade de cair no exagero é elevada.

Em alguns modelos, por isso mesmo, já se regista um passo atrás. É o caso da Volkswagen, que abdicou dos botões táteis e voltou aos botões físicos nos novos Passat, Tiguan e Golf — e outros se seguirão.

Interior do novo Volkswagen Golf 2024
© Volkswagen AG Interior do Volkswagen Golf 2024.

Em sentido oposto, a Tesla, na renovação do Model 3, foi mais longe e acabou com as hastes dos piscas, concentrando tudo no volante e ecrã, reduzindo ainda mais o número de comandos físicos no interior. Há quem não goste e há quem defenda com «unhas e dentes» esta solução. Particularmente, acho que foram longe demais.

Mas é importante referir que fizeram um bom trabalho no que diz respeito ao desenho dos menus. A experiência de utilizador é boa. Nota-se que a Volvo, neste aspeto, está de olho na Tesla. O novo EX30 é a prova disso mesmo.

Volvo EX30 - interior
© Volvo Cars O novo Volvo EX30 não tem botões físicos e também oferece uma boa experiência no que ao infoentretenimento diz respeito.

Mas como em tudo na vida — ou quase tudo — a moderação é uma ótima conselheira. E mesmo que no final do dia o aspeto não seja tão tecnológico ou sofisticado, continuo a achar que os comandos físicos para a climatização e controlo do volume do rádio são uma mais valia.

Apesar disso, gosto de acreditar que há neste momento um batalhão de engenheiros a trabalhar para provar que estou enganado. É por isso que gosto tanto desta indústria.