Crónicas O que é um gentleman driver?

Competição

O que é um gentleman driver?

Afinal o que é um "gentleman driver"? É um piloto de sangue azul? Um marialva dos automóveis? É um status social? As nuances são mais que muitas, mas ainda assim é possível definir o género.

Steve McQueen

O termo gentleman driver surgiu nos primórdios do desporto automóvel, numa altura em que começava a ser necessário distinguir os pilotos profissionais — que competiam por mérito e talento natural — daqueles que o faziam sobretudo pelo gosto de competir.

Uma separação que se agudizou com a evolução do desporto automóvel. Hoje o desporto automóvel é cada vez mais exigente do ponto de vista da preparação, da entrega e do profissionalismo do piloto. Não há lugar a concessões nem a falhas no automobilismo profissional. O romantismo de outros tempos, esse ficou relegado para os gentleman drivers

Atualmente, digamos que um gentleman driver é um piloto que corre sem pretensão a grandes resultados. Normalmente compete em carros de prestígio pela competitividade que oferecem, mas acima de tudo pela estética e status inerentes ao modelo. Ferrari, Lamborghini, Porsche…

RELACIONADO: O desporto automóvel antes do politicamente correcto
Paul Newman, gentleman driver

Estamos a falar de pilotos que até podem saber andar depressa, mas preferem adoptar uma postura que dá primazia ao prazer da condução e ao convívio do que aos resultados. São pilotos que não estão na disposição (ou predisposição) de lutar por aquela última décima (a mais difícil de todas) ou por aquela ultrapassagem no limite. No fundo, aqueles momentos que separam os pilotos normais dos predestinados.

Porque o que é nacional é bom, podemos referir Miguel Pais do Amaral. De todos, talvez o exemplo mais tangível de um verdadeiro “gentleman driver”

Depois é fácil associarmos um gentleman driver ao sucesso. Tal associação deriva de normalmente se chamar gentleman driver a grandes empresários ou nomes sonantes da praça, que optam por gastar parte da sua fortuna na competição automóvel — como sabemos, o automobilismo não é um desporto barato. Nunca foi.

Alguém — agora não me recordo quem… — quando questionado se é mais caro ou mais barato competir hoje em dia respondeu: “Se hoje é mais caro correr? Claro que não. Competir hoje em dia é tão caro como era há 30 anos atrás… leva-te o dinheiro todo! Nem mais, nem menos”.

gentleman driver 2

Apesar dos custos, o desporto motorizado é cada vez mais o ambiente ideal para travar conhecimentos e cimentar relações ou até mesmo negócios – os gentleman driver sabem isso tão bem ou melhor que os patrocinadores.

VÊ TAMBÉM: Ao volante do Mazda MX-5 (NC): o incompreendido

Apesar de tendencialmente associarmos um gentleman driver à figura “amateur”, existem casos em que os pilotos são bastante competitivos e que, de facto, correm mesmo para ganhar. Mas lá está, tudo dependerá do contexto e dos campeonatos em que correm. Também poderá acontecer um piloto começar com uma postura de gentleman driver e depois revelar-se um prodígio competitivo. Mas é raro um gentleman driver transitar para a profissionalização.

Imagina que ganhas a lotaria e o teu sonho era ser piloto. Mesmo que fosses «um zero à esquerda» no que toca a pilotar, não tenho dúvidas que poderias ser um gentleman driver e participar num campeonato, tipo o Blancpain — onde há uma mescla interessante de pilotos profissionais e de gentleman driver.

Concretizando, podemos dar-te alguns exemplos de gentleman drivers. Entre eles Steve McQueen, o rei do estilo, que era um excelente ator porém um piloto mediano, ou Patrick Dempsey, também ele ator, e que deves conhecer da série televisiva Anatomia de Grey. Atualmente corre na Porsche Cup ao volante de um 911.

VÊ TAMBÉM: Outono, a estação preferida dos petrolheads

Porque o que é nacional é bom, podemos referir Miguel Pais do Amaral. De todos, talvez o exemplo mais tangível de um verdadeiro gentleman driver: boas famílias, rico, bem sucedido e competitivo.

Miguel Pais do Amaral é o único filho de D. Manuel José Maria de Sá Pais do Amaral, 7.º Conde de Anadia, e de sua mulher D. Maria Mafalda de Figueiredo Cabral da Câmara. Pelo lado paterno é descendente de Sebastião José de Carvalho e Melo, 1.º Marquês de Pombal e 1.º Conde de Oeiras, de D. Pedro I do Brasil e IV de Portugal, dos Duques de Schleswig-Holstein-Sonderburg-Beck e da irmã de Aurora Stjernvall, por sua vez descendente duma irmã de Gustavo I da Suécia — isto podia continuar, mas já perceberam… (via Wikipédia).

Engenheiro Mecânico de formação, Pais do Amaral foi o antigo dono da Media Capital — conglomerado que é dono do canal de televisão TVI e de várias estações de rádio, incluindo a Rádio Comercial e o Rádio Clube Português. Apesar dos compromissos profissionais constantes, Pais do Amaral chegava ao fim-de-semana, entrava num avião e sabia que à chegada tinha uma equipa à sua espera para competir em prestigiadas provas internacionais. Ao domingo corria e à segunda-feira já estava de volta às suas funções habituais atrás de uma secretária. O verdadeiro gentleman driver.

Miguel Pais do Amaral