Crónicas Ainda sabemos apreciar modelos como este? Hoje é diferente

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Ainda sabemos apreciar modelos como este? Hoje é diferente

Os tempos mudaram, os elétricos elevaram a fasquia mas os «velhos» como o Mercedes-Benz 500 E continuam a ter o seu encanto. Sempre.

Mercedes 500 E TRASEIRA CURVAR
© Mercedes-Benz

Os elétricos vieram mudar a nossa percepção de potência máxima e performance. Já é difícil ficarmos surpreendidos com potência que não superem os 400 cv.

Acelerações dos 0-100 km/h em menos de 5 segundos, por exemplo, estão hoje acessíveis a um número muito maior de modelos. Já ninguém fica propriamente surpreendido. Podemos até falar de democratização da potência.

Os carros estão absurdamente rápidos e potentes. Um exemplo paradigmático dessa democratização de potência e performance é o Kia EV6 GT, que foi eleito World Performance Car of The Year 2023. Por pouco mais de 70 mil euros podemos ter na garagem um carro com quase 600 cv de potência — 585 cv para ser mais preciso.

Há 10 anos, quantas centenas de milhares de euros era preciso despender para ter o mesmo nível de perfomance num carro a combustão? Basta uma visita ao site de algumas marcas de luxo para termos a resposta.

Efetivamente há um antes e depois dos elétricos. E sim, não é bem a mesma coisa, eu sei. Estamos a falar de experiência de condução diferentes. Mesmo assim, números são números.

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Por isso hoje, quando olhamos para o passado, é impossível não esboçar um sorriso quando comparamos modelos atuais com glórias de outros tempos.

Vamos a exemplos? Uma das minhas berlinas desportivas de sonho — pela estética, pelo design e pela sua história que já contei neste artigo — é o Mercedes-Benz 500E da geração W124. Um modelo que na década de 90 roubava todos os títulos.

Tinha a tecnologia certa, o aspeto certo, foi produzido pela Mercedes-Benz e desenvolvido e fabricado pela Porsche.

Mercedes 500 E W124 frente
© Mercedes-Benz Parece que todos os astros se alinharam para nascer um modelo que, para mim, é a síntese perfeita de um familiar desportivo. Mesmo volvidas quase três décadas.

Agora vem a tal parte que dá vontade de esboçar um sorriso. Aos olhos de hoje o Mercedes-Benz 500 E (W124) não é assim tão rápido: 5,9 segundos dos 0-100 km/h e 250 km/h de velocidade máxima. Até o pequeno Smart #1 Brabus o oblitera.

Alias, qualquer familiar compacto desportivo deixa-o para trás numa reta.

Os tempos são outros. O grandioso motor V8 (M 119) com 5.0 litros de capacidade do Mercedes-Benz 500 E debitava «apenas» 326 cv de potência. Continua a ser uma mecânica nobre — sem dúvida — mas olhando somente para a ficha técnica não impressiona.

Os tempos mudaram, é verdade. Mas isso não muda o facto de o Mercedes-Benz 500 E ser um modelo extraordinário. Nós que gostamos de automóveis temos de começar a sensibilizar os mais jovens: a potência não é tudo.

Em bom rigor, o Mercedes-Benz E500 é tão rápido hoje como era há uns anos. O mundo é que acelerou. E talvez por isso, na procura de outras sensações, nós continuemos a olhar para trás. Às vezes é preciso abrandar, até para apreciar a velocidade.

Mercedes 500 E W124 interior
© Mercedes-Benz Os fanáticos dos ecrãs táteis não vão conseguir perceber a magia deste interior. Quase dá para sentir o cheiro a «vou durar a vida toda».

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