Crónicas O dia em que andei à chuva sem capota com um Honda S2000 e não me molhei

Experiências de condução

O dia em que andei à chuva sem capota com um Honda S2000 e não me molhei

Começar a chover quando andamos de descapotável acontece muito mais vezes do que desejaríamos. Mas há dias em que a teimosia fala mais alto.

Honda S2000 com capota aberta junto a água
© Honda

Há duas verdades praticamente absolutas no mundo do jornalismo automóvel. A primeira tem a ver com o facto de haver sempre mais do que duas pessoas a transportar quando estamos a ensaiar um carro de apenas dois lugares. E a segunda está relacionada com a decisão de S. Pedro que o dia será de chuva, sempre que a nossa «boleia» é um descapotável, impedindo a abertura da capota.

É claro que também há muitos dias em que isto não acontece. Mas desses nunca nos lembramos. Os momentos que nos marcam é quando a regra parece não ter qualquer exceção. E neste caso, vou sempre recordar o dia em que colocaram em cima da minha secretária a chave de um Honda.

Honda S2000 3/4 traseira
©Honda

Tratava-se de uma chave igual a tantas outras, apenas marcada com o logótipo da Honda. Nem sequer tinha porta-chaves para lhe fazer companhia, nem qualquer indicação de que modelo se tratava. Vinha apenas acompanhada da indicação de que iria ser o meu próximo ensaio.

Recordo-me perfeitamente de sair da redação mais tarde que o habitual e de chegar ao parque de estacionamento. E estava lá, de facto, um Honda, mas não era um Honda qualquer, mas sim um… S2000. E claro, estava a chover…

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Um Honda S2000, chuva e questões de logística

Depois de olhar para o roadster da Honda que eu estava desejoso de conduzir, o êxtase momentâneo rapidamente deu lugar ao peso da realidade — e com a lei de Murphy pelo meio. É que, além de estar a chover, havia mais duas pessoas para ir para casa comigo e que ainda tinha de ir buscar. Óbvio.

Honda S2000 3/4 frente escuro com reflexo
©Honda

Ainda surgiram algumas ideias sem sucesso em ritmo de fast-forward, mas tudo acabou por se resumir a um «que se lixe», com algum vernáculo pelo meio. Despejei tudo o que trazia comigo para o porta-bagagens, entrei no carro, abri a capota e arranquei.

Ainda parei junto do segurança à saída das instalações para o tradicional “até amanhã”, enquanto ouvia uma pequena risada do outro lado da janela. Afinal, estava a chover. “Não me hei-de molhar”, pensei, enquanto arrancava para uma viagem que ia ser mais longa do que o programado.

Capota aberta, vidros fechados, defletor de ar traseiro instalado e saídas da ventilação viradas para mim para uma temperatura mais «confortável». A chuva parecia estar a abrandar e acabei por chegar rapidamente ao primeiro destino. O Honda S2000 era fabuloso. E ainda mais divertido — talvez assustadoramente divertido… — com o piso molhado.

De uma única viagem teria de fazer duas, cada uma com uma distância de 100 km, se considerar ida e volta. A lotação máxima do S2000 assim o exigia.

E como as outras pessoas, incluindo uma bebé de meses, não têm culpa de eu não ter juízo, apenas viajei sem capota quando estava sozinho.

Honda S2000 interior
©Honda

Primeira viagem concluída, cheguei à garagem, tirei tudo do carro e levei para casa… Incluindo a bebé. E já vinha a descer no elevador quando ouvi um enorme trovão. A chuva não estava com vontade de abrandar. E esta ideia de andar de descapotável à chuva até estava a ser divertida. Por isso, capota de novo aberta e arranquei para mais uma etapa de 50 km.

A magia da aerodinâmica

Casaco apertado até ao topo, condutas de ar viradas para mim, uma posição de condução mais «afundada» no assento, vidros subidos até cima e a convicção de que não me ia mesmo molhar. E a verdade é que nem estava a ser complicado. Em autoestrada, pelo menos.

A uma velocidade mais elevada e com um pequeno defletor de ar atrás, a aerodinâmica do Honda S2000, como magia, faz com que a água passe por cima de nós e não entre a bordo. Mais complicado é fazer com que isso aconteça fora da autoestrada, a velocidades mais baixas.

É necessário relembrar que o Honda S2000 não estava carregado de sistemas de ajuda à condução como acontece agora. Além disso, a sua condução também gostava de desafiar o condutor em determinados momentos.

Mas com tração traseira, piso molhado e o estar a usufruir dos benefícios da aerodinâmica para não me molhar, só fizeram com que, no final, me divertisse bastante.

Honda S2000 3/4 frente
© Honda

Que viagem memorável, de que não posso contar alguns pormenores. Consegui fazer quase tudo sem me molhar… Ok, exceção feita talvez ao cabelo e um pouco dos ombros.

Ao chegar a casa, confesso que desejava haver mais outra pessoa para ir buscar e fazer novamente a viagem de capota aberta e de Honda S2000. Não fosse a luz da reserva entretanto ter acendido…

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É claro que hoje não o voltaria a fazer. Quer dizer, provavelmente não o faria. Já passaram uns anos e o juízo é diferente. Pouco, mas diferente.

Apesar disso, não posso deixar de admitir que foi uma daquelas experiências de que me hei de lembrar durante bastantes anos. Uma experiência de condução analógica e mais exigente do que o habitual. Daquelas a que, a curto prazo, poderemos deixar de ter acesso.