Clássicos Porsche 718: recordar um ícone da indústria automóvel

Legado

Porsche 718: recordar um ícone da indústria automóvel

Desde as notáveis prestações em Le Mans até às aventuras na Fórmula 1, hoje celebramos o legado deixado pelo histórico Porsche 718.

Porsche 718

O Porsche 718 voltou à baila o ano passado (NDR: à data da publicação original deste artigo) — 59 anos depois do seu lançamento — devido à decisão da marca alemã de voltar a usar esta nomenclatura nos modelos de acesso à gama Porsche, leia-se Boxster e Cayman.

Como sabem, a Porsche abdicou dos motores flat-six atmosféricos nestes modelos, em função de uma arquitetura de quatro cilindros opostos, igual à do Porsche 718 original. Segundo a marca, motivo mais que suficiente para homenagear este importante modelo. Mas o que tinha este modelo de tão especial? Tudo, mas vamos por partes.

Inicialmente, o Porsche 718 Spyder RSK (nome completo) surgiu como uma versão melhorada do icónico Porsche 550A — cuja versão Spyder ficou famosa por ter vitimado o ator James Dean — com modificações na suspensão e carroçaria. De resto, o projecto era bastante semelhante ao do seu antecessor, com base no chassis tubular e carroçaria em alumínio.

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O motor boxer 1.5 l de quatro cilindros debitava 142 cv de potência e era igual ao utilizado nas últimas versões do 550A, e foi com esta motorização que o Porsche 718 participou na sua primeira prova: as 24 Horas de Le Mans de 1957. Infelizmente, o carro guiado por Umberto Maglioli e Edgar Barth sofreu um acidente na 129ª volta e não conseguiu terminar a prova.
Porsche 718 RS

Apesar da desilusão, a Porsche acreditava que os níveis de aerodinâmica, rigidez estrutural e acerto da suspensão do 718 eram bastante superiores aos do 550A, e por isso regressou ao Circuito de la Sarthe no ano seguinte, mas com um bloco 1.6 l de 160 cv. O upgrade no motor provou ser suficiente para o Porsche 718 vencer a sua categoria e conseguir o 8º lugar da classificação geral.

Nos anos seguintes, devido à popularidade do 718 e também às regras impostas pela FIA, assistiram-se a várias tentativas da Porsche em realizar melhorias no carro: em 1959, o desportivo ganhou uma nova suspensão com um esquema de braços sobrepostos, e no ano seguinte,  o Porsche 718 (com a designação RS 60, na imagem acima), venceu as 12 Horas de Sebring, nas mãos dos pilotos Hans Herrmann e Olivier Gendebien.

Em 1961, surge a primeira versão com um motor de 2 l (W-RS, na imagem em baixo) que duplicou o número de cilindros — são oito cilindros opostos —, com uma potência de 240 cv (!). O desportivo alemão classificou-se no 8º posto nas 24 Horas de Le Mans e venceu o Campeonato da Europa de Montanha, ambos em 1963.

1962 porsche 718 w-rs spyder

Mas a história do Porsche 718 não se fez apenas de corridas de resistência. Retrocedendo ao ano introdutório de 1957, foi nessa altura inaugurada uma nova categoria na Fórmula 2 para veículos com motor até 1.5 l, que rapidamente despertou a atenção do fabricante alemão. Graças à posição central da caixa de direção, a Porsche conseguiu sem grandes dificuldades transformar o 718 num monolugar, designando-o por Porsche 787.

A estreia nas provas de Fórmula 2 ocorreu no ano seguinte, com vitórias nos circuitos de Reims e AVUS. Mas talvez a conquista mais marcante tenha sido a tripla vitória de Graham Hill, Jo Bonnier e da lenda viva Sir Stirling Moss, ao volante do Porsche 718 no circuito Aintree, em 1960, um feito repetido mais tarde no circuito de Zeltweg, na Áustria.

porsche 804 f1 race car 1962
Contudo, a ambição da Porsche ia mais além: inscrever o desportivo na Fórmula 1. E assim foi. Com um motor 1.5 l, a marca alemã colocou em 1961 três pilotos ao volante do seu desportivo: Jo Bonnier, Hans Herrmann e Dan Gurney. Contudo, só este último conseguiu posições de destaque, ao alcançar três segundos lugares.

No ano seguinte, o carro adoptou não só um novo nome — Porsche 804 (na imagem acima) — mas também um motor de 8 cilindros opostos, tal como a versão W-RS. Mais uma vez, o piloto americano Dan Gurney foi o único a triunfar, desta feita com vitórias no Grande Prémio de França e no circuito de Solituderennen, em Estugarda.

Por tudo isto, parece-nos merecida a homenagem da Porsche a um dos modelos mais marcantes da sua história. O Porsche 718 regressa no próximo Salão de Genebra na pele de 718 Cayman e 718 Boxster, numa tentativa de manter viva a tradição da marca alemã. Ou foi isto, ou foi uma boa desculpa para justificar “historicamente” uma decisão económica: reduzir o número de cilindros dos motores do Cayman e Boxster.