Notícias Entrevistámos o CEO da Volvo. “Seremos os únicos a ficar perto dos números da Tesla”

Entrevista

Entrevistámos o CEO da Volvo. “Seremos os únicos a ficar perto dos números da Tesla”

O diretor executivo da Volvo, Jim Rowan, está a acelerar a transformação do construtor e ambição de crescimento não falta.

Jim Rowan, CEO da Volvo, no evento de revelação do Volvo EX30
© Volvo

O homem que revolucionou a indústria dos aspiradores está a tentar repetir a fórmula de sucesso da Dyson agora na indústria automóvel. Há quem defenda que são mercados que têm pouco em comum, no entanto a administração da Volvo não concorda, e por isso nomeou Jim Rowan como diretor executivo da marca.

Sendo este um outsider da indústria automóvel é compreensível que ponha fim a algumas práticas que, até então, nunca tinham sido questionadas.

Uma dessas ações passou pela decisão de abandonar a Associação de Fabricantes de Automóveis Europeus (ACEA), com efeito efetivo a partir do final de 2022 — curiosamente, poucas semanas depois da Stellantis, liderado pelo português Carlos Tavares, ter feito precisamente o mesmo.

Jim Rowan, CEO da Volvo
© Volvo Jim Rowan, CEO da Volvo

Era, portanto, expectável que uma nova associação liderada pela Stellantis e pela Volvo se formasse. No entanto, Rowan diz-nos que se a Volvo “saiu da ACEA foi porque viu várias decisões daquele organismo que em nada apoiavam as marcas que estavam a investir na eletrificação. (…) mas não existe a intenção de criar outra associação paralela neste momento”.

Entraves ao veículos elétricos

Além de discordar com a ACEA na Europa, o CEO da Volvo também manifestou alguma inquietação pelo atraso de alguns dos seus concorrentes em relação aos veículos elétricos. Sendo que, também a União Europeia, mais do que uma vez, mostrou alguma hesitação perante propostas que visavam retardar o momento em que os automóveis com motores de combustão são banidos do continente. 

Rowan, prefere, no entanto, não se centrar em aspetos que possam criar desunião entre as marcas, salientando que existe “(…) um interesse comum em vários campos, tanto para a indústria como para os clientes”.

Um desses campos é a rede de carregamento, que é precisamente um dos assuntos mais críticos na eletrificação do automóvel. Isto porque, na opinião deste “não faz sentido definir que haja diferentes redes de carregamento, (…) mas sim aproveitar para fazer investimentos comuns nesta área, como o acordo que estabelecemos com a Tesla para usar os seus carregadores nos Estados Unidos”.

Para além das dificuldades na criação de redes de carregamento com uma cobertura realmente abrangente, a questão do preço dos automóveis elétricos é, de resto, uma das razões que tem retardado a sua massificação.

Neste aspeto, o nosso entrevistado parece ter uma visão mais positiva sobre a maior revolução automóvel dos últimos 100 anos: “(…) Quando se fabricam automóveis com motor de combustão existe uma complexidade enorme… Quando mudamos para motores elétricos, o cenário altera-se por completo… há uma cadeia de fornecedores completamente distinta”. Remata, afirmando:

“Há um motor elétrico e uma bateria, desta forma para se obterem potências variadas para veículos distintos basta adicionar módulos de bateria, enquanto o binário é “oferecido”. Incomparavelmente mais simples”.

Jim Rowan, CEO da Volvo Cars

Ao vermos a questão por este prisma, é legítimo questionar-nos sobre o porquê de nunca mais chegar a tão ansiada paridade de preços (para o consumidor) e de margens de lucro (para o fabricante) entre os automóveis com motor de combustão interna e os elétricos.

O diretor executivo da Volvo consegue surpreender ao afirmar que “a Volvo já lá chegou.

Rowan justifica: Já anunciámos que o vamos vender (EX30) por 35 mil dólares (aprox. 32 mil euros), nos EUA, e ouvimos comentários de que isso só seria possível esmagando as nossas margens de lucro, o que não corresponde à verdade. (…) O custo do lítio pode mudar a equação aqui e ali, mas hoje temos uma margem de 9% nos elétricos e iremos melhorá-la para 15% a 20% com o EX30. Que não são margens inferiores às que temos nos veículos a gasolina, garanto”.

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E os motores a combustão?

Mais até do que diferenças de velocidade na estratégia de eletrificação entre fabricantes, o CEO da Volvo assinala essa mesma diferença consoante a região do mundo: “quando olhamos para o processo numa perspetiva global, vemos cenários diferentes.”

“Nos EUA temos a Costa Oeste (…) a ser eletrificada a bom ritmo (…). O interior está a ficar para trás (…). Na Europa, o norte também está a agir com rapidez, mas o sul é mais lento. E a China (…), também está a levar a cabo um grande esforço que tem como locomotiva as centenas de grandes cidades que existem no país”, esclarece.

Mas essas clivagens também têm o seu lado positivo, “ao menos para marcas como a Volvo, que ainda têm oferta de motores de combustão em paralelo com os 100% elétricos”, sendo naturalmente menos favoráveis para quem só vende carros elétricos.

Não se pense, porém, que isso justifica prolongar a vida dos motores de combustão, pelo menos no entender do ex-CEO da Dyson, que confirma que isso não irá acontecer.

“O último motor Diesel num Volvo será montado no primeiro trimestre de 2024 e os centros de R&D na Europa e na China já desmantelaram os bancos de testes dos motores de combustão, o que quer dizer que mesmo os híbridos plug-in já não irão ser alvo de novos investimentos.”

Jim Rowan, CEO da Volvo

Dito por outras palavras, a Volvo será uma das primeiras marcas de automóveis globais a usar apenas motores «a pilhas».

Este pioneirismo, no entanto, não parece assustar Jim Rowan, que recorda que “a empresa número um em vendas de veículos elétricos em todo o mundo (…) é também a marca com a maior capitalização de mercado no mundo, o que prova que já hoje é possível ser fabricante de automóveis puramente elétricos com muito sucesso”.

As vendas da Volvo em 2023 deverão ser um pouco superiores a 700 mil unidades, o que, a confirmar-se, significa um novo recorde na história de quase 100 anos da marca sueca.

Jim Rowan, CEO da Volvo
© Volvo Jim Rowan, CEO da Volvo

O que podemos esperar nos próximos anos?

Em 2024, vão chegar dois novos modelos: o EX90 e o EX30. Estes vão permitir fazer crescer ainda mais as vendas, o que leva a supor que a barreira de um milhão de novos Volvo colocados a circular a cada ano estará próxima.

Jim Rowan sorri e recorda que “no momento da entrada em bolsa (…) foi dito que estaríamos próximos de 1,2 milhões de carros por ano em meados da década e a verdade é que estamos no bom caminho para lá chegar, mesmo com os ventos contra (…)”.

Volvo EX90 frente 3/4
© Fernando Gomes / Razão Automóvel Volvo EX90

Algo fundamental para fazer crescer volumes de vendas é conseguir atrair novos clientes, e, por isso, o «patrão» desta marca salienta que os dois próximos Volvo a serem lançados na Europa têm potencial:

“O interesse do mercado por um SUV compacto como o EX30, com uma autonomia de 480 km, é perfeitamente aceitável… até mesmo com uma menor autonomia o interesse mantém-se, se forem usadas baterias mais baratas (LFP) que permitam reduzir o preço desse modelo”.

Jim Rowan, diretor executivo da Volvo Cars

Até que ponto estas são mensagens de marketing de quem lidera uma marca de automóveis, e que quer cair nas boas graças dos analistas, agitar a concorrência e inspirar os seus funcionários? Jim Rowan, em jeito de conclusão, aceita que estas suas palavras e promessas possam gerar ceticismo.

Porém, não perde a coragem quando afirma que “daqui a sete meses, quando a Volvo apresentar os seus resultados do segundo trimestre de 2024, todos poderão ver quantos EX30 foram vendidos e confirmar qual a margem de lucro conseguida”.

Continua, afirmando: “Nesse momento, ficará claro que a Volvo será a única marca a ficar perto dos números da Tesla (…). Ficará provado que foi uma das primeiras marcas da indústria «tradicional» a conseguir fazer essa «travessia do deserto» e a chegar ao outro lado com elevados volumes de vendas e margens de lucros decentes”.

E nós? Cá estaremos para ver.