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Como a burocracia europeia está a atrapalhar a adoção dos carros elétricos

As dificuldades de licenciamento dos postos de carregamento tem o poder de afetar a velocidade de adoção de carros elétricos na UE.

Volkswagen ID.3 Posto IONITY
©Gudrun Muschalla

O objetivo está traçado. A União Europeia (UE) quer reduzir a emissão de gases com efeito de estufa em pelo menos 55% até 2030 e atingir a neutralidade carbónica em 2050. Como é natural, o transporte rodoviário terá de contribuir e o aumento de automóveis elétricos nas estradas será fundamental para esse objetivo.

No entanto, estas ambições estão a esbarrar em algumas dificuldades, nomeadamente nos custos de aquisição dos carros elétricos em relação aos a combustão, ou em questões como a autonomia. Mas há mais.

É impossível não falar da rede de postos de carregamento europeia, que não está a crescer como o desejado e as dores de crescimento em si são também muitas.

Posto de carregamento GALP
© Galp

Burocracia excessiva

Estão a aumentar os relatos de dificuldades de implementação e de manutenção dos postos de carregamento, ainda que varie de país para país da UE.

Por exemplo, no caso de Espanha, de acordo com a Automotive News, sabe-se que muitas das 1600 estações de carregamento da Repsol encontram-se sem acesso à rede elétrica.

Porém, o problema não está na escassez de energia, mas sim nas burocracias associados ao licenciamento dos postos de carregamento. Um porta-voz da Repsol disse que, apesar de só serem precisas duas a três semanas para instalar um posto de carregamento de alta velocidade, o completar do processo de licenciamento pode demorar entre um a dois anos, devido aos diferentes requisitos administrativos espanhóis.

“Muitos (países) têm requisitos individuais que podem dificultar significativamente o progresso (de implementação de postos de carregamento).”

Stefan van Dobschuetz, vice-presidente da BP Pulse Europa

Mesmo na Alemanha, o maior mercado automóvel da Europa, a dificuldade de licenciamento dos postos de carregamento parece ser um processo sem fim, podendo passar meses de espera após a instalação para poderem entrar em funcionamento.

A Automotive News cita uma fonte da indústria que destacou o caso de uma estação de postos de carregamento que teve de esperar meses para entrar em funcionamento devido a regras que protegiam uma única árvore; enquanto outro, localizado numa autoestrada, teve 10 meses à espera de uma avaliação de ruído antes da aprovação.

A ChargeUp Europe, grupo que representa a indústria, reconhece os problemas à volta do processo de licenciamento, mas não aponta soluções para a resolução do problema.

Além do mais, o problema do aumento da rede europeia de postos de carregamento estende-se aos que também vão ser necessários para os veículos pesados (responsáveis por um quarto do total das emissões dos gases de estufa de todos os transportes rodoviários).

Mais ambição, mas será suficiente?

Apesar destas dificuldades, a UE colocou em marcha um plano para instalar uma rede de postos de carregamento rápidos até 2030 nas principais vias europeias a cada 60 km para veículos ligeiros de passageiros e a cada 100 km para veículos pesados.

Contudo, até para obter dados básicos sobre os locais potenciais de instalação dessas estações de carregamento está a ser um desafio, de acordo com as empresas interessadas: desde saber se existe um simples poste de iluminação até saber se há cablagem suficiente para ligar à rede elétrica principal.

Para mais, como muitas destas estações com múltiplos postos de carregamento requerem a instalação de uma subestação elétrica, obriga a requerer às distribuidoras de energia elétrica a instalação de mais capacidade. O que pode significar mais um obstáculo a ultrapassar.

Parque para carregamento de carros elétricos
© André Mendes / Razão Automóvel

Mesmo quando o pedido é aceite, não se sabe ao certo quando o irão fazer, segundo o que afirma Peter Badik, cofundador da Greenway Network, que já instalou 1300 postos de carregamento na Eslováquia, Croácia e Polónia.

Além disso, os números de empresas de distribuição de energia elétrica é vasto. Só na Alemanha, por exemplo, a BP diz que tem de lidar com cerca de 800 empresas para instalar postos de carregamento rápido tanto para automóveis como para camiões.

São vários os executivos que afirmaram ainda que as metas da UE para a expansão da rede de carregamento são propositadamente baixas, para ser possível cumpri-las.

Estas metas, contudo, podem ser insuficientes para acompanhar o aumento do número de veículos elétricos nas estradas europeias. A ChargeUp prevê até 2030 um aumento em 10 vezes do número de automóveis elétricos em circulação contra um aumento em nove vezes do número de postos de carregamento públicos.

De forma a mitigar este problema, as empresas do setor e a própria ChargeUp apelam à UE para haver uma maior padronização dos requisitos de instalação e licenciamento associados aos postos de carregamento.

Fonte: Automotive News