Especial Problemas na Nissan. Explicamos todos os capítulos desta crise

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Problemas na Nissan. Explicamos todos os capítulos desta crise

A Nissan enfrenta tempos complicados. Entre dificuldades financeiras e negociações de fusão incertas, o que se passa com a marca japonesa?

Todas as notícias apontam no mesmo sentido: a Nissan enfrenta dificuldades financeiras significativas, e a fusão com a Honda parece ser uma das alternativas para superar mais rapidamente este cenário. No entanto, as negociações entre as duas empresas não estão a evoluir na direção certa.

Quando a fusão foi anunciada, uma das condições impostas pela Honda era que a Nissan recuperasse alguma da sua capacidade financeira. No entanto, este objetivo tem-se mostrado difícil de alcançar.

Neste artigo, vamos explicar todos os capítulos desta crise, para que entenda tudo o que está em causa na Nissan, começando precisamente pelo início.

O início dos problemas na Nissan

O atual declínio da Nissan começou ainda antes da detenção do seu antigo líder, Carlos Ghosn, em 2018, por alegada fraude financeira — os contornos da sua fuga à justiça japonesa são dignos de Hollywood, mas foi a Netflix a reduzir tudo num documentário.

Ghosn, o «patrão» da Aliança Renault-Nissan (e mais tarde Mitsubishi), tinha como ambição fundir os franceses com os japoneses numa entidade só. A Nissan era veemente contra essa fusão e a Aliança que sempre foi marcada por uma relação tensa e desconfortável entre as partes, entrava no seu período mais conturbado.

Por entre discussões públicas e intrigas políticas internas, que não terminariam após a detenção de Ghosn, franceses e japoneses perderam o foco na estratégia e no produto, perdendo vendas, lucros e competitividade na arena global.

A pandemia acabou por servir de grande catalisador à relação entre a Renault e a Nissan. Houve um reequilibrio de forças na Aliança e foram anunciadas restruturações e novos planos estratégicos em ambos.

Carlos Ghosn com Renault Zoe e Nissan Leaf
© Aliança Renault-Nissan Carlos Ghosn entre o futuro elétrico da Aliança: o Renault Zoe e o primeiro Nissan Leaf.

Se, desde então, a Renault, agora liderada por Luca de Meo, parece ter encontrado um rumo em direção aos lucros e sustentabilidade, o mesmo não podemos dizer da Nissan. A empresa tem enfrentado dificuldades em manter-se competitiva, especialmente no mercado norte-americano, que é que gera mais volume de vendas.

O problema nem está no volume global absoluto de vendas — caíram apenas 0,8% em 2024 face a 2023. A preocupação vem da geração de receita e rentabilidade.

No primeiro semestre do ano fiscal de 2024 (abril-setembro no Japão), a Nissan viu a sua receita líquida cair 94% face ao mesmo período homólogo. A margem operacional foi de magros 0,5%, um valor insuficiente para garantir a viabilidade da empresa, caso não evolua.

Primeira crise na Nissan? Nem por isso

A primeira grande crise da Nissan remonta aos anos 90. A situação era muito grave e o risco de fechar portas era mesmo muito elevado. Acabaria por ser salva da falência pela Renault em 1999 e optaram por não se fundir, mas sim criar uma Aliança.

Carlos Ghosn, na altura o diretor executivo do grupo francês, também iria liderar os destinos da recém-formada Aliança Renault-Nissan.

Inicialmente, a Renault começou por adquirir uma participação de 36,8% na Nissan, mas, em 2001, esta quota aumentou para 43,4%. Após o reequilíbrio de forças que aconteceu em 2023, a Renault reduziu a sua participação na Nissan. Explicamos tudo neste artigo:

Regressando a 1999, Ghosn ficou responsável pelo plano de reestruturação da Nissan, denominado Nissan Revival Plan. Foram feitos cortes salariais e encerraram-se as fábricas menos eficientes, entre outras medidas, mas Ghosn cumpriu. Em 2001, a Nissan já era novamente lucrativa.

E este renascimento deu-nos também uma série de produtos vencedores, a vários níveis. O Qashqai e o Juke redefiniram segmentos, o GT-R (R36) fez jus ao seu legado e mesmo a Infiniti, nos EUA, passou por um dos seus períodos mais frutíferos.

Além disso, a Nissan foi uma das pioneiras dos elétricos para as massas, vendidos em larga escala: o Leaf foi revelado em 2009 e em 2010 já era comercializado um pouco por todo o mundo. Isto anos antes da chegada do Tesla Model S.

Nissan Leaf
© Nissan Nissan Leaf foi um dos pioneiros de uma nova geração de elétricos. Mas, apesar de ter conhecido uma segunda geração, deixou de ter o protagonismo e as vendas desejadas. A terceira geração chega este ano.

Até houve tempo e fundos para projetos avançados, como o bizarro Deltawing — lembra-se desse carro de corridas? Ou do Blade Glider, a correspondente versão de estrada…

O momento atual em números

Hoje a Nissan está outra vez numa posição delicada. Sete anos depois da detenção de Ghosn, a empresa encontra-se novamente à beira de uma crise financeira. A Nissan reviu as suas projeções para o corrente ano fiscal (termina a 31 de março) prevendo uma redução do lucro anual em 70%.

Além disto, a indústria automóvel global passa por um momento de transformação radical, seja pela via da eletrificação, seja pela via do software.

E apesar de ter tido um papel pioneiro nos elétricos no início da década passada, hoje a Nissan é vista como um dos fabricantes menos agressivos na adoção destas novas tecnologias.

Medidas a serem tomadas

Makoto Uchida, atual diretor executivo do construtor, está sob alta pressão para virar o rumo das coisas. O conselho de administração exige um plano de restruturação mais abrangente e que vá mais longe que as medidas já anunciadas para mudar o rumo dos acontecimentos.

Entre as medidas já anunciadas está o corte de 9000 empregos e a redução da produção global em 20% (de cinco para quatro milhões de veículos).

Makoto Uchida, presidente e diretor executivo da Nissan
© Nissan Makoto Uchida, presidente e diretor executivo da Nissan

Para garantir um caminho claro para o futuro, a Nissan pretende apresentar um novo plano estratégico antes de 13 de fevereiro, data em que divulgará os seus resultados trimestrais (setembro-dezembro).

Este plano está a ser desenvolvido independentemente das negociações com potenciais parceiros, como forma de garantir que a empresa tem uma estratégia sólida, independentemente do desfecho das conversações.

Logo que este plano seja divulgado, será publicado aqui na Razão Automóvel — para receber notificações, subscreva a nossa newsletter.

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