Clássicos Hispano Suiza. Dos V8 para aviões de guerra aos hipercarros elétricos

Renascimento

Hispano Suiza. Dos V8 para aviões de guerra aos hipercarros elétricos

Nasceu em 1904 como um sonho, mas não sobreviveu à II Guerra Mundial. Agora renasceu e apostou em hipercarros de luxo 100% elétricos.

Dos motores V8 para aviões usados na I Guerra Mundial até aos hipercarros 100% elétricos que custam mais de 2,5 milhões de euros, cabe quase tudo nos 120 anos de história da Hispano Suiza, uma marca icónica que caiu no esquecimento no século XXI, mas que nos seus anos dourados era rival da Rolls-Royce e da Bugatti.

Fundada em 1904, em Barcelona, pelo empresário Damià Mateu e pelo engenheiro suíço Marc Birkigt, a empresa destacou-se desde cedo pelo fabrico de automóveis sofisticados e tecnologicamente avançados para a época, conquistando quase de imediato um importante reconhecimento mundial.

No início do século XX, onde os hiperrequintados Bugatti e Rolls-Royce conquistavam as atenções daqueles que podiam pagar por esta exclusividade, a marca da Catalunha também tinha uma palavra a dizer.

Início abençoado pela realeza

O primeiro automóvel da Hispano Suiza foi lançado em 1905 e tinha uns meros 20 cv de potência, resultantes de um motor com quatro cilindros. Chegava apenas aos 87 km/h, mas isso não impediu que atraísse as atenções de algumas das pessoas mais abastadas de Espanha, entre elas o rei Alfonso XIII, um admirador confesso da marca.

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© Hispano Suiza Este modelo desportivo foi batizado em homenagem ao rei Alfonso XIII.

Aliás, o monarca espanhol, acabou mesmo por adquirir uma participação de 8% na empresa em 1910 e chegou a ter um modelo batizado com o seu nome: um desportivo de dois lugares com 60 cv de potência que já atingia os 120 km/h.

Apesar da crescente importância do mercado francês, e por conseguinte da Bugatti, a Hispano Suiza conseguiu afirmar-se no panorama automóvel europeu. Porém, pouco tempo depois, em 1914, teve de reformular toda a sua produção.

O início da guerra

Durante a Primeira Guerra Mundial, a marca expandiu a sua atividade para o setor aeronáutico, produzindo motores de avião que foram amplamente utilizados pelas forças aliadas.

avião motor v8 hispano suiza
© Hispano Suiza No total a Hispano Suiza fabricou quase 50 mil motores para aviões.

O maior destaque na altura terá que ir para um bloco V8 em alumínio que o construtor criou na época e que se diferenciava, entre outras coisas, por ter uma árvore de cames à cabeça, uma solução que não era habitual encontrar nos motores da época.

No total a Hispano Suiza terá vendido cerca de 50 mil destes motores, sendo que foi precisamente esta incursão na aviação que consolidou a reputação da Hispano Suiza como sinónimo de inovação e fiabilidade.

Apontar ao luxo

Terminado o primeiro grande conflito mundial, a Hispano Suiza regressou ao fabrico de automóveis, apontando, definitivamente, ao segmento de luxo. Foi nestes moldes que nasceu, em 1919, o H6, que contava com um bloco de seis cilindros em linha em alumínio e que acabou por ditar muito do futuro da marca.

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© Hispano Suiza Ainda hoje a cegonha surge associada ao símbolo da Hispano Suiza, que combina a bandeira de Espanha e da Suíça.

O H6 foi um dos primeiros modelos a receber, no topo da grelha do radiador, o ornamento de uma cegonha, que ainda hoje surge associado à construtora espanhola, ao lado das bandeiras de Espanha e da Suíça.

Celebridades, chefes de Estado e membros da realeza tornaram-se clientes fiéis da marca, consolidando a sua imagem de prestígio e exclusividade.

Pablo Picasso, Coco Chanel e René Lacoste foram alguns dos nomes associados aos automóveis da Hispano Suiza.

Contudo, com o passar das décadas e a chegada de novas dinâmicas industriais, a marca entrou num longo período de inatividade. Após a Segunda Guerra Mundial, a Hispano Suiza focou-se na produção de componentes aeronáuticos, afastando-se progressivamente da indústria automóvel.

Renascimento em modo elétrico

Depois de longos anos de inatividade, a Hispano Suiza renasceu das cinzas em 2019, altura em que foi recriada por um dos bisnetos de Damià Mateu.

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© Hispano Suiza Hispano Suiza Carmen

Ainda no tempo da Guerra Civil espanhola, em 1936, o Governo republicano nacionalizou as fábricas da Hispano Suiza e reorganizou-as de maneira a passarem a produzir motores para aviões, canhões, camiões, máquinas e ferramentas.

A família acabou por perder todas as instalações e todas as máquinas industriais, mas preservou os direitos sobre a marca Hispano Suiza. Pelo meio, virou agulhas para outro ramo de negócio, relacionado com o turismo, os casinos e os vinhos, que tem no castelo de Peralada, nos arredores de Barcelona, um dos seus principais ativos.

Foi todo este património que ajudou a recuperar a marca, que agora surge numa visão algo diferente daquela que a viu nascer: é certo que o luxo, a tecnologia e a inovação continuam a ser valores dos quais a Hispano Suiza não abdica; mas se outrora era animada por motores a combustão de grandes dimensões, agora é exclusivamente elétrica. São os sinais dos tempos.

Um sonho cumprido

O renascimento da Hispano Suiza fez-se em 2019, com o lançamento do Carmen, um hipercarro elétrico cujo desenho foi inspirado no revolucionário e aerodinâmico H6B Dubonnet Xenia, de 1938 (abaixo):

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© Hispano Suiza O design do H6B Dubonnet Xenia, de 1938, continua a impressionar.

Com uma estrutura monocoque em fibra de carbono, uma bateria de iões de lítio com 80 kWh da LG e dois motores elétricos (um por eixo), que totalizam 1019 cv de potência máxima combinada, o Hispano Suiza Carmen acelera dos 0 aos 100 km/h em menos de 3s e atinge os 250 km/h de velocidade máxima.

Mas mais do que um hipercarro elétrico, o Carmen é o cumprir de um sonho de Carmen Mateu, neta do fundador, Damià Mateu. Antes de falecer em 2018, Carmen transmitiu ao filho — Miguel Suqué Mateu, atual presidente da marca — o desejo de voltar a ver modelos da Hispano Suiza nas estradas.

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© Hispano Suiza A imagem do Hispano Suiza Carmen é fortemente inspirada no H6B Dubonnet Xenia.

Com um preço base a rondar os 1,8 milhões de euros, o Carmen foi seguido por uma variante ainda mais potente, denominada Carmen Boulogne, com mais 95 cv (um total de 1115 cv), menos 60 kg e com um preço a condizer: dois milhões de euros. Além disso, deixou de ter as rodas traseiras cobertas.

Mais recentemente, para assinalar o seu 120.º aniversário, a Hispano Suiza lançou uma nova derivação do Carmen, denominada Sagrera, que acrescenta um pacote aerodinâmico mais agressivo, transformando-o numa máquina mais capaz para os clientes que quiserem «atacar» um track day em pista.

Mantém os 1115 cv de potência máxima e os 2,6s de aceleração no sprint dos 0 aos 100 km/h do Carmen Boulogne, mas os preços arrancam num patamar mais alto: 2,5 milhões de euros, antes de impostos.

Por falar em milhões, recordamos o vídeo que o Guilherme fez na Loh Collection, uma das maiores coleções privadas de automóveis na Europa. Ora veja:

No total, a marca vai produzir apenas 24 unidades destes três modelos, sendo que até ao momento já entregou quatro exemplares a clientes.

Chegada a Portugal

No último trimestre de 2024, a Hispano Suiza passou a estar representada de forma oficial em Portugal, pela mão da C. Santos VP, que tem como missão vender a experiência de luxo que a marca espanhola quer entregar aos seus clientes, experiência essa que não se esgota nos seus automóveis, que podem ser personalizados de «fio a pavio».

Por estar sob a alçada do Grupo Peralada, que tem ligações ao turismo, aos casinos, à arte e aos vinhos, quem comprar um Hispano Suiza não está só a comprar um carro, está a comprar um bilhete para experiências exclusivas e especiais.