Crónicas Foi preciso um grande par de motores para fazer este Renault 5

Ousadia

Foi preciso um grande par de motores para fazer este Renault 5

Este 100% elétrico não merece ser apelidado de Renault 5 Turbo. Podemos concordar que discordamos? Luca De Meo tomou a decisão certa.

traseira 5 Turbo 3E
© Renault

Chama-se Renault 5 Turbo 3E e não tem turbo. Nem turbo nem motor de combustão. Por isso, há quem defenda que não merece o nome “R5 Turbo”. Como já devem ter adivinhado pelo título, respeito quem pensa assim — nos dias que correm, é melhor deixar isto explícito… —, mas penso de forma diferente.

Luca de Meo, diretor-executivo do Grupo Renault, precisou de um grande par de motores (e de muita coragem…) para fazer um carro assim: 100% elétrico, com produção limitada e com tecnologia específica. Falando dos motores, como estava a dizer, foi preciso um par deles: cada um, capaz de desenvolver mais de 270 cv, para uma potência total combinada de 540 cv.

E foi precisa muita coragem. É um produto com um risco elevado. Vão ser produzidas apenas 1980 unidades, com um preço que estará compreendido entre os 100 mil e os 200 mil euros — eu sei que é um intervalo gigantesco, mas foi o melhor que consegui “arrancar” dos responsáveis da marca francesa.

Merece o nome Renault 5 Turbo?

Vamos recuar a 1980. Quem liderava os destinos da Renault era Bernard Vernier-Palliez, que exerceu o cargo de presidente e diretor-geral da Renault entre 1975 e 1981. Foi ele que aprovou os planos de Jean Terramorsi, diretor de produto na Renault e pai espiritual dos motores turbo na marca francesa.

Entradas de ar laterais
© Renault

Terramorsi sonhava com um carro pequeno, leve e radical, movido por um motor turbo em posição central traseira — algo impensável numa marca generalista na época. Bernard Dudot, responsável pelo desenvolvimento técnico dos motores da Renault Sport, garantiu que a loucura de Terramorsi não ficava apenas no papel.

Também nessa altura houve coragem e ousadia — exatamente os mesmos ingredientes que encontramos no Renault 5 Turbo 3E, agora elétrico. A essência não está no turbo ou sequer no tipo de motor, mas sim na capacidade de arriscar, de provocar e de surpreender.

Por isso, sim, o Renault 5 Turbo 3E merece o nome que tem. Não é apenas o regresso de um ícone, é a reinterpretação moderna daquele mesmo espírito pioneiro que, em 1980, abanou os fundamentos da Renault e nos fez sonhar. No meu caso com algum “lag” porque só nasci em 1986…

O mundo nunca mais esqueceu o Renault 5 Turbo. Só o tempo dirá se este R5 Turbo moderno terá o mesmo efeito. Olhando para o resultado final, acho que já valeu a pena tentar.

É importante arriscar

É importante que as marcas de automóveis não percam esta vontade de arriscar e de provocar. Mesmo que pelo meio possam perder dinheiro — desenvolver um carro de raiz elétrico para vender 1980 unidades é muito arriscado, perguntem a Mate Rimac.

detalhe traseira renault 5 turbo 3e
© Renault

No final do dia, o importante é ganhar dinheiro onde importa: nos modelos de volume. Essa é a parte mais difícil — perguntem a quem quiserem — e nesse particular a Renault, sob a liderança de Luca de Meo, está a conseguir dar a volta por cima. Não basta um par de motores, é preciso uma centralina à altura.

Sabe esta resposta?
Qual era a potência máxima do motor 1.4 do Renault 5 Turbo original?
Oops, não acertou!

Pode encontrar a resposta aqui:

Renault 5 Turbo. Quando Turbo era sinónimo de performance e loucura