Crónicas Ovo estrelado. Os mais jovens já não sabem o que é

Condução

Ovo estrelado. Os mais jovens já não sabem o que é

Este dístico amarelo com o "90" inscrito ficou conhecido como o "ovo estrelado". Ainda se lembra para o que servia e será que deveria voltar?

Ovo estrelado em Peugeot 106

Perguntar a um jovem condutor o que é aquele dístico amarelo a dizer “90” na traseira do carro, conhecido como o “ovo estrelado”, é um pouco como aquele meme da cassete e esferográfica BIC. Uma pessoa mais jovem provavelmente não saberá qual a relação «íntima» entre os dois objetos.

Se já tem uma certa idade, certamente saberá responder às duas questões, mas se ainda for jovem, daremos a resposta à razão de ser do ovo estrelado — desde 1988 que deixou de ser obrigatório. Quanto à relação entre a cassete e a BIC, pergunte aos seus pais. Certamente o saberão.

Em primeiro, respondendo à questão, este dístico circular amarelo servia para identificar todos os condutores recém-encartados. Após obterem a carta de condução, durante um ano, o carro que conduzissem teria de exibir na traseira esse dístico.

carta de condução
© Razão Automóvel

Desta forma, o condutor que seguisse atrás saberia que à sua frente circulava um condutor com menos experiência. E a inscrição “90” indicava o limite de velocidade a que podia circular.

Boas intenções esbarram na realidade

As intenções por detrás desta medida eram, em princípio, positivas. Sabendo que o condutor à nossa frente era ainda um «maçarico», os outros condutores poderiam e deveriam ter uma atitude mais tolerante e compreensiva aos eventuais erros de principiante doss jovens condutores. E também dar «mais espaço» à realização de manobras para não causar mais ansiedade ao recém-encartado.

Sejamos honestos. Ninguém nasce ensinado e se recuarmos aos nossos primeiros tempos de condução, aposto que todos temos histórias de erros básicos e até idiotas cometidos devido à falta de experiência ou a um maior nervosismo inicial.

Bem… as intenções iniciais até podem ter sido boas, mas também, provavelmente, algo ingénuas.

Rapidamente o dístico ganhou a alcunha de “ovo estrelado” e não foi preciso muito para que os recém-encartados passassem a ser uma espécie de alvo por parte de outros condutores. Fosse com um excesso de buzinadelas ou até pela realização de manobras perigosas para assustar os «maçaricos».

A falta de civismo continua a ser, infelizmente, uma das características da nossa sociedade.

De tal forma foi o efeito contrário ao pretendido que a lei que obrigava ao uso do dístico amarelo foi revogada em 1988.

Faz sentido o “ovo estrelado” voltar?

Apesar de o dístico amarelo ter desaparecido há várias décadas, podemos encontrar esta medida em vários países, com resultados mais positivos.

Aqui ao lado, em Espanha, os recém-encartados são obrigados a usar um dístico retangular verde com um “L” branco inscrito, colocado no óculo traseiro do veículo, também durante um ano. E não parece que essa medida vá desaparecer em breve.

Poderia o “ovo estrelado” regressar a Portugal — provavelmente com outra cor ou formato —, ou, mais uma vez, seria um testemunho de ingenuidade? E será que faz sentido identificar exteriormente os novos condutores?

Em Itália, por exemplo, ao invés de identificar os novos condutores com um dístico, decidiram limitar as características dos veículos que podem conduzir.

Após tirar a carta de condução, durante um ano, o jovem condutor italiano só pode conduzir veículos com uma relação peso/potência de até 55 kW (75 cv) por tonelada (o mesmo que 13,33 kg/cv) e com uma potência máxima nunca superior a 70 kW (95 cv).