A história do Mercedes Classe S construído para Nelson Mandela

Mais do que a história de um Mercedes Classe S construído à medida, esta é a história de um grupo de trabalhadores da Mercedes, que se uniu para prestar homenagem a «Madiba».

Estávamos em 1990 e Nelson Mandela ia sair da prisão, a África do Sul e o mundo democrático estavam em festa. Em East London, na fábrica da Mercedes da África do Sul, vivia-se mais uma conquista. Nelson Mandela esteve preso durante 27 anos, por lutar contra o apartheid e combater as políticas de segregação praticadas na África do Sul. O dia da sua libertação ficaria na história. Mas há mais deste dia, que poucos conhecem.

A Mercedes foi a primeira empresa automóvel a reconhecer, na África do Sul, um sindicato de trabalhadores negros. Na fábrica de East London da Mercedes um grupo de trabalhadores teve a oportunidade construir um presente para Nelson Mandela, num gesto de agradecimento por todas as palavras que durante aqueles 27 anos de clausura deu a conhecer ao mundo, um mundo que sem nunca lhe ver a cara, deixou-se guiar por ele. A última fotografia de Nelson Mandela do conhecimento público, era de 1962.

O projecto que estava em cima da mesa era a construção do topo de gama da marca de Estugarda, o Mercedes Classe S W126. Com o apoio do sindicato nacional dos metalúrgicos o projecto foi aprovado. As regras eram simples: a Mercedes forneceria os componentes e os trabalhadores construiriam o Mercedes Classe S de Mandela nas horas extra, sem receberem a mais por isso.

Iniciava-se assim a construção de um dos modelos mais luxuosos da marca, o 500SE W126. Debaixo do capot, descansaria o imponente motor V8 M117 de 245 cv. O equipamento contava com bancos, vidros e retrovisores eléctricos, e airbag para o condutor. A primeira peça a ser construída foi a placa que identificaria o Mercedes Classe S como pertencendo a Mandela, contendo as iniciais deste: 999 NRM GP («NRM» de Nelson Rolihlahla Mandela).

A construção demorou quatro dias, quatro dias passados em felicidade e alegria constantes. Era um presente para Nelson Mandela, o símbolo da liberdade e da igualdade, num país marcado pela opressão. Ao fim dos quatro dias de construção, o Mercedes Classe S 500SE W126 saía da fábrica num vermelho vivo. A cor alegre e festiva, deixava transparecer o amor dos que o construíram, um sentimento generalizado à escala global que ali se materializava.

O Mercedes Classe S foi entregue a Nelson Mandela no dia 22 de Julho de 1991, numa cerimónia que teve lugar no estádio Sisa Dukashe e pelas mãos de Philip Groom, um dos trabalhadores que participou na construção do carro.

Dizem que este é provavelmente um dos melhores Mercedes do mundo, construído à mão e com a felicidade de um povo unido e livre. Nelson Mandela teve o Mercedes Classe S ao seu serviço durante 40 mil quilómetros antes de o entregar ao Museu do apartheid, onde ainda se encontra, imaculado e a repousar.

Diogo Teixeira

Co-fundador e Publisher da Razão Automóvel.

Quando nas primeiras memórias de infância os automóveis estão sempre presentes, não há nada a fazer: é uma paixão para a vida. Reza a lenda que aos 4 anos sabia a marca de todos os carros que via na rua.

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