Crónicas Vamos brincar? Ao volante do Lamborghini Huracán Sterrato em terra

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Vamos brincar? Ao volante do Lamborghini Huracán Sterrato em terra

O Sterrato é o primeiro Lamborghini Huracán nascido para brilhar em troços de terra. Altura de colocá-lo à prova no complexo de Nardò.

Lamborghini Huracán Sterrato em pista de terra em Nardo
© Lamborghini

Qualquer Lamborghini é suficientemente espetacular para que qualquer apaixonado por carros superdesportivos dê por si a sonhar que está com as suas mãos bem fixas na pega abrasiva de um volante de um ultrarrápido Huracán Tecnica em estradas públicas ou a celebrar voltas a um circuito de velocidade aos comandos do brutal Huracán STO.

No entanto, o título de Huracán que garante a maior diversão ao volante parece estar entregue à sua mais recente derivação:

“Nenhum Huracán consegue garantir os mesmos níveis de diversão ao volante que o Sterrato, com aquela sua mania de andar mais de lado do que de frente.”

Gaetano Santoro, diretor da gama de modelos Huracán

Mesmo sendo o Lamborghini mais lento a ser apresentado nos últimos anos (260 km/h e 610 cv contra 340 km/h e 640 cv da versão mais potente), o Sterrato leva para casa, com larga margem, o título do mais divertido de guiar e aquele que mais facilmente desperta a criança que há em nós.

Tão irracional quanto único, como aquele brinquedo a que cada um de nós se apegou na infância e que só a custo foi convencido a largar.

Sterrato em Nardò

Desta vez a «brincadeira» aconteceu no Centro Técnico de Nardò, no sul de Itália, um complexo de pistas de testes top secret inaugurado pela Fiat em 1975, mas que desde 2012 pertence à Porsche.

São mais de 20 pistas de testes espalhadas por todo o complexo. A mais conhecida consiste num anel de velocidade com 12,6 km de perímetro e 16 m de largura com quatro vias, de diferente inclinação — cada uma com um limite de velocidade crescente, indo até os 260 km/h na mais exterior.

ornalista Joaquim Oliveira a entrar no Lamborghini Huracán Sterrato
© Lamborghini Se há carro que desperta a criança que há em nós terá de ser o Lamborghini Huracán Sterrato.

No entanto, a pista onde eu iria conhecer a «fera escavadora» (Sterrato em italiano) é uma pista de terra conhecida como Estrada Branca (Strada Bianca) com dois traçados de 2130 m, um exterior mais retilíneo (O) e um interior muito mais sinuoso (S).

Após dois voos — de Lisboa para Roma e depois para Brindisi, perto do calcanhar da bota italiana — tudo o que me separava desta experiência era meia hora de transfer por estrada, passar pela apertada segurança para entrar no centro técnico e uma apresentação detalhada sobre o que se pode fazer dentro das instalações.

Finalmente começava a ver a luz no fim do túnel — ou o Sterrato —, porém, antes de sair para a Estrada Branca, na companhia de Mario Fasanetto, o chefe de pilotos de testes da Lamborghini, deu-me ainda umas dicas importantes sobre o Huracán Sterrato e também sobre este circuito de terra. Agora sim, a minha criança interior estava em êxtase.

“Vai ter as voltas gravadas em vídeo e também toda a telemetria devidamente registada, para depois ver na aplicação Unica o que fez e o que poderia ter feito melhor.”

Mario Fasanetto, chefe de pilotos de testes da Lamborghini

Falsa partida

No entanto, antes do arranque, é preciso «pôr os pontos nos is». Uma breve síntese do que temos em mãos, foi feita por Gaetano Santoro, gerente de produto da Lamborghini, que é quem melhor conhece esta «fera».

“As principais diferenças”, diz-me Santoro, “resultam da altura ao solo elevada em 44 mm (face ao Evo), as proteções metálicas dianteiras, as saias laterais, o novo difusor traseiro e, claro, as proteções das partes baixas da carroçaria. As entradas de ar laterais do motor estão fechadas e a que funciona é a por cima do tejadilho, para assegurar que o ar usado na admissão é o mais limpo possível.”

Os pneus Bridgestone Dueler (235/40 à frente e 285/40, sempre em jantes de 19”), conseguem processar a muita terra que entra pelas ranhuras da borracha.
© Lamborghini Os pneus Bridgestone Dueler (235/40 à frente e 285/40, sempre em jantes de 19”), conseguem processar a muita terra que entra pelas ranhuras da borracha.

A distância entre-eixos é 9 mm mais comprida devido aos pneus diferentes, as vias são mais largas (3 cm à frente e 3,4 cm atrás) e o curso da suspensão dianteira é 25% mais longo e a traseira 35%.

A Lamborghini anuncia 1470 kg (peso a seco) para o Huracán Sterrato e para esse valor contribuem o plástico usado nas proteções da carroçaria, o alumínio de que é feito o capô, a asa traseira e os travões de cerâmica de carbono.

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Se há uma dose de exclusividade garantida em cada Lamborghini, neste caso ainda há mais, porque o Sterrato é o único Huracán de produção limitada — 1499 unidades.

As unidades produzidas em 2023 diferenciam-se pelo logótipo “60”, em referência aos 60 anos da marca. Pista e carros ultra-exclusivos, portanto, vamos a isto.

Agora sim…

Já no interior, e com a comunicação com o copiloto Fasanetto assegurada pelos intercomunicadores dos capacetes, reencontro os elementos conhecidos da família Huracán: o volante forrado em Alcantara, o botão vermelho start, cuja tampa vermelha oca dá ares de lançamento de míssil, e os modos de condução Strada, Sport e — este é novidade — Rally.

Consola central
© Lamborghini

Logo nas primeiras centenas de metros apercebemo-nos de que a mão-cheia de centímetros adicionais entre o carro e solo são suficientes para evitar constantes toques do fundo do carro com a terra, tal como acontece em asfaltos irregulares — os futuros proprietários podem ficar descansados.

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Com o modo Rally selecionado (que faz com que as molas de suspensão fiquem mais suaves), a tração permanente às quatro rodas privilegia o envio de binário para as rodas traseiras, ao mesmo tempo que torna o controlo de estabilidade mais libertino.

O efeito? A combinação desses dois fatores faz com que esta zona de lama e gravilha seja feita mais a andar de lado do que de frente (a repartição de massas 43% à frente e 57% atrás dá também o seu contributo).

Desde que haja espaço suficiente, a utilização bem articulada do acelerador e do volante permitem fazer uns amplos piões, fáceis de controlar, mesmo que a maioria das costelas de quem tem o volante em mãos sejam de condutor e não de piloto.

São estas longas derrapagens controladas sobre terra que irão provocar a viciação mais difícil de curar, devidamente ajudadas nesse propósito pelo som cavernosamente gutural do motor V10 naturalmente aspirado e por um design desconcertante que elimina qualquer pretensão de ser discreto.

Lamborghini Huracán Sterrato traseira
© Lamborghini

Isto permite concluir que mesmo que nunca ninguém tenha pedido à Lamborghini para fazer um carro como este — tal como nunca ninguém tinha desejado um Porsche 911 Dakar… ora aí está um comparativo com enorme potencial —, para clientes que já têm tudo e mais alguma coisa nas suas garagens, este superdesportivo pode bem ser mais um brinquedo apetecível.

O Lamborghini Huracán Sterrato é um daqueles «brinquedos» com que até um adulto multimilionário consegue sonhar acordado e que não larga nem mesmo para dormir.

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