A voar cada vez mais alto. Goodwood Festival of Speed celebra 30 anos

O primeiro Goodwood Festival of Speed realizou-se em 1993 e logo nessa edição inaugural reuniu 25 mil espetadores, deixando evidente o enorme potencial do evento.

Nas últimas edições esse número subiu para 200 000 pessoas ao longo do fim de semana prolongado em que o evento se realiza, em junho ou julho.

E neste Goodwood Festival of Speed 2023 — a 30.ª edição — teve de tudo um pouco: um dia cancelado por ventos fortes, banhos de multidões, um número recorde de apresentações mundiais de novos modelos, dezenas de pilotos de renome mundial e um conjunto impressionante de efemérides. Tudo para celebrar o automóvel.

A relevância do Goodwood Festival of Speed tem crescido ao mesmo tempo que a dos salões automóveis (nacionais e internacionais) tem diminuído.

Facto que tem sido bem aproveitado pelo Lord de March (9.º Conde de Richmond) para alargar a temática desta que é a maior concentração de carros de corrida clássicos e modernos.

Mão cheia de aniversários

Este ano não faltaram aniversários e efemérides que tiveram destaque em Goodwood 2023: 75 anos da Porsche, 75 anos de Lotus, 100 anos das 24 Horas de Le Mans, 60 anos da McLaren, 50 anos do Mundial de Ralis, 75 anos da NASCAR.

Sempre e devidamente abrilhantados pela presença de lendas humanas e motorizadas, por leilões de carros históricos e uma grande quantidade de novos modelos em estreia mundial.

Muitos anos de vida

Como todos os anos, os pavilhões, os relvados de exposição, os paddocks, parques dos motorhomes, bancadas, ecrãs gigantes, avenida dos stands e zonas de entretenimento espalham-se ao longo e nas imediações da famosa rampa com 1,16 milhas (1,87 km) de extensão e por onde desfilam — em ritmo de passeio ou em sprints frenéticos — a maioria das grandes estrelas do evento.

Sensivelmente a meio da rampa brilha a sumptuosa mansão do Conde de Richmond, em frente da qual todos os anos é montada uma gigantesca construção que celebra uma das marcas em destaque nesta edição do festival. Este ano foi a Porsche a homenageada, no momento em que sopra 75 velas.

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Para além de todos os demais aniversários já mencionados, o próprio Goodwood Festival of Speed 2023 estava de parabéns pela realização desta 30.ª edição, assinalada logo na abertura, a 13 de julho, com o desfile do anfitrião aristocrático ao volante do seu Jaguar Type D, tal como o tinha feito há precisamente três décadas.

Estava dado o mote para quatro dias de festa… que acabariam por ser reduzidos a três porque, pela primeira vez desde que o evento se realiza, o mau tempo levou ao cancelamento do dia de sábado.

Festa é festa

Porsche e desportivos são quase sinónimos, por isso não é de estranhar que se tenha tornado a primeira marca a ser o “tema central” de Goodwood, pela quarta vez na história do evento.

Com alguns dos modelos mais icónicos, a escultura de Gerry Judah apresentava os modelos 804, 963, 962, 356 e as gerações 992 e 997 do eterno 911.

Naturalmente que um dos desfiles na subida da rampa teve como temática os modelos mais famosos da Porsche, desde o Spyder 718/8 de 1961 até ao 963 de 2023.

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Os pilotos que fizeram história e devolveram a glória à Ferrari nas recentes 24 Horas de Le Mans estiveram também presentes.

Viveram o seu momento “Eva Perón” na varanda da mansão, acenando a uma multidão em delírio, até pela presença de alguns dos Ferrari mais importantes na história de Le Mans (onde a Ferrari não participava oficialmente na categoria principal há 50 anos), incluindo o vencedor da prova deste ano.

Com menos rodas, mas não menos entusiasmo, nada menos do que seis equipas do atual Mundial de Moto GP (como a Aprilia, a Ducati, a KTM e a Honda) passaram também pela mágica varanda, depois de terem subido a rampa em aquecimento para o GP de Inglaterra, a realizar no mês de agosto.

E foi possível ver o atual campeão do Mundo Francesco Bagnaia, abraçado a alguns dos seus distintos antecessores como Kevin Schwantz ou Giacomo Agostini.

Agostini acumulou 15 títulos mundiais na sua sala de troféus, oito dos quais na categoria-rainha de 500 cm³ e que não deixou escapar a oportunidade de, mesmo aos 81 anos, subir a rampa em duas rodas.

Sebastian Vettel em grande

Não é fácil perceber quem tem mais protagonismo em Goodwood nesta edição de 2023, se os monolugares ou os pilotos de Fórmula 1.

Este ano, como habitualmente, foram vários os que cansaram a mão dominante a conceder autógrafos a miúdos e graúdos, como os já retirados Jenson Button, Mika Häkkinen, Damon Hill, Mark Webber, Esteban Gutierrez, Sir Jackie Stewart ou os ainda no ativo Oscar Piastri, Alex Albon ou Mick Schumacher.

Schumacher, o atual piloto de reserva da Mercedes, viveu e proporcionou um momento bastante emotivo quando assumiu o volante do Mercedes-AMG F1 W02 que o seu pai guiou durante a temporada de Fórmula 1 de 2011. Tom Kristensen, o recordista de vitórias na centenária corrida de Le Mans, também não faltou á chamada.

Mas a principal estrela entre os notáveis da F1 este ano foi Sebastian Vettel. O tetra-campeão do Mundo esteve em várias frentes mesmo tendo participado no festival apenas no domingo.

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Primeiro como proprietário de dois F1 históricos ao volante dos quais subiu a rampa — Williams FW14B n.º 5 com que Nigel Mansell se sagrou campeão mundial em 1992 e McLaren MP4/8 com que Ayrton Senna conseguiu o vice-campeonato em 1993 —, mas também fazendo uso dos seus dotes de piloto, não só pela velocidade alcançada como também pelos piões com que fez questão de deixar a multidão em delírio durante esse desfile acelerado.

Além disso, Vettel aproveitou o palco para promover a sua missão “Race without trace” (Correr sem deixar rasto), lançada em 2022 logo após a sua retirada do Mundial de F1, que incentiva a adoção de combustível sustentável tanto pela indústria como nas corridas de automóveis.

“Todos os que estamos aqui amamos os automóveis com motor de combustão e os combustíveis sintéticos são a forma de prolongarmos a sua vida, por isso é uma causa que todo deveríamos abraçar”,

Sebastian Vettel

Passado e futuro

Poucos eventos dedicados ao automóvel fundem passado e futuro como o Goodwood Festival of Speed 2023. De um lado os visitantes puderam ver (e alguns dos mais abastados licitar) cerca de 240 clássicos reunidos pela Bonhams Cars para o leilão de sexta-feira à tarde.

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Entre os quais brilharam (mesmo debaixo de chuva) um Aston Martin DB5 de 1964 que se tornou famoso nas mãos de James Bond (vendido pelo equivalente a 380 000 euros) e um Mercedes-Benz SLR McLaren Crown Edition Coupé (arrebatado por cerca de 438 000 euros).

A principal estrela acabou por ser o Koenigsegg CCGT GT1 Competition Coupé de 2007. O carro foi projetado pelo exclusivo fabricante sueco para competir nas 24 Horas de Le Mans de 2007, mas que nunca chegou a acontecer devido a uma mudança nos regulamentos da corrida mais famosa do mundo.

O seu novo proprietário pagou nada menos de 3,84 milhões de euros para levar esta peça única para casa, um valor que representou quase um terço dos 12,41 milhões de euros de receita da prestigiada empresa de leilões britânica, só na tarde de 14 de julho em Goodwood.

Leilão

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Fernando Gomes

Outro espaço de celebração do automóvel clássico é o Cartier Style et Luxe Concours d’Elegance que decorre num dos bem cuidados relvados desta propriedade na costa britânica, cerca de 100 km a sudoeste de Londres.

O ‘Best in Show’ foi atribuído (por um painel de juízes onde figura, por exemplo, o chefe de design da Ferrari, Flavio Manzoni) ao Bentley 4 ¼ litros Rothschild Sedanca Coupe de 1937.

Com os olhos no futuro, o pavilhão Future Lab regressou pelo sexto ano ao Goodwood Festival of Speed, com o tema “Tecnologia para um Mundo Melhor” e com a presença inspiradora dos ex-astronautas Tim Peake e Mike Mongo.

Mesmo ao lado destas invenções com o objetivo último de melhorar o nosso planeta, estavam montados os pavilhões de mais de dezena e meia de fabricantes de automóveis de maior ou menor dimensão, exibindo vários veículos alguns dos quais em estreia mundial absoluta.

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Alguns dos que mais atenção mereceram: Alpine A290_β, Bentley Speed ​​Six Continuation, Caterham Project V, Ferrari KC23, Ford Explorer, Genesis X Convertible, Hyundai IONIQ 5 N, INEOS Grenadier Quartermaster, Kia EV9, Lamborghini LMDh, McLaren Solus GT, MG Cyberster, Porsche 718 Spyder RS, Renault R5 Turbo 3E e Singer DLS Turbo Project, entre outros.

E o vencedor é…

Mesmo num evento em que o principal objetivo é proporcionar momentos de delírio entre o público (que este ano encheu até aos limites todas as áreas da propriedade do Conde de Richmond) e os carros de corrida (principalmente) e os pilotos-celebridade, há sempre lugar para um vencedor.

A maioria dos veículos sobem a rampa em ritmo de passeio ou moderado (ainda assim com alguns excessos que culminaram em dispendiosos trabalhos de bate-chapas…), mas a shootout de domingo tem com objetivo premiar o carro e piloto mais rápidos a chegar ao topo da rampa de 1,8 km. 

Fiquem a conhecer o vencedor da rampa de Goodwood 2023:

Arranque a Frio

Dominador. McLaren Solus GT foi o mais rápido em Goodwood

O McLaren Solus GT foi o mais rápido a subir a rampa no Goodwood Festival of Speed e conseguiu o terceiro melhor tempo de sempre.

Fernando Gomes

Joaquim Oliveira

Com mais de 30 anos de carreira, Joaquim Oliveira é um dos mais reputados jornalistas do setor automóvel. Colabora com a Razão Automóvel desde 2019.

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