“Mercado de usados vai normalizar”. Paulo Figueiredo, diretor do Piscapisca.pt

Foi nas instalações do Piscapisca.pt, entre programadores, responsáveis de backoffice e de apoio ao cliente que entrevistámos Paulo Figueiredo, o diretor do Piscapisca.pt. Uma entrevista que aconteceu num ambiente mais descontraído do que aquilo que é habitual — pelo menos, num edifício que é partilhado com uma empresa do setor bancário.

É neste edifício de escritórios, rodeado pelo rigor analítico da banca, que encontrámos a equipa do Piscapisca.pt que, desde 2020, assumiu um propósito: “transformar a experiência de aquisição de carro usado em Portugal”.

Como é que se processa essa transformação? Foi isso que Paulo Figueiredo, nos explicou ao longo desta entrevista que começou, precisamente, pelo arranque do projeto — em 2020, em plena pandemia — e que terminou a falar de um futuro que já se começa a desenhar.

O mercado pedia um portal como o Piscapisca.pt, capaz de contrariar um monopólio muito forte que existia em Portugal.

Paulo Figueiredo, diretor do Piscapisca.pt

Uma plataforma que já contabiliza mais de 600 mil utilizadores únicos mensais e congrega mais de 43 000 mil anúncios de automóveis usados, de norte a sul do país.

RA: O que é que leva uma instituição de crédito a lançar uma plataforma desta natureza?

Paulo Figueireido (PF): Há 20 anos que o banco Credibom é líder nacional no financiamento de automóveis usados. Naturalmente que reforçar essa posição é bom argumento, mas esteve longe de ser o único motivo. O mercado pedia um portal como o Piscapisca.pt, capaz de contrariar um monopólio muito forte que existia em Portugal.

Eu sei que é uma frase muito usada, mas é a mais pura realidade: queríamos acrescentar valor aos nossos parceiros. Estamos a falar de um setor que tem uma grande fatia que não era digitalizada sequer.

RA: De que acréscimo de valor é que estamos a falar?

PF: Estamos a falar de acrescentar valor a dois níveis: aos utilizadores da plataforma, entenda-se os compradores, e aos nossos parceiros, os anunciantes. Queremos oferecer a experiência de aquisição de usado mais transparente do mercado.

Por isso construímos um conjunto de ferramentas para o comprador, por exemplo, a pesquisa pelo “carro ideal” que era algo que não existia. Respondendo a quatro ou cinco questões básicas — que têm a ver com as necessidades de vida — a plataforma recomenda um conjunto de carros. Isto era algo que não existia.

E do lado dos vendedores, dos profissionais, a nossa ferramenta mais importante é a certificação. Lançámos com a APDCA a certificação de veículos usados. Somos a única plataforma que tem veículos usados certificados por uma entidade terceira, a DEKRA ou a MForce, onde é possível ter o relatório do estado real do carro.

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Acreditamos que é bom para o mercado se houver mais transparência e mais informação. Este é o grande posicionamento que o Pisca Pisca veio ocupar.

RA: Ainda há trabalho a fazer?

PF: Sem dúvida, quer de um lado quer do outro. Por exemplo, queremos ter ainda mais parceiros a aderir ao programa de carros certificados, porque achamos que é uma ferramenta fundamental, no sentido de aumentar a transparência.

Um dado em primeiríssima mão que queremos partilhar convosco: estamos a trabalhar de forma afincada para que muito brevemente seja possível, através de uma matrícula ou de um VIN, obter um relatório com o histórico de um determinado veículo antes de o comprar.

Paulo Figueiredo, Diretor do Piscapisca.pt

Esta base de dados com o histórico dos veículos — que vai respeitar todas as questões de RGPD — vai estar disponível na plataforma Piscapisca.pt e é esse o tipo de ferramentas e informação que queremos dar ao mercado. Há pouco falámos de acrescentar valor, este é mais um passo nesse sentido.

RA: E como é que isso se vai processar? Quem é que vos dá essa informação?

PF: Nós temos um parceiro com quem já trabalhamos há muito tempo, que é expert em data e tem os dados dos veículos. Estivemos este tempo todo a construir um relatório que tem informações muito importantes sobre os veículos.

Por exemplo, se já teve algum recall, quantos proprietários já teve, qual é o tempo médio de venda que o carro tem, qual é o preço médio de venda que esse carro tem no mercado, se já foi um taxi, por exemplo, se já pertenceu a uma rent-a-car, se já teve algum acidente registado numa seguradora.

RA: Um TVDE, inclusive?

PF: Um TVDE inclusive. Ter todos esses dados para que o comprador esteja de facto munido de toda a informação sobre aquele carro. E do lado dos parceiros temos tido uma receptividade muito grande a este tema. Ao contrário do que muitos pensavam, há uma grande vontade dos próprios profissionais do setor em elevarem a fasquia da exigência.

RA: Não é tudo “farinha do mesmo saco”?

PF: Acho que é de facto uma visão incorreta, que tem vindo ligeiramente a mudar. Mas há uma grande tendência em pôr tudo dentro do mesmo saco, o que não é de facto verdade.

Temos parceiros, a grande maioria, que trabalham de forma exemplar, com transparência seja no processo de compra, da retoma, ou de venda do carro.

Há muita gente que já trabalha muito bem e nós fomentamos e queremos apoiar que isso aconteça mais porque nós acreditamos exatamente nisso. No nivelamento por cima. Porque a qualidade vai atrair mais compradores. E é necessário.

RA: E é algo que temos vindo a constatar nos últimos 10 anos, uma profissionalização do setor dos usados.

PF: Claramente, e a pandemia tem vindo a acelerar isso. A falta de veículos fez com que muitos dos parceiros tivessem de encontrar novas formas de trabalho, novas formas de compra dos próprios veículos e isso elevou o nível geral do setor. Mas para nós é um ponto fulcral, é um trabalho que queremos continuar a fazer.

RA: E relativamente a estes dois anos de Piscapisca.pt. As metas foram alcançadas?

PF: Sim, claramente alcançadas e ultrapassadas na grande parte dos indicador-chave de performance (KPI) que tínhamos estabelecido. O exemplo maior, diria que é, entrando no setor onde existia um monopolista claro, apenas dois anos depois — na verdade, nem chegou a dois anos — passámos a ter um número de veículos disponíveis na plataforma superior a esse concorrente.

Neste momento temos cerca de 43 500 carros na plataforma, a nossa concorrência não tem estes números.

Termos conseguido ser a plataforma com mais veículos disponíveis no mercado. Em tão pouco tempo é claramente um resultado excelente para a nossa equipa e que ultrapassou as expectativas.

Paulo Figueiredo, diretor do Piscapisca.pt

Além disso, geramos cada vez mais negócio para os nossos dealers, temos muitos carros vendidos pelo «Pisca», mas não chega. Queremos gerar mais leads, queremos ter mais tráfego. Neste momento estamos com cerca de 600 mil visitas/mês ao Piscapisca.pt, o que é um número muito aceitável para o tempo que temos, mas queremos atingir um milhão, queremos ultrapassar esses números e gerar mais leads e mais negócios.

Do lado do negócio, as vendas através do nosso portal é um KPI com o qual nunca vamos estar satisfeitos porque queremos sempre mais.

Paulo Figueiredo, diretor do Piscapisca.pt

Resumindo: tem sido uma viagem fabulosa, com algumas peripécias pelo meio. Recordo que lançamos a plataforma em plena pandemia. Mas até isso foi bem recebido pelo mercado. Perceberam que nos momentos mais difíceis podem contar connosco.

Tivemos a coragem de continuar, quando quase tudo nos dizia para fazer precisamente o oposto. Hoje sabemos que foi a decisão correta. Na verdade, nunca tivemos dúvidas.

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RA: Uma verdadeira startup.

PF: Sim, até porque nós temos um ponto importante: nós somos uma marca, um asset digital dentro de uma entidade financeira, que é tipicamente mais conservadora e pesada, e aí mérito ao Credibom.

Porque de facto não só teve a visão como teve esta capacidade de permitir que este asset tão ágil e tão distinto crescesse e evoluísse. Hoje é um eixo absolutamente estratégico naquilo que é o plano do grupo.

RA: Estamos a falar em internacionalização?

PF: Sim, estamos já a trabalhar com a nossa casa mãe em França, onde temos já um conjunto de projetos a decorrer, o Pisca França, como nós chamamos, e de outras geografias e outras entidades.

Mas para além disso é visto sobretudo como um asset digital onde vamos assentar aquilo que são os projetos de mobilidade que o próprio grupo quer suportar e quer desenvolver. Não só em Portugal como em todos os outros países.

RA: E que projetos são esses?

PF: Para já não posso revelar.

RA: Agora falando um pouco do mercado de usados. Não há memória dos carros usados em vez de perderem valor, a cada ano que passa, ficarem cada vez mais caros.

PF: Vemos claramente que há falta de produto e falta de stock. Isto começou com a falta de carros novos que depois faz com que as gestoras de frotas e os rent-a-car não renovassem as suas frotas, que eram os grandes eixos de alimentação do setor de usados. Toda essa bola de neve chegou ao setor de usados de forma muito vincada.

Assistimos a alguns elementos nunca vistos, como ter um carro com 18-20 meses, usado, que custa tanto como um carro novo porque o carro novo há para entrega, mas só daqui a oito meses.

Paulo Figueiredo, diretor do Piscapisca.pt

Há uma distorção de mercado cujo efeito n.º 1 foi o aumento do preço, juntamente com toda a conjugação num segundo momento: a guerra, a inflação e tudo o que derivou daí. Em termos de plataforma já começamos a ver algum aumento da oferta. Digamos que não há uma diminuição tão acentuada como tem havido, estabilizou e agora está lentamente a crescer.

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A expectativa é que vamos ter pelo menos mais um semestre, se calhar seis a oito meses, até termos alguma normalização do mercado, dependendo sempre de que não haja mais surpresas.

RA: Em condições normais, para 2023, qual é a vossa expectativa?

PF: Nós achamos que o mercado não irá contrair assim de forma tão significativa como alguns agentes estão a indicar. Dependerá da inflação.

Achamos inclusive que vai haver um crescimento versus 2022, que não foi um ano totalmente mau do ponto de vista do negócio. A nossa visão é que haja uma estabilização durante este ano, sendo que 2024 será um ano de recuperação. Vai depender muito dos próximos meses, eu diria até junho.

O mundo entrou num ritmo de mudança que nos obriga a ter agilidade para acompanhar, tendo obviamente a estratégia bem definida, como nós temos até 2025, mas com a capacidade de ir adaptando.

RA: Desta estratégia que tem estado a dar frutos porque receberam agora o prémio Cinco Estrelas.

PF: Isso para nós foi, como costumo dizer, um prémio adicional ao nosso trabalho. Porque o prémio representa o reconhecimento do mercado, dos compradores e dos consumidores sobre aquilo que é a nossa estratégia e visão.

Já tínhamos ganho este prémio o ano passado e agora voltámos a ganhar. Nunca ninguém tinha ganho o prémio na história do Cinco Estrelas de marketplace de usados a não ser o monopolista que existia. É uma distinção que é o resultado do trabalho de toda a equipa «Pisca», que é extremamente dedicada e que quer ver o projeto crescer.

É por isso que nos próximos meses vamos apresentar muitas novidades.

RA: Que já pode revelar…

PF: Infelizmente ainda não posso revelar . Mas será uma grande evolução Piscapisca.pt isso posso-vos garantir.

Guilherme Costa

Desde muito cedo trocou a companhia dos brinquedos pelas revistas de automóveis. Alimentado por essa paixão em 2012 fundou a Razão Automóvel.

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