Crónicas A lei das duas semanas na carreira de Carlos Tavares

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A lei das duas semanas na carreira de Carlos Tavares

Na carreira de Carlos Tavares não há decisões imponderadas nem passos em falso. Bastaram novamente duas semanas para conhecermos o próximo.

Carlos Tavares discurso
© Stellantis

Tinha um professor de Economia Política que costumava dizer: “a história nunca se repete, mas quem não a conhece é surpreendido por ela”. Demorei algum tempo a compreender o alcance desta frase — fui sempre um aluno mediano.

Se o exame fosse amanhã, diria que a história pode não repetir-se, mas encontramos nela pistas importantes para o futuro. Querem um exemplo? Carlos Tavares sabe sempre qual é o seu próximo passo. E esses passos medem-se, curiosamente, em duas semanas.

A 15 de agosto de 2013, Carlos Tavares, à época braço direito de Carlos Ghosn, o genial e controverso CEO da aliança Renault-Nissan-Mitsubishi, fez uma declaração inesperada: confessou publicamente que as suas ambições como CEO não podiam ser concretizadas na Renault. Ghosn pediu-lhe que se retratasse, mas Tavares manteve-se firme. O desfecho era previsível: duas semanas depois, a 29 de agosto, Tavares fechava a porta do seu gabinete na Renault.

Carlos Tavares
Aquela que foi, provavelmente, a “carta de motivação” mais ruidosa da história da indústria automóvel rapidamente deu frutos: apenas seis meses depois, Carlos Tavares era anunciado como CEO do Grupo PSA.

Agora, algo semelhante parece estar a acontecer. No primeiro dia deste mês de dezembro, enquanto competia no Circuito do Estoril, Carlos Tavares anunciou a sua renúncia à liderança da Stellantis, o gigante automóvel que ajudou a criar — unindo os interesses dos acionistas da PSA e da FCA, apaziguando os receios dos políticos e contornando as desconfianças dos reguladores europeus.

Duas semanas depois, temos um novo desfecho para a sua carreira. Na passada sexta-feira, dia 13 de dezembro, revelou publicamente o seu interesse em contribuir para o futuro da TAP. Não como gestor, mas como acionista.

Aos 66 anos, Tavares parece estar mais focado em deixar um legado do que em conquistar novos píncaros empresariais. Quando fala publicamente, as suas palavras não são mais sobre si, mas sobre o futuro. Com regularidade, refere “preocupação com os netos”, que podemos interpretar como um apelo ao futuro das próximas gerações. No contexto da TAP, afirmou ao jornal Expresso que o seu interesse está enraizado num “apelo patriótico” e na esperança de um “final feliz para Portugal”.

Talvez dois exemplos sejam insuficientes para fundamentar uma teoria das “duas semanas” na carreira de Tavares. Mas se daqui a seis meses Carlos Tavares for oficialmente anunciado como acionista da TAP, teremos motivos para revisitar esta hipótese. Afinal de contas, “a história nunca se repete, mas quem não a conhece é surpreendido por ela”…