Crónicas As viagens de carro e a nossa infância

Memórias

As viagens de carro e a nossa infância

Hoje que sou pai, olho para trás com alguma saudade das viagens de carro. Das brincadeiras com os meus primos e da ânsia de chegar.

Criança perto de Renault Clio de primeira geração
© Renault

Ontem, ao final da tarde, abri a janela do meu carro para «levar» com aquela brisa típica dos dias de verão mais frescos. Ao abrir o vidro, não foi só uma brisa fresca que entrou. Entraram também algumas memórias da minha infância. Estava a passar por um pinhal e fui transportado algures para o início da década de 90.

O cheiro a pinhal levou-me para a praia de São Torpes, perto de Sines. Ao lado desta praia existia um pinhal onde, no pico do calor, as famílias se refugiavam para fugir às temperaturas mais elevadas, fazer grelhados e dormir umas sestas. No mês de agosto, aquela praia e aquele pinhal era sempre o nosso destino durante duas semanas.

As viagens de carro ontem…

Com isto lembrei-me dessas viagens de carro. Do cheiro do Rover 214 do meu tio Lima, do Ford Escort do meu tio Zé — matrícula DN se a memória não me falha… — e do cheiro a vapor de gasolina do Kadett já muito «clássico» da minha mãe.

Recordo alguns desses episódios neste vídeo. Passei por alguns desses locais neste vídeo:

Hoje sei que dependendo das marcas, há cheiros que são iguais de modelo para modelo. Só depende da cola usada por cada construtor no processo de fabrico. Entrem por exemplo num Volkswagen da década de 80/90 e vão todos cheirar ao mesmo.

Mas regressando ao tema das memórias de infância e dos automóveis. Mesmo quem não gosta de automóveis sente esta nostalgia.

E mesmo quem não tem grande afinidade com carros, faz por ter o melhor carro possível. Escolhendo por vezes modelos ou tecnologias que nem sequer precisa.

No fundo sabemos, mesmo não admitindo, que aquele objeto de quatro rodas vai acompanhar-nos em alguns dos melhores momentos das nossas vidas e por isso queremos o melhor. Nas férias, nas idas à casa dos sogros, nas visitas à família que está “lá em cima”, nas idas à praia com a mala carregada até cima. Vocês sabem do que estou a falar…

Olhando em retrospectiva, reparo que algumas das melhores memórias da minha infância estão correlacionadas com os carros. Talvez seja por isso que gostamos tanto de automóveis.

Entretanto, muita coisa mudou. O nível da segurança foi uma delas. Recordo-me que o lugar mais disputado por mim e pelos meus primos era o lugar do meio. Queríamos ir a ver a estrada.

No carro da minha tia Cinda havia uma barra metálica com espuma, fixada nos encostos de cabeça do Clio e era «aquilo» que supostamente nos salvava em caso de colisão. Felizmente nunca testámos a segurança de tal equipamento nas nossas viagens de carro. Cintos? Eram obrigatórios, mas só nos lugares da frente segundo «reza a lenda».

Miúdos a olhar para o interior do Renault Clio I
Renault Communication – Droits reserves Um dos meus passatempos preferido em criança: olhar para os mostradores para ver a velocidade máxima.

… e hoje

Hoje sou pai, e recordo com saudade essas viagens. Anseio pelo dia em que o meu filho também vai começar a criar as suas próprias memórias. Dos jogos de palavras com as matrículas, de ir a cantar e até dos enjoos — ok, esta última dispenso. Mas agora com cadeirinha e cinto de segurança, naturalmente!

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Farei tudo para que ele olhe para os automóveis sem os complexos que hoje nos querem impor: que os automóveis são inimigos da sociedade e das cidades. Não são, fazem parte delas. Da mesma forma que fazem parte das nossas memórias e das nossas vidas.

O automóvel é um dos objetos mais úteis, práticos e apaixonantes alguma vez criado pelo homem. Vamos celebrá-lo! Até por algo maior: o direito à mobilidade individual e, já agora, pelas nossas memórias futuras. Por muitas mais viagens de carro.