Crónicas Fazer drift não é marcar golo

Condução

Fazer drift não é marcar golo

Ainda que visualmente seja muito apelativo, o drift ou powerslide (como queiras...) está sobrevalorizado. As verdadeiras skills não moram aí...

Toyota GT86

Este artigo é, sem dúvida, para partilhar com aquele teu amigo que acha que é um «ás ao volante». Dar toques na bola está para o futebol como o drift está para os automóveis. Não é por dares uns toques na bola e fazeres umas «fintas bonitas» que podes ser futebolista. Da mesma forma que não é por seres o «rei das rotundas» lá do bairro que podes ser um piloto profissional. É preciso muito mais que isso.

Para ser piloto é preciso uma sensibilidade extra. Sensibilidade para entender o carro e ler as suas reações. Da mesma forma que para ser um futebolista profissional é preciso saber ler o jogo, antecipar jogadas, antecipar movimentos e adaptar a estratégia em tempo real. Dominar a bola ou dominar o automóvel é apenas uma infinitésima parte do processo de marcar golo ou vencer corridas.

Escrevo isto na senda de algumas conversas de café com amigos (daquelas que nunca terminam, sabes?), nas quais cheguei à conclusão que o Fernando Alonso, Nico Rosberg, Lewis Hamilton, Jenson Button, Daniel Ricciardo, etc, só têm lugar na grelha da Fórmula 1 porque aqueles predestinados estão entretidos a falar comigo numa esplanada à volta de um pires de caracóis!

Morgan 3 wheeler

Falando novamente dos automóveis, fazer vistosos slides é simples. Com o devido tempo e espaço para treinar, qualquer um consegue ser uma versão doméstica do Ken Block.

Difícil é retirar aquelas duas últimas centésimas de segundo por volta numa qualificação (as centésimas que separam os homens comuns, como tu e eu, dos deuses da condução); difícil é fazer uma e outra volta, consecutivamente, defendendo a posição dos outros pilotos; difícil é gerir o desgaste dos pneus e continuar a ser rápido; difícil é gerir as mudanças de grip da pista; difícil é gerir a fadiga mantendo a concentração; difícil é ter a sensibilidade para afinar um carro de «fio a pavio»; difícil é trocar o tal «prato de caracóis» por uma dieta à base de comida de pássaro (vulgo bagas de goji, quinoa, sementes de Sésamo, linhaça, etc) em nome da rapidez de reações e máxima capacidade física.

Mazda MX-5

Tudo isto é que é difícil (principalmente não comer caracóis…). Por isso é que fazer uns bonecos engraçados não faz de nenhum de nós campeões de coisa alguma — no máximo, faz de nós uns condutores acima da média.

Sei que estas palavras vão cair em «saco roto», e da próxima vez que estivermos todos juntos a ver uma corrida de F1 algum deles vai dizer “com aquele carro? Até eu ganhava corridas!”. Não Miguel, não ganhavas… nem jogar à bola sabes quanto mais conduzir!

RELACIONADO: Os automóveis modernos parecem a minha sogra