Clássicos Os mais novos não conhecem o Peugeot 106 Rallye mas deviam

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Os mais novos não conhecem o Peugeot 106 Rallye mas deviam

Um carro de culto que merecia um feriado quase religioso. O Peugeot 106 Rallye é uma ode à simplicidade que não passa de moda.

Peugeot 106 Rallye
© Peugeot

No início dos já longínquos anos 90, os desportivos mais acessíveis não ofereciam mais de 100 cv de potência. Sim… houve um tempo em que 100 cv de potência eram suficientes para apelidar um pequeno utilitário de desportivo.

Hoje parece pouca potência — os 100% elétricos estão a banalizar a potência máxima com números recorde — no entanto, são estes «pequenos endiabrados» que a nossa memória mais vezes quer resgatar do passado.

Peugeot 106 Rallye
© Peugeot

Entre eles, há um que se destacava pela simplicidade e pureza: o Peugeot 106 Rallye, a versão mais pura e espartana do pequeno utilitário francês. Desenvolvido pela divisão Peugeot Sport Talbot, o Peugeot 106 Rallye está prestes a celebrar o seu 30.º aniversário e nós queremos recordá-lo devidamente.

Além disso, as gerações mais novas têm de conhecer modelos como este. É nossa responsabilidade manter a memória destes modelos viva.

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Fazemos uma petição?

O Peugeot 106 Rallye foi apresentado a 2 de outubro de 1993, no Salão Automóvel de Paris. Na cidade da alta costura, a Peugeot ousou apresentar um modelo totalmente «despido».

Provocação, ousadia ou audácia? Talvez um pouco de cada. O que faz sentido, porque o Peugeot 106 Rallye era isso mesmo: uma mistura de provocação, ousadia e audácia.

Peugeot 106 Rallye
O Peugeot 106 Rallye era como a Floribela, a personagem interpretada por Luciana Abreu: “não tinha nada, mas tinha, tinha tudo!”.

Porém, apesar do seu aspeto espartano e provocador, o 106 Rallye estava longe de ser um rebelde sem causa. Havia uma causa maior: o Peugeot 106 Rallye nasceu como especial de homologação para os ralis.

O nome deste modelo não podia por isso ser mais adequado: Rallye.

Sabemos que ainda falta algum tempo para a data oficial do seu aniversário, mas estamos a pensar fazer uma petição para tornar o dia 2 de outubro, dia em que foi apresentado ao mundo, feriado nacional. É um modelo que merece ser celebrado.

Estamos a exagerar? Talvez. Seria merecido? Sem dúvida nenhuma. O Peugeot representa o «desportivo do povo» em estado puro. Celebra a simplicidade, a emoção e o prazer de condução. Podíamos propor este dia como feriado religioso. Afinal de contas, estamos a falar de um modelo de culto. Começa a fazer sentido, não é?

Beleza na simplicidade

Peguem num automóvel e retirem tudo o que está a mais. Se for o carro certo, o resultado será brilhante — se não for, voltem a montar tudo. O Peugeot 106 era um carro «certo» para esse efeito. Amiúde, a Peugeot sempre teve jeito para desenhar utilitários. Basta recordar o 205, mas essa é outra história…

Seja como for, olhar para o Peugeot 106 Rallye é assistir ao triunfo da simplicidade. Havia três cores disponíveis: branco, preto e vermelho. As jantes? Podiam assumir qualquer cor desde que fosse o branco.

As cores da divisão de competição Peugeot Talbot dominavam os detalhes da carroçaria.

Depois tínhamos os para-choques desportivos e, claro, os autocolantes referentes a esta versão Rallye. E eram autocolantes por um simples motivo: redução de peso. Para quê usar plástico se o autocolante serve tão bem, não é?

No interior, eram os revestimentos em vermelho que mais se destacavam, em conjunto com cintos de segurança da mesma cor. Além disso, o volante desportivo de três braços também tinha o devido apontamento racing. Merece!

Peugeot 106 Rallye
© Peugeot Vidros elétricos? Nem pensar. E o rádio era um opcional. Tudo em nome de uma causa maior: o combate ao peso.

Guerreiro de quatro cilindros

Na «casa das máquinas» do Peugeot 106 Rallye encontrávamos um pequeno, mas voluntarioso motor cujo nome de código era TU2J2. Tratava-se de bloco de quatro cilindros com 1294 cm3 de capacidade e apenas duas válvulas por cilindro. Sem turbo, nem ajudas elétricas.

Leiam também: Glórias do Passado. Peugeot 106 Rallye: um «puro e duro» dos anos 90

Nesta altura, a simplicidade analógica era rainha. Mesmo assim, este pequeno bloco conseguia desenvolver uns interessantes 100 cv de potência que resistiam a quase tudo. E era entre as 5400 rpm e as 7200 rpm que o 106 Rallye soava como um desportivo à «séria».

Motor 1.3 TU
© Peugeot Abrindo o capot não havia muito para ver. Por isso o melhor era mesmo ir para a estrada.

Numa estrada de montanha, mantendo o motor nesta janela de oportunidade, ainda hoje o 106 Rallye é capaz de assombrar a traseira de alguns desportivos mais desprevenidos. Mas o mérito não é totalmente do motor.

Quando menos é (muito) mais

Além do motor, um dos principais trunfos do Peugeot 106 Rallye era o seu peso reduzido. Depois de eliminados alguns equipamentos e revestimentos, o pequeno leão acusava apenas 816 kg na balança.

Como referimos, até os logótipos na tampa da bagageira foram substituídos por autocolantes. Uma dieta que, aliada a uma caixa de velocidades manual de relações mais curtas, ainda amplificavam mais a experiência.

Em termos de prestações, os 10,3s necessários para acelerar dos 0 aos 100 km/h e os 190 km/h de velocidade máxima podem nem soar a muito — e não soam, de facto —, mas as sensações oferecidas superavam tudo isso.

Além disso, a suspensão herdada do 106 XSi incluía amortecedores e molas mais desportivas, além das barras estabilizadoras de grossura mais generosa. Tudo isto fazia sentir-se em estrada.

Apontando a dianteira à entrada de uma curva — com ou sem recurso ao travão de mão — se a frente passasse, o eixo traseiro seguia o mesmo destino. Sem grandes necessidades de correção ou dotes de condução exagerados.

Peugeot 106 Rallye
© Peugeot

Alias, foi esta sensibilidade às ordens do condutor que fizeram do Peugeot 106 Rallye o mito que é hoje. Naturalmente, o excesso de confiança fazia-se pagar. Até porque, nessa altura não havia ESP que nos valesse.

Peugeot 106 Rallye já é peça de coleção

Em 1993, quando chegou ao mercado, o Peugeot 106 Rallye era um dos pequenos desportivos mais acessíveis do mercado. Mas atualmente, uma unidade em bom estado de conservação, com a configuração original, pode ser bastante valorizada pelos colecionadores da marca ou de desportivos em geral.

Ainda assim, a verdadeira peça de coleção, destinada aos mais exigentes, era o Peugeot 106 Rallye R2.

Peugeot 106 Rallye
© Peugeot

Foi desenvolvida pela Peugeot, numa edição limitada a apenas 50 unidades. Mais do que um novo conjunto de autocolantes, usava alguns componentes de competição disponibilizados pela Peugeot Talbot Sport.

Entre eles, um sistema de escape completo da Devil, um filtro de rendimento e velas específicas, além de uma nova centralina. A suspensão recebeu amortecedores reguláveis e molas Eibach, foi instalada uma barra anti-aproximação e melhorados os travões. Para terminar, as jantes Speedline de cinco braços e cor branca também faziam a diferença.

Tanto quanto sabemos, nem todos chegaram aos dias de hoje. Algumas unidades do Peugeot 106 Rallye R2 tiveram um fim inglório, fruto da pouca valorização que durante anos foi dada a estes exemplares e dos maus tratos de muitos proprietários.

Feitas as contas, talvez pedir um feriado nacional para o Peugeot 106 Rallye seja um exagero. Admitimos que é a nossa vontade de tirar um dia de folga para conduzir um a falar mais alto. Estamos abertos a propostas…