Crónicas E se abastecer um carro a combustão fosse tão complicado como carregar um elétrico?

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E se abastecer um carro a combustão fosse tão complicado como carregar um elétrico?

O carregamento de um carro elétrico devia ser tão simples como abastecer um carro a combustão, mas ainda não chegámos a esse ponto.

Abastecimento de combustível, gasóleo
© Engin Akyurt / Unsplash

Para quem nasceu e aprendeu a conduzir antes da proliferação de automóveis elétricos, o processo de atestar um automóvel com «energia» sempre foi algo relativamente simples.

Colocando a questão dos custos de lado, o processo de abastecimento de um automóvel foi algo que aprendi desde muito cedo, a partir do assento traseiro do carro, quando ainda tinha de me esticar para chegar à janela com o objetivo de perceber o que é que o meu pai estava a fazer com aquelas mangueiras.

Anos mais tarde, quando chegou a minha vez de experimentar, não tive qualquer dificuldade, sendo que as diferenças para os dias de hoje (tirando os preços) são quase inexistentes. Ou seja, basta parar ao lado da bomba, escolher a pistola certa (gasolina ou gasóleo), abastecer, pagar e ir embora. Simples, certo?

abastecimento de combustível
© Wassim Chouak / Unsplash

Nos elétricos não é assim tão simples e por isso lanço-vos um desafio. Imaginem abastecer um carro com motor de combustão seguindo os mesmos passos e regras para carregar um automóvel elétrico num posto público.

Mesmo antes de chegar ao posto de abastecimento já teríamos de ter um contrato com uma gasolineira para ter acesso ao serviço de abastecimento através de um cartão.

Depois teríamos de consultar no sistema de infoentretenimento do veículo ou numa aplicação no telemóvel, se no posto de abastecimento da «nossa» gasolineira há bombas disponíveis. E se não houver, verificar quais estão a ser usadas em tempo real e fazer umas contas de cabeça para pararmos perto daquela que deverá ficar livre primeiro.

Processo de «abastecimento»

Chegados ao posto de abastecimento e à bomba livre, é necessário ir até junto desta com o objetivo de nos identificarmos com o cartão. Caso seja aceite — esperemos que a bomba esteja online —, podemos finalmente abastecer o carro.

Só que primeiro temos de escolher a mangueira certa entre as duas ou três opções disponíveis que é compatível com o carro. Se não, temos de ir buscar a mangueira que o carro transporta — sim, temos de andar com uma mangueira no carro.

Com tudo «encaixado», o sistema da bomba «conversa» com o sistema do carro, por uma questão de segurança, de modo a saber qual o débito de combustível ideal para o abastecimento. Finalmente, depois de tudo confirmado e aceite, começa o abastecimento.

No painel de instrumentos ou através de uma aplicação, é indicado o tempo que vai demorar a abastecer, consoante a capacidade do depósito do carro ou do débito da bomba. O que é certo é que vai demorar mais tempo.

Assim que o depósito chegar aos 100%, será necessário ir novamente junto da bomba para encerrar o processo de abastecimento, usando o cartão.

Um passo que é necessário para destrancar o sistema, de forma a poder tirar a pistola do bocal de abastecimento e voltar a colocá-la no seu lugar. Ou então, retirar a pistola e voltar a enrolar a sua própria mangueira para a arrumar novamente no carro.

Só falta pagar, mas essa é a parte que acontece automaticamente, consoante o contrato escolhido.

Demasiado confuso?

Quanto a vocês não sei, mas isto parece-me confuso. É claro que tentei ser o mais detalhado possível, mas não estou longe da realidade. Um dos melhores exemplos acontece sempre que estou a testar um automóvel elétrico para a Razão Automóvel.

Primeiro, porque não tenho nenhum cartão de acesso aos postos de carregamento públicos e os carros de teste não são meus. Algumas marcas fornecem cartões, caso seja necessário carregar o carro, mas por vezes não é possível usá-los, porque os carregadores da zona onde estou não estão online.

Por isso é que vi com muitos bons olhos a notícia de que, finalmente, tudo isto parece ir acabar já no próximo ano, graças à nova regulamentação AFIR (leiam no artigo acima). A partir de abril de 2024, todos os postos de carregamento novos terão de incluir uma forma de pagamento imediato. E no início de 2027, este sistema será mesmo obrigatório em todos os postos instalados ao longo da RTE-T (rede transeuropeia de transportes), através de uma conversão ou atualização.

Desta forma, quando viajar num automóvel elétrico, assim que acender a «luz da reserva», poderá procurar um qualquer posto de carregamento, carregar o carro, pagar e continuar a viagem.

Dificilmente demorará tão pouco tempo como o abastecimento de um carro a combustão, é certo, mas muitas destas «confusões» deixarão de existir.