Crónicas Portugal. País de «aceleras» ou de limites de velocidade desajustados?

Velocidade

Portugal. País de «aceleras» ou de limites de velocidade desajustados?

A proliferação de radares leva-nos a crer que somos um país de aceleras. Mas será que é assim ou estão os limites de velocidade desajustados?

Velocimetro
Rohit Tandon/Unsplash

A proliferação de radares nos últimos tempos leva-nos a questionar: será Portugal um país de «aceleras» que precisa de ser disciplinado ou um país onde os limites de velocidade são desajustados e se torna cada vez mais difícil circular sem entrar em incumprimento?

Por um lado, os números da Autoridade Nacional de Segurança Rodoviária (ANSR) acerca da sinistralidade nos últimos anos não deixam dúvidas.

Os condutores portugueses parecem continuar a ter dificuldades em cumprir os limites de velocidade e apesar de nem sempre esse incumprimento traduzir-se em acidentes, muitos dos acidentes com vítimas mortais ou feridos graves continuam a ser atribuídos ao excesso de velocidade.

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Contudo, nem é preciso olhar para os dados para nos apercebermos que em Portugal se conduz depressa — basta ir para a estrada —, ou pelo menos com alguma falta de atenção relativamente aos limites de velocidade.

Experimentem circular numa avenida, numa autoestrada, numa estrada nacional ou em qualquer via neste país cumprindo o limite de velocidade imposto. Ao fazê-lo, rapidamente se vão ver acossados por luzes coladas à vossa nuca como que a «empurrarem-vos».

O problema não são só os «aceleras»

Posto isto, este raciocínio não deixa de ser redutor. Quando conduzimos de acordo com os limites de velocidade depressa nos apercebemos que sim, há «aceleras», mas também nos deparamos com limites desajustados.

Alguém acha que faz sentido, em plena Segunda Circular, em Lisboa, após passamos o Estádio da Luz e iniciamos a subida em direção ao IC 19, passar quase de repente de um limite de velocidade de 80 km/h para 50 km/h numa faixa com três vias e com trânsito intenso, mesmo sabendo que se trata de um «ponto negro»?

Velocímetro
À saída de algumas autoestradas em menos de 500 metros somos «obrigados» a reduzir dos 120 km/h para velocidades tão baixas como os 40 km/h, desde quando é que isto contribui para a segurança rodoviária? E, mais ainda, quantos de nós alguma vez cumpriram estes limites? Mauro Sbicego/Unsplash

Mas há mais. Em quantas e quantas estradas nacionais por este país fora encontramos limites de velocidade de 50 km/h em longas retas com perfeita visibilidade, apenas porque são consideradas localidades não só por haver uma placa à entrada e outra à saída a dizê-lo, mas também por existirem algumas casas espalhadas com acessos discriminados até um qualquer portão?

Seria menos seguro circular a uns razoáveis e também controlados 70 km/h?

Não defendo a ausência de controlos de velocidade, até para evitar efetivamente os excessos, mas não é adotando limites extraordinariamente reduzidos que os vão impedir de acontecer.

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Como combater os excessos?

A meu ver, há várias formas de combater os excessos de velocidade. Uma delas passa, claro está, pela fiscalização. Contudo, esta fiscalização tem de ser feita «às claras» para o devido efeito de dissuasão, e não com veículos descaracterizados e escondidos equipados com um radar.

Se queremos «educar» os condutores devemos fazê-lo de forma pedagógica, e aí penso que a forma como os radares da rede SINCRO têm sido instalados e, acima de tudo, sinalizados, é um bom exemplo do que de bem se tem feito neste âmbito.

Dito isto, não se perdia nada em rever os limites de velocidade em alguns locais, ajustando-os às condições das vias e também… ao bom senso.

De nada serve colocar limites de velocidade desajustados que serão facilmente ultrapassados pelos condutores, até por uma questão de segurança e auto preservação. Em alguns casos parece ser mais perigoso cumprir o limite imposto do que ir um pouco acima desse mesmo limite.

Leva-me até a questionar se a colocação desse mesmo limite de velocidade terá apenas e só que ver com o tópico da segurança rodoviária.

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