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Construtores chineses estão com problemas mas a Europa não pode celebrar

O mercado automóvel chinês tem os seus próprios fantasmas. Nem tudo corre bem no maior mercado automóvel mundial e 2025 será desafiante.

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© XPeng

A economia chinesa enfrenta uma série de desafios para 2025 que podem afetar o seu crescimento e estabilidade. E a indústria automóvel não está imune a este cenário.

Os motivos de preocupação surgem de várias frentes: crise no setor imobiliário, desaceleração do crescimento económico, dívida elevada, envelhecimento populacional e, finalmente, as tensões comerciais e geopolíticas.

Um dos indicadores é que o consumo interno na China não está a acompanhar as expectativas do Governo de Pequim. No final do ano passado, foi inclusivamente anunciado um amplo pacote de medidas de estímulo à economia.

Todos estes assuntos foram amplamente discutidos no último episódio do Auto Rádio, um podcast da Razão Automóvel, onde assinalamos o Novo Ano Chinês que começou hoje, dia 29 de janeiro:

Na prática, este pacote de estímulos à economia foi uma tentativa arrojada para alcançar os 5% de crescimento económico em 2024 — um crescimento tímido para uma economia emergente. Esta desaceleração da atividade está mais evidente em indicadores como o consumo doméstico, moderação do investimento privado e uma contínua retração do setor imobiliário.

Nos concessionários de automóveis, por exemplo, está em curso uma guerra de preços. Para escoar a produção, os preços e nas margens de vendas foram várias vezes esmagadas — uma tendência agravada pelas reduções de preço da Tesla. No total, mais de 4000 concessionários fecharam portas acumulando perdas totais superiores a 23 mil milhões de euros.

E se as marcas chinesas têm motivos de preocupação, as marcas europeias (sobretudo alemãs) também. Este quadro mostra a exposição das marcas alemãs ao mercado interno chinês:

ConstrutoresPercentagem de vendas
na China (2023)
Volkswagen43,4%
Audi38,1%
BMW36,1%
Mercedes-Benz32,4%

É parcialmente por este motivo que marcas como a BMW juntaram-se às marcas chinesas, junto dos tribunais europeus, para tentar travar as tarifas europeias aos carros elétricos produzidos na China. Um tema que promete continuar relevante nos próximos meses.

As marcas francesas são as menos afetadas. A presença da Stellantis no mercado chinês é tímida e a presença da Renault é praticamente inexistente — a presença da Geely no capital da Horse, a divisão de motores de combustão do Grupo Renault, é a excepção que confirma a regra.

Exportar continua a ser fundamental

Nos últimos anos, o Governo de Pequim tem tentado alterar o perfil económico do país: fomentar o consumo interno e diminuir a dependência das exportações. Mas com o setor imobiliário a abrandar, o principal motor da economia chinesa — e que desde os anos 90 tem garantido crescimentos acima dos dois dígitos —, as famílias estão a retrair o consumo e exportar continua a ser fundamental.

Fábrica de produção de baterias
Apesar das ameaças, a indústria automóvel chinesa tem do seu lado várias vantagens. Numa indústria cada vez mais eletrificada, ter o domínio das terras raras e da produção de baterias é fundamental. Os custos laborais também são inferiores.

Para controlar a quebra do mercado imobiliário, que afeta negativamente a riqueza das famílias e a confiança dos consumidores, o Governo tem tentado controlar a entrada de imóveis no mercado. Por outro lado, para fomentar o consumo, o Governo chinês permitiu à banca reduzir os rácios de depósitos para aumentar o crédito às empresas e consumidores.

É neste cenário que as exportações automóveis tornam-se ainda mais importantes. São uma importante ajuda para escoar a produção das fábricas e reduzir a exposição às flutuações do mercado interno.

Os 10 construtores chineses que mais exportaram veículos em 2024 foram:

  • Chery: 1 144 000
  • SAIC: 929 000
  • Changan: 536 000
  • Geely: 532 000
  • Great Wall Motor: 453 000
  • BYD: 433 000
  • BAIC: 274 000
  • Tesla China: 260 000
  • JAC: 249 000
  • Dongfeng: 246 000

Olhando, por exemplo, para a BYD, já é o terceiro maior construtor mundial, com mais de quatro milhões de unidades vendidas em 2024, mas 90% das vendas continuam a acontecer no mercado chinês.

Um gigante com pés de barro?

Nos anos 80 e 90 houve outra economia emergente que parecia ter tudo para ultrapassar o resto do mundo pela direita: o Japão. Porém, uma enorme bolha no mercado imobiliário obrigou a economia japonesa a abortar esta manobra.

Neste episódio do Auto Rádio, um podcast da Razão Automóvel, dedicámos um segmento a este assunto:

Quando a bolha imobiliária japonesa rebentou no início dos anos 90, o sistema financeiro ficou severamente abalado. À época, também a indústria automóvel japonesa vivia tempos de bonança e otimismo.

toyota supra, honda nsx, mazda rx-7, toyota mr2, nissan skyline gt-r
Foi nessa altura que o mundo assistiu à chegada de modelos que eram uma espécie de manifesto da superioridade nipónica: Toyota Supra, Mitsubishi 3000GT, Nissan Skyline GT-R e Honda NSX.

Hoje, a China enfrenta um cenário semelhante ao Japão nos anos 80, com o setor imobiliário a enfrentar dificuldades profundas. Empresas gigantes como a Evergrande e a Country Garden são as faces mais visíveis dessas dificuldades.

A China construiu infraestruturas maciças e cidades inteiras com baixa ocupação, resultando em excesso de capacidade em muitos setores, incluindo o imobiliário e industrial. Porém, ao contrário do que aconteceu no Japão, o Governo Chinês está a conseguir controlar a oferta imobiliária. Ao controlar parcialmente a oferta do mercado, consegue evitar a redução dos preços.

Por todos estes motivos, a CAAM – Associação Chinesa de Fabricantes de Automóveis, antevê uma desaceleração do crescimento de exportações de veículos da China e há analistas a antever dificuldades, tanto no mercado interno como externo.