Notícias Bernardo Sousa: “É mais fácil ir dos ralis para as pistas do que o contrário”

Entrevista

Bernardo Sousa: “É mais fácil ir dos ralis para as pistas do que o contrário”

Dos ralis para o WEC: Bernardo Sousa estreia-se na resistência com o Ford Mustang GT3 e já tem um sonho bem definido para o futuro.

Campeão nacional de ralis em 2010 e uma das figuras mais reconhecíveis do desporto motorizado nacional, Bernardo Sousa construiu a sua carreira a derrapar em pisos de gravilha, terra e asfalto um pouco por todo o mundo.

Com passagens destacadas pelo PWRC e pelo SWRC, o piloto madeirense foi sempre sinónimo de velocidade, carisma e entrega. Depois de uma curta pausa na competição e de um regresso muito mediático aos palcos — dentro e fora dos automóveis —, Bernardo voltou a vestir o fato de competição, mas desta vez para um novo desafio: a Velocidade.

Depois de em 2024 ter assumido o volante de um Toyota GR Supra GT4 EVO no Campeonato de Portugal de Velocidade, o piloto deu, já este ano, um salto de gigante, com a entrada no Campeonato do Mundo de Resistência (WEC), aos comandos do novo Ford Mustang GT3 #77 da Proton Competition, na categoria LMGT3.

Bernardo Sousa Toyota GR Supra GT4
© Toyota Caetano Portugal Em 2024 Bernardo Sousa esteve ao volante de um Toyota GR Supra GT4 EVO, no Campeonato de Portugal de Velocidade.

Na liga principal da resistência

É um projeto ambicioso, exigente e num cenário muito diferente daquele onde nos habituámos a ver o piloto madeirense. A sua estreia no WEC aconteceu em fevereiro, nos 1812 quilómetros do Catar.

Bernardo Sousa até teve um início de corrida promissor, mas foi obrigado a abandonar, depois do Mustang #77 se ter incendiado.

Agora, com a segunda ronda do campeonato marcada para Imola (Itália), a 20 de abril, falámos com o piloto português sobre esta mudança, os novos desafios e os sonhos que ainda alimentam o seu percurso.

Nesta conversa, Bernardo Sousa começou por explicar que esta passagem dos Ralis para a Velocidade já estava na calha há alguns anos: “Esta transição era para ter acontecido em 2012, quando parei o programa do WRC, mas não aconteceu”, confessou-nos o piloto.

Estou muito feliz por esta oportunidade e pela opção tomada. Não fazia sentido não ter lugar numa equipa no Campeonato de Portugal de Ralis. Como não surgiu essa oportunidade, procurei outras alternativas e esta foi a melhor.

Sobre a passagem dos ralis para as pistas, o piloto insular, que afirma que o trabalho do seu manager Duarte Félix da Costa “foi fundamental” para esta mudança, garante que isso não será problema: “É muito mais fácil sair dos ralis e ir para as pistas do que o contrário”.

Bernardo Sousa WEC 2025 Ford 2
© WEC A próxima corrida do WEC 2025 vai disputar-se no dia 20 de abril, em Imola.

“É tudo novo…”

Mesmo assim, é o próprio a traçar um mundo de diferenças entre as duas categorias. E nem mesmo o GR Supra GT4 com que correu na temporada passada serviu de grande preparação para o que o espera este ano no WEC, porque é praticamente tudo novo.

Os carros são bastante diferentes, o GT4 é um carro bastante simples. O GT3 é muito potente e rápido e requer alguma habituação ao nível da eletrónica, poupança energética e consumos.

A somar a isso, Bernardo Sousa destaca ainda a aprendizagem que é necessária fazer no que ao tráfego em pista diz respeito — estão carros de várias categorias e velocidades a correr em simultâneo —, bem como relativamente “às regras do Safety Car”, sem esquecer as pistas, nas quais o piloto português nunca correu.

ProtonCompetition Bernardo Sousa Wec 2025
© Proton Competition

Nada disto assusta o antigo campeão nacional de ralis, que este ano vai estar totalmente focado no WEC, onde vai participar em todas as corridas do campeonato:

Neste momento o foco total é o Mustang GT3 e o WEC.

Agora que a primeira corrida da época, no Catar, já lá vai, Bernardo Sousa já está de olhos postos em Imola. Mas à distância, já avista o restante campeonato, que este ano conta com oito corridas:

Se fizer o trabalho que fiz no Catar, podemos alcançar grande resultados dentro do que o nosso carro é capaz.

Contudo, o piloto madeirense lembra que “é um trabalho em equipa”. “Posso ter as ambições que quiser, mas estou sempre dependente dos meus colegas” e vice-versa.

Sonho está definido

Quanto ao futuro, é impossível ignorar o facto de que a Ford Performance vai voltar a alinhar na categoria principal do WEC, a LMDh, a partir de 2027. E como seria de esperar, Bernardo Sousa, juntamente com os restantes pilotos que correm de Mustang GT3, está atento às vagas que se vão abrir e reconhece que “isso seria um sonho”.

Mas para já não quer pensar nisso: “Nesta fase ainda nem os meus colegas que lá estão (no WEC) há vários anos sabem se vão ter lugar”.

“O desporto motorizado dá muitas voltas e é preciso estar à espreita da oportunidade. Para mim seria um sonho, obviamente, mas o meu foco não é esse”, sublinhou.