Crónicas Regressei a 1984. Conduzi um SEAT Ibiza pela primeira vez

Efeméride

Regressei a 1984. Conduzi um SEAT Ibiza pela primeira vez

Foi a primeira vez que conduzi um clássico, e o primeiro SEAT Ibiza mudou a minha forma de olhar para os automóveis. Espero voltar.

© SEAT

Na passada sexta-feira, dia 9 de fevereiro, estive numa festa de aniversário. Não de uma pessoa, mas de um automóvel: o SEAT Ibiza. Fui convidada para as celebrações do 40.º aniversário deste modelo da SEAT.

A festa decorreu na fábrica de Martorell, local que é uma espécie de «berço» da SEAT e também de onde nas últimas décadas saíram mais de seis milhões de unidades do Ibiza. E quando digo festa, foi mesmo festa.

5 gerações do SEAT Ibiza
© SEAT As 5 gerações do SEAT Ibiza.

O plano consistia em acordar às 4h30 da «matina», apanhar um voo para Barcelona, conduzir as cinco gerações do Ibiza pelas ruas da cidade de Montjuic, fazer uma visita guiada ao museu já-não-tão-secreto-como-antigamente da SEATobrigado Guilherme!… — e voltar para Portugal antes do relógio bater as 12 badaladas.

Questões geracionais à parte, agora percebo o encanto dos carros clássicos.

Tenho a dizer que tudo isto foi cumprido com sucesso, mesmo que não tenha conseguido conduzir todas as gerações. Mas pelo menos conduzi aquela que mais queria. Não é difícil adivinhar qual é, pois não?

O «quarentão charmoso»

Tenho a dizer que das três gerações que eu conduzi — primeira (Tipo 021), terceira (6L) e quarta (6J) —, a que mais me impressionou foi a primeira. Para além de ser a primogénita da geração Ibiza, veio para as minhas mãos quase como nova e com muitos poucos quilómetros. No final da tarde já estava uns quilómetros mais «pesada».

Tenho de confessar que inicialmente estava algo intimidada. Comecei a recordar as histórias do meu pai, do tempo em que os carros tinham de «puxar o ar» e «compensar o acelerador» nos arranques. Comecei a pensar que não ia conseguir passar sequer os portões da fábrica…

Senti que a minha (ainda recente) carreira no jornalismo automóvel podia estar em causa. É que uma coisa é falar sobre os automóveis clássicos — e eu tenho um carinho especial pela história do Ibiza — outra é conduzir um!

Nasci em 2001, por isso, como devem calcular, foi a primeira vez que conduzi um carro sem direção assistida. Mas estranhamente, a experiência foi bem mais simples do que estava à espera. O primeiro Ibiza é, apesar da ausência de ar condicionado e de outras comodidades das quais já não abdicamos, menos arcaico do que estava à espera.

Desenhado por Giorgetto Giugiaro (considerado o maior designer automóvel do século passado), «mobilado» pela Karman e animado por uma motorização cujo desenvolvimento contou com a ajuda da Porsche, o primeiro Ibiza conduz-se estranhamente bem. É despachado até…

Não admira que fosse despachado… Tratava-se do 1.5 com 85 cv.

Só é pena o ponto de embraiagem «sensível» e os «abrandadores» no lugar de travões — sim, estou mal habituada, eu sei. Este modelo foi o mais perto que estive de «experienciar» o século passado e adorei. Palavra de Gen Z!

Tem potência para nos levar onde quisermos, só é preciso ter atenção à «falta de travões», que a combinar com a falta de airbags, pode ser complicado. Gostei, sem dúvida, mas agradeci nascer no século XXI.

Ler também: Testámos o renovado SEAT Ibiza. Mudou o suficiente para continuar competitivo?

Gerações seguintes

Curiosamente, depois de conduzir a primeira geração passei para a quarta (6J) — e senti-me nas nuvens. Para contexto, apesar de mais jovem, a quarta geração do Ibiza já não vai para nova tendo sido produzida entre 2008 e 2017. Parece que foi ontem, mas já passaram 16 anos desde o seu lançamento.

Mudar de um modelo para o outro, foi uma experiência… revigorante. De repente a estrada deixou de ter buracos, meter o pisca é só pressionar a haste para cima ou para baixo, e travar… bem… é tão bom quando queremos travar e o carro trava mesmo.

Não me interpretem mal, voltaria a repetir a experiência as vezes que fossem necessárias, e se me oferecessem um SEAT Ibiza de 1984 provavelmente beijava o chão (provavelmente não beijava). No entanto conduzir um carro com airbag, sistema eletrónico de estabilidade, Hill Hold Control, e acima de tudo ar condicionado… Muda vidas. Eu sei porque normalmente ando de transportes públicos…

Devem estar a perguntar-se: no meio disto tudo onde se insere a terceira geração (6L)? Bem… mesmo no meio. Como seria de esperar. Se senti uma diferença enorme da primeira geração para a quarta, a 6J (2001-2009) «não é carne nem peixe», é um misto dos dois.

Apesar das semelhanças tecnológicas — não lhe falta nada daquilo que é essencial — deu para sentir a evolução da indústria automóvel do início do milénio até ao fim da primeira década.

Questões geracionais à parte, agora percebo o encanto dos carros clássicos como o primeiro SEAT Ibiza. Há algo de muito cativante na simplicidade dos carros mais antigos que ainda não consigo muito bem explicar. Ainda não tive tempo de digerir tudo o que vivi.

Uma coisa é certa: todos deviam conduzir um clássico pelo menos uma vez na vida. A minha geração, que nunca «abriu um ar» ou «afogou um carro» — obrigado aos responsáveis da SEAT por toda a ajuda — teriam muito a aprender com esta experiência.

Numa época em que nenhum de nós estava «conectado» foi o automóvel que nos aproximou. Cada vez tenho menos dúvidas de que o automóvel teve, tem e terá um papel importantíssimo no futuro da mobilidade. Mais uma vez, palavra de Gen Z.

O (não tão secreto) museu da SEAT

Claro que não podia acabar o artigo sem mencionar, pelo menos mais uma vez, a visita guiada ao museu da SEAT. Houve um tempo em que a marca não comunicava muito este espaço — o Guilherme fez uma excelente reportagem há cinco anos sobre este local.

Mas parece que à medida que o tempo passa, o nosso orgulho no passado vai aumentando, não é? Os meus vinte e poucos anos já deram para perceber isso.

Atualmente, encontramos aqui 170 carros dos quais 90% são funcionais. É neste olimpo que a SEAT preserva algumas das suas relíquias. Desde o papamóvel, que foi utilizado apenas duas vezes em 1982, passando pelos modelos de competição e terminando nos mais recentes modelos da marca.

Para além destes, encontram-se ainda «guardados» modelos que nunca chegaram a conhecer a «luz do dia» como é o caso do SEAT Ibiza Cabrio — infelizmente, não me deram a oportunidade de experimentar este. À chuva, em Montjuic, teria ficado, no mínimo, uma filmagem linda.

Três SEAT Ibiza de primeira geração, com o protótipo do Cabrio ao meio
© SEAT O Ibiza Cabrio (ao meio) nunca passou da fase de protótipo.

Entrei no avião de regresso a Portugal cheia de recordações e de alguns sentimentos mistos. Celebrar os 40 anos do Ibiza sem ter a certeza de que a festa vai continuar numa 6ª geração é estranho. Há marcas que são muito mais do que isso e até uma jovem como eu percebe isto…

Com isto, só me resta dizer: Parabéns, SEAT Ibiza!

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Pode encontrar a resposta aqui:

SEAT Alhambra. Os argumentos do monovolume nascido em Portugal