Clássicos O dia em que a Audi fez um superdesportivo Diesel

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O dia em que a Audi fez um superdesportivo Diesel

Foi em 2008 que ficámos a conhecer o Audi R8 V12 TDI e também foi o que tivemos mais próximo de um superdesportivo Diesel.

Audi R8 V12 TDI

O ano de 2008 não poderia ter começado, no mundo automóvel, com um maior estrondo. A Audi levava até ao Salão de Detroit — que se realiza sempre nos primeiros dias do ano — um protótipo do R8 que abalaria as fundações de todas as crenças sobre puros desportivos e superdesportivos. O Audi R8 exposto vinha equipado com um enorme bloco V12… Diesel!

Imaginam as ondas de choque e estupefação? Um superdesportivo Diesel?!

As vozes dissonantes, afirmavam que um superdesportivo Diesel era uma ideia absurda. Contextualizando a apresentação deste modelo, não era de todo…

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Audi R8 V12 TDI
Um V12 TDI colocado na traseira de um desportivo com motor central traseiro!

Estávamos em 2008 e não 2018 (NDR: à data de publicação original deste artigo).

O motor Diesel era o melhor amigo do… automóvel. Vendiam-se cada vez mais motores Diesel, perfazendo praticamente metade das vendas no mercado europeu, e a Audi, em particular, já tinha amealhado duas vitórias nas 24 Horas de Le Mans com o Audi R10, um protótipo Diesel — um feito inédito. E não se ficaria por aí, totalizando oito vitórias em Le Mans com protótipos alimentados a gasóleo.

Foi este impulso, no mercado e na competição, que permitiu aos Diesel serem vistos como algo mais do que apenas motores virados para baixos consumos — na Audi, os protótipos de Le Mans eram montras tecnológicas que se refletiam nos seus carros de estrada. Uma evolução notável, que se estendeu a todas as marcas de automóveis.

Apesar da «demonização» de que hoje são alvo, convém não esquecer a importância e o sentido que os motores Diesel já tiveram.

Os rumores

Em 2006 a Audi ousou lançar um desportivo de motor central traseiro, o R8 — um supercarro júnior, como alguma da imprensa o denominou. O aspeto único, o equilíbrio dinâmico e a excelência do seu V8 de 4.2 litros naturalmente aspirado — 420 cv a umas inebriantes 7800 rpm — tornaram-no rapidamente num dos Audi e desportivos mais desejados do momento.

Desenvolvido a meias com o Lamborghini Gallardo, era uma proposta inédita na marca dos anéis. Representava o pináculo da marca a vários níveis, o que rapidamente deu azo a rumores: com as vitórias em Le Mans, será que a Audi capitalizaria o sucesso na competição com o lançamento de um superdesportivo Diesel?

Tal nunca aconteceria, muitos afirmavam. Um motor Diesel a equipar um superdesportivo? Não fazia sentido.

O choque

E regressamos a Detroit, no início de 2008. Entre uma cortina de fumo (não do motor) surgia o Audi R8 V12 TDI Concept — mais tarde renomeado de R8 Le Mans Concept.

Era claramente um R8, apesar de para-choques distintos, entradas laterais alargadas e uma entrada NACA (tem este nome por ter sido desenvolvida pela National Advisory Committee for Aeronautics) no topo para refrigeração do motor. E o nome não deixava enganar, a Audi apresentava um superdesportivo Diesel.

Em vez do V8 Otto atrás dos ocupantes encontrava-se um «monstro» V12 Diesel, o maior colocado até à altura num automóvel ligeiro: 12 cilindros em V, como nos mais nobres dos superdesportivos, 6.0 l de capacidade, dois turbos, 500 cv e trovejantes 1000 Nm… às 1750 rpm(!). E, imagine-se, acoplado a uma transmissão manual.

Com números destes, não admira as entradas de ar maiores para o motor.

Audi R8 V12 TDI
No teto, uma generosa entrada NACA para uma superior refrigeração do motor

Contrariando os rumores, o motor não era uma derivação do V12 de 5.5 l do R10 de competição, mas partilhava com este muita da arquitetura e tecnologia empregue.

Segundo os números da marca, o Audi R8 V12 TDI, com tração às quatro, seria capaz de acelerar até aos 100 km/h em 4,2s e atingir os 300 km/h de velocidade máxima — nada mal…

Complexidade técnica

O Audi R8 V12 TDI Concept surgiria novamente, um par de meses mais tarde, no Salão de Genebra, trocando a cor cinzenta original por um muito mais vibrante vermelho. Mais importante era que se tratava de um protótipo funcional, mais próximo da produção — alguns jornalistas até o puderam conduzir.

Mas rapidamente percebeu-se que esta «experiência de laboratório» saberia a pouco e o culpado era mesmo o motor, ou melhor, o seu tamanho. O bloco V12 era mais comprido do que o V8, pelo que «invadia» parte do habitáculo para caber.

E não deixou espaço para instalar nenhuma das transmissões do Audi R8 — além do mais, nenhuma delas estava preparada para suportar os 1000 Nm de binário do colossal bloco. 

Audi R8 V12 TDI

Tiveram de recorrer a uma transmissão do Audi A4, mais compacta, para permitir que o protótipo do Audi R8 V12 TDI pudesse andar, mas como as restantes transmissões, era incapaz de lidar com o binário do V12, pelo que se limitou artificialmente o binário 542 Nm, pouco mais que metade.

O princípio do fim

Como deu para perceber, a tarefa de encaixar um motor V12 num corpo que não foi planeado para o receber, revelou-se complexa e cara. O passo final para a produção obrigaria a reconfigurar a secção traseira do R8 e a criar uma transmissão de raiz, que não só encaixasse no limitado espaço disponível, como suportasse os 1000 Nm.

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As contas simplesmente não batiam certo — os números de produção previstos para esta «heresia» com rodas não justificava o investimento necessário. Além do mais, alguns mercados essenciais ao seu sucesso, como os EUA, onde a Audi vendia um terço de todos os R8, não estavam nada recetivos aos motores Diesel, quanto mais a um superdesportivo com esse tipo de motor.

A Audi terminava o projeto definitivamente — o superdesportivo a gasóleo ficaria confinado ao campo das probabilidades. Foi o fim do superdesportivo Diesel, mas não o fim do possante bloco.

Não foi o fim do colossal V12 TDI… e ainda bem

Rejeitado no R8, o motor V12 TDI encontrou espaço num corpo mais apropriado. O Audi Q7 V12 TDI, que iniciou a sua comercialização também em 2008, tornou-se no único carro de produção equipado com este propulsor.

É ainda hoje o único automóvel ligeiro a ter tido um V12 Diesel debaixo do capô — com os mesmos números de potência e binário do Audi R8 V12 TDI —, e uma transmissão automática de seis velocidades da ZF, reforçada para garantir a sua durabilidade na tarefa de lidar com os 1000 Nm.

Passados todos estes anos continua a impressionar…

Audi Q7 V12 TDI
O V12 TDI no corpo certo