Clássicos Três descapotáveis da Peugeot que não viram a luz do dia

Descapotáveis

Três descapotáveis da Peugeot que não viram a luz do dia

De uma assentada a Peugeot decidiu mostrar três projetos para descapotáveis que nunca chegaram à produção: 208 CT, RCZ Cabriolet e 204 UD.

Peugeot 204 UD, frente
© Le Nouvel Automobiliste

Projetos que são «arrumados na gaveta» pelos construtores, seja qual for o motivo, devem ser às centenas e na Peugeot não é diferente. O que não é muito comum é os vermos «às claras» como aqui.

No Musée De L’Aventure Peugeot, em Sochaux, França, no âmbito da exposição temporária “Style & Design” (de 22 de março a 22 de setembro), a marca decidiu expor três desses projetos cancelados, todos eles descapotáveis: o 208 CT, o RCZ Cabriolet e o 204 UD.

O Musée De L’Aventure Peugeot é um «velho conhecido» da Razão Automóvel. Em 2022 pudemos visitá-lo assim como o seu “armazém secreto”, que não está aberto ao público, onde a marca francesa guarda muitos dos capítulos mais importantes da sua história. Um vídeo a ver ou rever:

Os três descapotáveis da Peugeot também estavam «escondidos», entre vários projetos cancelados, e a uni-los está igualmente o facto de terem sido concebidos mais ou menos na mesma altura, no virar da primeira década deste século.

Foi um período particularmente sensível na Peugeot e no então Groupe PSA. Afinal, já se sentiam os efeitos da crise financeira global que quase levaram à falência o grupo francês.

Como é fácil de imaginar, projetos de nicho como estes, que nunca são os mais fáceis de aprovar, mesmo no tempo das «vacas gordas», muito menos o serão em tempos de crise aguda.

Peugeot 208 CT

Começamos pelo mais óbvio, o 208 descapotável, identificado aqui como 208 CT (projeto A97). Tanto os Peugeot 206 como o 207 tiveram versões descapotáveis, quando os «coupé-cabriolet» estava em alta, fazendo uso de capotas rígidas retráteis.

No entanto, este 208 CT faz referência ao mais antigo e referencial 205 CT/CTI, trocando a capota metálica por uma clássica de “lona”. A decisão de mudar foi apoiada no facto do 207 CC não ter replicado o sucesso do 206 CC, assim como nos custos mais reduzidos desta opção, além de permitir libertar mais espaço para os passageiros traseiros e bagageira.

Como curiosidade, este projeto foi iniciado às escondidas da administração, mais de um ano antes do lançamento do 208 em 2012, pelo então chefe de design do Groupe PSA, Jean-Pierre Ploué (hoje lidera design da Lancia e supervisiona design das marcas europeias da Stellantis); o chefe de design da Peugeot, Gilles Vidal (hoje na Renault); e pelo diretor de marketing, Xavier Peugeot (hoje lidera a divisão de veículos comerciais da Stellantis).

O projeto do 208 descapotável foi avançando tendo chegado ao ponto de a austríaca Magna — que produzia o RCZ —, ter finalizado o mecanismo da capota. De tal forma que, no verão de 2011, o projeto seria aprovado após ter sido apresentado a uma surpreendida administração. O problema é que não tinha ainda passado pelo escrutínio financeiro.

Para mais, o projeto do 208 descapotável estava a competir com um rival interno: o DS3 Cabrio. No final foi este que acabou por receber a luz verde e não é fácil de perceber porquê. A industrialização do DS3 Cabrio — que seguia a fórmula do Fiat 500C, com um teto em lona retrátil — ficava muito mais em conta: 50 milhões de euros contra os 200 milhões de euros do 208 CT.

DS3 Cabrio na estrada com teto recolhido, traseira
© DS Automobiles DS3 Cabrio.

É uma discussão muda sobre se o 208 CT seria ou não um sucesso comercial. O que é certo é que depois do fim dos 207 CC e 308 CC em 2015, a Peugeot nunca mais teve um descapotável na sua gama. O pragmatismo do português Carlos Tavares, que tomou as rédeas do Groupe PSA em 2014, não deixou espaço para projetos de nicho. A sobrevivência do grupo estava em risco e por isso apostou onde sabia que teria mais retorno: SUV.

Peugeot RCZ Cabriolet

A história do RCZ Cabriolet não difere muito da do 208 CT. O RCZ Coupé foi lançado em 2009 e desde logo especulou-se que seria seguido por um descapotável, à imagem do alemão Audi TT — o seu rival natural que sempre contou com um coupé e um roadster (dois lugares).

Na altura, a Peugeot negou o desenvolvimento de tal variante, mas a verdade é que, pelo menos, a considerou, como prova o modelo exposto no Musée De L’Aventure Peugeot. Ao contrário do TT, o RCZ Cabriolet conservou os dois lugares traseiros e vem com uma capota… diferente.

Capota Peugeot RCZ Cabriolet
© Le Nouvel Automobiliste

Segundo a informação disponível, a intenção era a de que a capota replicasse o tejadilho de dupla bossa do RCZ Coupé, um dos elementos mais distintos do seu design. No entanto, tal nunca foi conseguido, mas a capota em si é bastante original. Repare que, além do vidro traseiro (acrílico neste modelo), conta com outro à frente, acima dos passageiros dianteiros.

A impossibilidade de recriar o tejadilho do coupé em “lona” foi o que acabou por «matar» o projeto — é o que se pode ler na informação que acompanha o modelo. Contudo, é mais fácil de acreditar que os problemas financeiros do Groupe PSA na altura determinaram o cancelamento deste e outros projetos.

Mais uma vez, recordamos a chegada de Carlos Tavares à liderança do Groupe PSA em 2014. Uma das suas primeiras decisões foi o de racionalizar o catálogo de produtos: o Peugeot RCZ terminaria a sua carreira em 2015, sem deixar sucessor.

Peugeot 204 UD

Por fim, mas não menos importante, terminamos com o 204 UD (de Urban Distinctive), um projeto mais amplo do que apenas o descapotável que ilustra este artigo: estava previsto também uma berlina e uma carrinha.

Dos três é o mais curioso e original, devido à aposta no estilo retro, «colado» ao 204 original (1965-1976) — a Peugeot, ao contrário de outros, nunca olhou pelo retrovisor para inspirar ou influenciar modelos de hoje, mas como vemos, quase o fez.

Não é difícil de justificar este regresso do 204. A Peugeot na altura procurava subir o seu posicionamento e olhando para o sucesso de carros como o novo Mini ou o Fiat 500, ter um carro compacto de aparência neo-retro e chic, parecia ser a melhor forma de o conseguir — o contemporâneo e popular 207 não era de todo o modelo certo para essa missão.

Deve ter sido a conclusão a que chegou Jérôme Gallix, o então chefe de design da Peugeot, que impulsionou o programa de estilo Urban Distinctive, do qual este 204 fez parte. O projeto ganhou muitos adeptos, até Thierry Peugeot, que na altura era presidente do conselho de supervisão do Groupe PSA.

Porém, também o projeto do 204 UD — não só o descapotável, como todas as suas variantes —, seria terminado. Desta vez, não foram apenas os problemas financeiros do grupo a interferir.

Em 2009 aconteceu uma importante mudança de cadeiras na Peugeot. Jean-Pierre Ploué foi promovido ao cargo de diretor de design e Gilles Vidal assumia a liderança entre os concept cars (protótipos). E a visão destes para a Peugeot era claramente futurista — nada de olhar para o passado.

Basta ver o primeiro resultado dessa visão, o concept Peugeot SR1 de 2010 — um roadster — que não podia contrastar mais que este 204 UD. A exceção foi, talvez, a criação do e-Legend, criado à imagem do 504 Coupé.

Veremos a Peugeot regressar aos descapotáveis? Nunca digam nunca, mas até lá, veja estes projetos e outros que estão em exibição, até 22 de setembro, no Musée De L’Aventure Peugeot: