Especial Visitámos o museu privado (e quase secreto) da SEAT

Especial História

Visitámos o museu privado (e quase secreto) da SEAT

Conduzi um SEAT clássico, sentei-me num Ibiza Cupra MK1, abri um WRC e ainda conheci um carro que podia ter ganho o Dakar. Fiz isto e muito mais no Museu da SEAT.

A fábrica de Martorell, situada a 30 km de Barcelona, tem mais de 2 800 000 m2 de área, e é responsável pela produção anual de mais de 450 000 automóveis.

Podem chamar-lhe fábrica de Martorell, mas eu prefiro chamar-lhe quartel general da SEAT. Soa melhor, não soa?

É neste local, composto por 15 edifícios principais, que trabalham mais de 7000 pessoas no desenvolvimento e produção dos modelos da marca espanhola.

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fábrica de martorell
Em abono da verdade, aqui não se trabalha apenas em modelos SEAT. Os engenheiros da marca espanhola também costumam dar uma mãozinhas aos colegas da Audi e Lamborghini…

Com números tão esmagadores e no meio da agitação constante de uma fábrica que não dorme, seria fácil o pequeno armazém A122 passar despercebido.

Mas foi precisamente o armazém A122 o motivo da minha viagem à fábrica de Martorell.

É neste espaço fechado ao público, erguido exatamente no mesmo local onde em 1953 a Sociedade Española de Automóviles de Turismo construiu a sua primeira fábrica, que a SEAT decidiu instalar o seu museu privado.

Um local onde a marca preserva, restaura e guarda os mais importantes capítulos da sua história. Uma história com mais capítulos do que eu imaginava…

O equivalente para adultos, a uma criança numa loja de brinquedos. Ou nos dias que correm, a um tablet com jogos infinitos…

Este artigo será sobre a minha visita ao armazém A122, o museu privado (e quase secreto) da SEAT. Uma das deslocações mais interessantes que já fiz ao serviço da Razão Automóvel.

Mais adiante vão perceber porquê.

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Um museu só para mim

Há convites que são irrecusáveis. E visitar o museu privado da SEAT foi um desses convites.

Apesar da constante ligação a outras marcas, a SEAT soube construir a sua própria identidade. A prova está aqui.

É um local cujas portas raramente estão abertas a “estranhos”, e os responsáveis da SEAT deixaram-me «à solta» neste museu privado, durante mais de cinco horas. Não o deviam ter feito… porque fiz tudo aquilo que não se deve fazer num museu.

Sentei-me nos carros, tirei-os do sítio, e até meti alguns a trabalhar — todos os modelos deste museu estão 100% funcionais.

Tudo isto, naturalmente, sob o olhar atento da pequena equipa que todos os dias cuida deste espaço e dos seus inquilinos de quatro rodas.

Museu da SEAT

A parte mais interessante disto tudo? Ninguém se preocupou com a minha presença. Ali, naquele espaço, vive-se a paixão pelos automóveis de uma forma que não estava à espera.

Os responsáveis da coleção não podia ter sido mais prestáveis.

Isidre López Badenas, responsável pelo Museu da SEAT, com Guilherme Costa

Apresentaram-me todos os modelos. Desde o SEAT 1400, o primeiro carro da marca, passando pelo incontornável SEAT 600, que colocou Espanha sobre rodas, até à mais recente geração do SEAT Ibiza.

Nesta galeria podes conhecer alguns desses modelos. FAZ SWIPE:

No total, são mais de 60 anos de história que davam para muitas horas de conversa, mas o tempo estava contado. Tinha avião de regresso para Lisboa no mesmo dia.

Com o relógio a marcar horas de forma galopante, entre tantos motivos de interesse, o modelo que roubou mais o meu tempo foi o SEAT Ibiza Cupra Mk1.

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Porquê? Porque fez-me recuar até à minha infância, altura em que praticava uma dieta à base de revistas de automóveis.

SEAT Ibiza CUPRA

Como sabem, sou da geração de 80. Aquela geração que sonhou ao folhear revistas que no seu interior traziam narrativas que nos colocavam indiretamente ao volante de modelos como o Saxo Cup, Polo G40, 106 GTI, AX GTI, e claro… Ibiza Cupra!

Na altura, o Ibiza Cupra era um «maquinão» dos diabos. Estava equipado com um motor 2.0 l MPI de 150 cv, cumpria os 0-100 km/h em 8,3s e só dava sossego ao condutor quando o ponteiro marcava 215 km/h. Ainda hoje são números que impõe respeito.

Até hoje, nunca tinha visto nenhum ao vivo. E finalmente ali estava ele, eu mais crescido que nunca, ele, tão irreverente como sempre.

SEAT Ibiza Cupra Mk1
Os mostradores com fundo cinza, os bancos desportivos e os manómetros adicionais eram alguns dos detalhes exclusivos do SEAT Ibiza Cupra Mk1.

Adorei revisitar este modelo mais de 20 anos depois, e constatar que não está assim tão desatualizado. Foi talvez o ponto alto da minha visita.

Sobre o segundo modelo que mais tempo roubou a minha atenção não vou falar hoje. Mas posso adiantar que foi SEAT Toledo Marathon. Um carro que podia perfeitamente ter ganho o Dakar

Mas vamos deixar esse assunto para outro artigo, ok?

SEAT Toledo Marathon
Debaixo das roupagens do SEAT Toledo, repousa um motor oriundo diretamente do Grupo B.

Vamos conduzir!

Só há uma coisa melhor do que falar de carros. É isso mesmo… conduzir carros!

Isidre López Badenas, responsável pela coleção da SEAT, pelo vistos também partilha desta opinião e convidou-me para ir dar uma volta num dos carros do museu.

Mais concretamente num SEAT 124, que estava em tão bom estado, que parecia ter saído da linha de produção há uma semana.
SEAT 124

Foi muito interessante dar este salto tecnológico de 40 anos, e perceber quanto os carros evoluíram nas últimas décadas.

A servir de comparação, não podia estar outro modelo que não o SEAT Ateca, um dos mais jovens pupilos de Martorell.

SEAT Ateca e SEAT 124

Não vou estabelecer comparações entre os dois modelos porque é despropositado. Mas é importante dizer que, apesar da diferença de idades, o SEAT 124 já era um carro bastante fácil de guiar. Fiquei surpreendido com a exatidão da caixa e com a leveza da direção.

A minha visita não terminou, sem antes dar uma volta num dos modelos mais curiosos que já alguma vez conduzi.

Vejam estas imagens do SEAT Siata:

Trata-se de um modelo único, desenvolvido pela SEAT, nascido com um único propósito: servir de shuttle dentro da fábrica para altos quadros da SEAT, celebridades, membros do Governo e da Casa Real Espanhola.

Motivos mais que suficientes para eu questionar se podia sequer tocar-lhe…

A verdade é que pude tocar-lhe e até conduzi-lo. Cortesia dos responsáveis da SEAT que nestas coisas parece que são ainda mais aventureiros do que eu. É bom ver apaixonados pelos automóveis à frente dos destinos da marca.

Saí de Martorell com a sensação de que ficou muito por ver e ainda mais por contar. Acham que vale a pena lá voltar?

Estou convicto que sim. Talvez da próxima vez tire o Ibiza Cupra Mk1 do armazém A122 e o leve a dar uma voltinha até ao YouTube da Razão Automóvel. Gostavam?