Notícias O sucesso da CUPRA é o fim da SEAT? À conversa com Wayne Griffiths

Entrevista

O sucesso da CUPRA é o fim da SEAT? À conversa com Wayne Griffiths

Falámos com Wayne Griffiths, CEO da SEAT e da CUPRA, o homem que está a desenhar o destino destas duas marcas espanholas. Do futuro da CUPRA às mudanças na SEAT.

Wayne Griffiths, CEO da CUPRA
© CUPRA

Foi em Martorell, Espanha, sede da SEAT e da CUPRA, que pudemos conversar com Wayne Griffiths, diretor executivo destas duas marcas, no mesmo evento em que ficámos a conhecer, antecipadamente, o novo Tavascan.

É o primeiro SUV elétrico da CUPRA. A produção arranca já este ano mas as primeiras entregas vão acontecer só em 2024. É mais um passo rumo à eletrificação total já em 2030.

Nesta conversa com Wayne Griffiths, abordámos a ainda curta história de sucesso da CUPRA e os planos reservados para a marca. Mas… e a SEAT. O que vai acontecer à marca espanhola?

Wayne Griffiths e equipa com CUPRA Tavascan
© CUPRA Wayne Griffiths, CEO da CUPRA e SEAT, mais a sua equipa na apresentação do CUPRA Tavascan.
Sempre a crescer
Em 2022 a CUPRA vendeu mais de 153 mil unidades e foi crucial para os 68 milhões de euros de lucros da SEAT S.A. A ambição é de ter uma quota de 3-4% na Europa (foi de 1,2% em fevereiro de 2023) e de internacionalizar-se. Já chegou à Austrália e ao México e em breve chegará à Colômbia e ao Chile. E agora, avalia uma ida para os EUA, mas a acontecer, só em 2030, quando for uma marca 100% elétrica.

Razão Automóvel (RA): Estamos em crises sucessivas, mas a CUPRA parece estar a passar ao lado com vendas a crescer continuamente. E razões para otimismo com planos ambiciosos para os próximos anos…

Wayne Griffiths (WG): As crises deram-nos a oportunidade de mudar mais depressa. Vendemos mais de 150 mil carros em 2022 e no primeiro trimestre de 2023 voltámos a incrementar as nossas matrículas em mais 50%.

E, claro, que com o lançamento mais ou menos iminente de dois SUV — o Tavascan e o Terramar — as perspetivas são as melhores para esta marca que não tem passado, mas que está a fazer tudo para ter um grande futuro.

Podemos chegar rapidamente a meio milhão de unidades por ano assim que tivermos um ano completo de vendas desses dois modelos. Em 2022 vendemos 100 mil Formentor e o Born vai ter um significativo incremento da procura a curto prazo e depois, em 2025, vamos lançar o compacto elétrico (ndr: a versão de produção do UrbanRebel).

Wayne Griffiths com CUPRA Formentor
© CUPRA

RA: A que atribui o sucesso rápido da CUPRA?

WG: Parte do nosso sucesso imediato deve-se ao facto de termos podido contar com uma rede de distribuição muito vasta e eficaz. Foi determinante.

Depois, conseguimos causar impacto junto de um cliente mais jovem (a média de idades da CUPRA é de 42 anos, 10 anos a menos do que na SEAT) e seduzir também pela diferença.

Clientes que queriam experimentar algo diferente e que teve resultados junto de um cliente que não é fiel por natureza. Sabemos disso e sabemos que temos um desafio muito grande pela frente: o de manter esse cliente e outros que vão continuar a ser mais facilmente seduzidos por marcas novas e disruptivas.

RA: Além de ser 10 anos mais novo, quem é o vosso cliente em comparação com a SEAT?

WG: Além da procura da novidade e da sua idade inferior, sabemos que metade dos nossos clientes vêm de marcas fora do universo de marcas do Grupo Volkswagen.

Cupra Formentor VZ
© Miguel Dias / Razão Automóvel Duarte O CUPRA Formentor tem sido um sucesso. Em 2022 venderam à volta de 100 mil unidades do SUV, correspondendo a 2/3 das vendas da marca.

E que 70% não teriam comprado um carro do Grupo Volkswagen caso não tivessem comprado um CUPRA. Isso significa que estamos a «roubar» clientes à concorrência. Outro dado muito positivo para nós.

RA: A SEAT S.A. está a liderar o projeto dos compactos elétricos do Grupo Volkswagen. Que significado tem para a SEAT/CUPRA ter uma missão desta envergadura?

WG: Tem uma importância enorme e é um claro motivo de orgulho. Foi preciso convencer a casa-mãe (a Volkswagen) e também o governo espanhol, mas conseguimos e agora é por mãos à obra.

Wayne Griffths com CUPRA urbanRebel
© CUPRA O CUPRA UrbanRebel antevê o «irmão» do Volkswagen ID. 2All e será o degrau de acesso à marca espanhola. Ambos serão produzidos em Martorell.

Entre as fábricas de Martorell e de Pamplona iremos fazer modelos para a Volkswagen, CUPRA e Skoda. O UrbanRebel será o mais provocativo dos três, mais alto, mas mais desportivo do que os outros dois.

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RA: Que posicionamento de mercado terá o vosso carro elétrico compacto?

WG: Ao dia de hoje, o objetivo é ter um preço de entrada na gama entre os 27 mil euros e os 30 mil euros.

RA: Falou de um veículo feito para as marcas CUPRA, Volkswagen e Skoda. Mas não SEAT. Já não vão haver mais SEAT novos e a marca vai desaparecer tal como a conhecemos há mais de 70 anos?

WG: A CUPRA será a nossa marca de automóveis no futuro. Vamos continuar a fabricar SEAT com motores de combustão pelo menos até 2035, mas cada vez mais a marca irá estar focada em produtos de mobilidade alternativa.

Wayne Griffiths com SEAT Mó
© CUPRA A SEAT Mó é a marca de mobilidade da SEAT e promete crescer a sua oferta de produtos nos próximos anos.

E até poderemos ter SEAT 100% elétricos, mas serão veículos diferentes e não automóveis atuais a partir dos quais fazemos uma versão elétrica.

Temos que ousar, ter coragem. Como também já o fomos ao anunciar que a CUPRA será uma marca 100% elétrica já em 2030, ou seja, daqui a sete anos. O Terramar será o último CUPRA que ainda vai usar motor de combustão interna.

RA: É um momento que lhe causa alguma apreensão?

WG: Não, pelo contrário. Penso que terá sido bem mais difícil ter tido sucesso com o Formentor num mercado dominado por automóveis com motor de combustão do que será na indústria automóvel elétrica, uma vez que partimos todos de um patamar muito mais nivelado.

Vai ser uma guerra, até porque precisamos de baixar substancialmente os custos para podermos oferecer automóveis elétricos a preços que o cliente possa pagar (basta ver que nos mercados onde os incentivos foram eliminados ou reduzidos, as vendas de elétricos e híbridos plug-in baixaram muito), mas será igualmente aliciante.

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RA: Que opinião tem sobre a exceção dada aos combustíveis sintéticos que irão permitir automóveis novos a combustão após 2035?

WG: O nosso foco está nos automóveis 100% elétricos. O custo dos combustíveis sintéticos (e-fuels) será bastante alto e terão pouco relevo a não ser para marcas de luxo e de superdesportivos.

Seja como for, se em 2035 esse cenário se alterar, ou seja, se os e-fuels se tornarem competitivos em termos de preço para o cliente, podem ser úteis ao permitirem que os motores de combustão do parque circulante continuem a ser usados, uma vez que não têm que receber qualquer alteração técnica.

RA: O Tavascan de produção em série conserva as linhas desportivas do concept. Foi difícil consegui-lo?

WG: O protótipo foi revelado no Salão de Frankfurt em 2019 e desde que começámos a desenvolver a versão final que foi feito um esforço para manter essas linhas tanto quanto possível.

CUPRA Tavascan traseira
© CUPRA

Penso que este nosso segundo modelo totalmente elétrico será um sucesso de vendas assim que chegar ao mercado.

Foi desenhado por nós, a engenharia foi desenvolvida pelos nossos técnicos a partir da plataforma MEB. Mas, por uma questão de lógica industrial, será fabricado na China (será, aliás, um dos primeiros automóveis do Grupo Volkswagen a ser produzido na China, em Anhui, e a ser exportado para a Europa).

RA: E vai ser vendido na China também?

WG: Não, será apenas para exportação. A Volkswagen tem uma presença muito forte, feita de décadas de investimentos no maior mercado do mundo, e não vamos entrar por aí. Tal como não temos planos para entrar na Índia nem na América Latina.

Já nos Estados Unidos da América a situação é diferente e merece ser estudada. A Volkswagen tem uma quota de mercado baixa nos EUA e existem alguns estados onde os carros elétricos têm uma procura elevada.

Se conseguirmos demonstrar que são suficientes para estabelecer um plano de negócio lucrativo, podemos perfeitamente atrever-nos.