Notícias Nem elétrico nem SUV para a Bugatti. Entrevistámos Mate Rimac o CEO da Bugatti Rimac

Entrevista

Nem elétrico nem SUV para a Bugatti. Entrevistámos Mate Rimac o CEO da Bugatti Rimac

Com a formação da Bugatti Rimac, Mate Rimac reforçou o seu estatuto de estrela ascendente na indústria automóvel. Estivemos à conversa com ele no Monterey Car Week.

Mate Rimac, diretor executivo da Bugatti Rimac

Em pouco mais de 10 anos Mate Rimac tornou-se numa figura incontornável da indústria automóvel, com doses da genialidade, visão e ousadia de Elon Musk, mas com muito menos «espalhafato» do que o homem-forte da Tesla.

Depois do impacto gerado pela Rimac, sobretudo o referente à sua tecnologia elétrica — que levou à compra de participações por parte da Hyundai e, sobretudo, da Porsche —, em 2021 foi formada uma joint venture entre a Rimac e a Porsche que deu a Mate Rimac também o controlo da exclusiva Bugatti.

Nesta entrevista feita durante a Monterey Car Week, o croata, ainda na casa dos 30 anos, revela alguns planos futuros e como se teve de opor à Porsche.

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MAte Rimac NEvera
Mate Rimac, fundador e CEO da Rimac Automobili, em Monterey, entre um par de Nevera.

Como se está a dar com este novo papel duplo de presidente da Rimac e da Bugatti?

Mate Rimac (MR): Está tudo a correr bem. E não são apenas duas empresas, porque além da Bugatti e da Rimac há ainda a Rimac Technology, que é uma companhia maior do que as outras duas. Isso significa que há muito a fazer.

A Bugatti e a Rimac crescerem muito juntas neste último ano e já funcionam como uma entidade porque conseguimos usar os maiores atributos de cada uma para esta fusão ser mais eficaz.

Pode dar exemplos concretos?

MR: Não nos limitámos a substituir a administração e preferimos identificar os melhores funcionários em cada uma das empresas, tornando-nos responsáveis nas suas áreas para mais do que uma marca. Um exemplo evidente: Achim Anscheidt é agora o diretor de design da Bugatti e da Rimac. Estamos bem estruturados e já a desenvolver novos produtos.

Como está a saúde financeira da empresa?

MR: A Bugatti Rimac está numa boa posição financeira e fizemos uma angariação de 500 milhões de euros para a Rimac Technology, com investimentos da Softbank, Lohman, Goldman Sachs Asset e Porsche, entre outras. Finalmente, não tenho de me preocupar com problemas de liquidez.

Sente que tem o controlo total da empresa?

MR: Sim, mais do que deveria. Há 34 pessoas a reportar diretamente a mim. Isso é algo que tem de mudar.

Bugatti Rimac entre Bugatti Chiron e Rimac Nevera
Mate Rimac passou a ser, desde o final do ano passado, o diretor executivo tanto da Rimac como da Bugatti.

Qual é o vosso projeto prioritário no momento?

MR: Não há um projeto que se destaque dos demais. Queremos fazer muitas coisas. Foi isso que quisemos deixar bem claro no plano a 10 anos que apresentámos recentemente aos nossos concessionários.

De acordo com os nossos planos ao dia de hoje, não (vai haver um Bugatti elétrico).

Teria sido interessante ter podido assistir à revelação desse plano…

MR: Fica para uma próxima vez. Mas posso dizer-lhe que a resposta dos nossos funcionários tem sido extremamente positiva, ainda que eu tenha pedido às pessoas para darem voz às suas críticas. Agora devemos focar-nos em desenvolver novos modelos e em lançá-los no tempo certo. O maior desafio é mesmo a implementação desse plano a longo prazo.

Bugatti 100% elétrico? Não está nos planos atuais

Pode partilhar alguns detalhes?

MR: Não muitos. Apenas que a Rimac irá continuar a ter automóveis unicamente elétricos e que a Bugatti só irá lançar veículos híbridos nos próximos 10 anos.

Bugatti Chiron Super Sport 300+
O sucessor do Chiron não virá com o W16, mas continuará a ter um motor de combustão, apesar de este ser combinado com uma máquina elétrica.

Qual o caminho que vai ser seguido para a eletrificação da Bugatti?

MR: Queremos que os carros tenham numa autonomia elétrica que se possa usar, realmente, em cidade, e também potência suficiente para serem conduzidos com elevadas performances. Isso significa que os nossos híbridos plug-in deverão ter uma autonomia na ordem dos 50 km.

Só para dissipar quaisquer dúvidas… não vai haver, então nenhum Bugatti totalmente elétrico?

MR: De acordo com os nossos planos ao dia de hoje, não.

Vê potencial para sinergias tecnológicas entre as duas marcas?

MR: Sim, mas num espectro limitado, porque a filosofia das duas marcas é distinta. Os veículos são diferentes, o que quer dizer que tecnicamente serão menos próximos do que um Lamborghini Huracán e um Audi R8, por exemplo.

Quero que a Bugatti se mantenha como uma marca analógica, também no que diz respeito ao conceito do interior, porque muito do cachet da marca vem também do cockpit feito artesanalmente. Já a Rimac, pelo contrário, prima por ser digital e progressiva. Um recurso técnico como o Driver´s Coach, ou seja, condução autónoma em circuito, é algo que não encaixa na filosofia da Bugatti.

Futuro ambicioso

O que podemos esperar de novo nos Bugatti do futuro?

MR: Estamos a desenvolver um veículo totalmente novo que será mais complexo do que os modelos atuais, porque terá propulsão hibridizada e também um novo motor. Queremos também subir o valor da marca para níveis mais altos e, ao mesmo tempo, manter os custos de desenvolvimento sob controlo.

Mate Rimac
Mate Rimac, fundador e CEO da Rimac Automobili

Não será um plano demasiado ambicioso?

MR: Estamos a fazer o desenvolvimento internamente e não com fornecedores externos. Para que isso seja possível, precisamos definir as estruturas e competências necessárias, incluindo as que vamos potenciar no campus tecnológico nos arredores de Zagreb. E estamos também a expandir a capacidade de produção na fábrica de Molsheim, o que nos permitirá produzir automóveis com custos mais controlados no futuro.

De que forma poderá as Porsche ajudar?

MR: A Porsche é um acionista nosso sem interferência no lado operativo do negócio. Para sermos rápidos a agir e a reagir, temos que ser independentes.

Bugatti SUV? Não vai acontecer

A Bugatti irá alargar a sua gama de modelos?

MR: Queremos que a Bugatti conserve a sua enorme exclusividade. No caso do Chiron temos demasiados derivativos e todos demasiado similares. Fazer cinco versões do mesmo carro com um design retocado não faz sentido e também dilui o valor do modelo original. No futuro teremos modelos diferentes: um supercarro e um Grand Turismo.

Uma pergunta incontornável… e não um SUV?

MR: Não temos intenção de fazer um SUV. Eu revejo-me no pensamento de Ettore Bugatti: “se puder ser comparado, não é um Bugatti”. Qualquer Bugatti tem que ver o seu valor aumentar com o tempo… e consegue ver um SUV a aumentar de valor?

Dizer não à Porsche

O que irá definir o próximo Bugatti?

MR: Estamos a desenvolver o carro há mais de dois anos, até mesmo antes de termos assumido o controlo da Bugatti.

Comecei a trabalhar no novo motor de combustão apesar da Porsche querer que o novo Bugatti fosse totalmente elétrico. Algo a que me opus porque acredito firmemente que os nossos clientes querem as emoções que vêm com um motor a gasolina.

Vai ficar impressionando com o quão emocional será a condução do carro, mesmo sem se tratar de um motor W16. Quero que o carro seja intemporal, mesmo por dentro, e isso significa que teremos poucos ou nenhuns ecrãs digitais, mas instrumentação e comandos verdadeiramente apaixonantes.

Bloco do W16 Bugatti
O W16 tem sido presença constante na Bugatti e uma das suas imagens de marca desde que está no Grupo Volkswagen. O W16 Mistral será o último Bugatti a ser equipado por ele. O que virá a seguir?

O que esperar da Rimac

Que papel tem a Rimac na estrutura da nova empresa?

MR: A Rimac Technology é um fornecedor de tecnologia. Desenvolvemos baterias e sistemas de propulsão nessa empresa, tanto para a Porsche como para outros fabricantes de automóveis. E é por isso que estamos atualmente a construir uma linha de montagem em Zagreb que nos irá permitir fazer produção desses sistemas em volumes interessantes.

O que se segue para a Rimac após o Nevera?

MR: Foi um enorme desafio conseguir fazer o carro sem aceitar quaisquer compromissos. Mas fizemo-lo e agora os carros estão a ser produzidos e entregues aos clientes. O foco da nossa atenção está, agora, no próximo Bugatti.

Nem Podemos esperar uma versão descapotável do Nevera?

MR: Isso sim, vai existir, mas ainda demorará algum tempo.