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Akio Toyoda: “estão finalmente a ver a realidade” da aposta total nos elétricos

Akio Toyoda, ex-CEO e hoje presidente da Toyota, reagiu às notícias de que a procura por automóveis elétricos está a desacelerar.

Akio Toyoda a discursar
© Toyota

Akio Toyoda, o ex-diretor executivo da Toyota e atualmente presidente, poderia ter dito apenas “eu bem vos avisei” em relação à aposta (praticamente) exclusiva nos automóveis elétricos por grande parte da indústria.

Mas Toyoda elaborou em mais palavras as suas razões em declarações à imprensa durante o Salão de Tóquio: “Há muitos caminhos para subir a montanha que é o alcançar da neutralidade carbónica. As pessoas estão finalmente a ver a realidade (sobre a tecnologia elétrica)”.

Tirar o pé do acelerador

As declarações de Toyoda são uma reação às notícias recentes de que a procura por automóveis elétricos está a desacelerar, especialmente no mercado norte-americano.

Toyota bz4x frente 3/4
© André Mendes / Razão Automóvel O bZ4X é o único modelo 100% elétrico a bateria em comercialização pela Toyota… mas não por muito tempo

Na divulgação dos resultados financeiros do terceiro trimestre, foram vários os construtores de automóveis (e de baterias) a soar os alarmes. Entre eles temos a General Motors, a Ford e até a Tesla. Também a Mercedes-Benz depara-se com dificuldades nos EUA. A família de elétricos EQ não está a ter o desempenho comercial esperado, forçando a prática de descontos substanciais.

Não é só na América do Norte. Também na Europa, o Grupo Volkswagen referiu-se à diminuição da procura. As suas encomendas caíram para metade este ano em relação aos mesmos primeiros nove meses de 2022 — de 300 mil para 150 mil.

O desacelerar da economia e as elevadas taxas de juro estão entre as principais razões avançadas para a redução dos níveis de procura por automóveis elétricos.

Dito isto, a verdade é que as vendas de automóveis elétricos continuam a subir e a bater recordes; o que está a mudar é o ritmo da subida. Este ano as vendas globais de automóveis elétricos estão a subir 49% — o que não deixa de ser um valor excelente. Contudo, em 2022 essa subida tinha sido de 63% (Fonte: Wall Street Journal).

Esta desaceleração promete continuar em 2024, levando vários construtores a reverem as metas de vendas previamente estabelecidas e até futuros investimentos.

A Ford, por exemplo, «empurrou» para a frente a meta de vender 600 mil elétricos por ano e abandonou o objetivo de vender dois milhões de elétricos até 2026. A GM também desistiu dos objetivos de vender 400 mil elétricos no primeiro semestre de 2024 (não avançou com nova data para atingir esses volumes).

Além disso, os planos da GM em parceria com a Honda para desenvolver um elétrico com preço inferior a 30 mil dólares (pouco mais de 28,3 mil euros) para a América do Norte foram descartados.

Akio Toyoda tinha razão?

Akio Toyoda vê neste desacelerar da procura como uma vindicação da sua posição, que tantas vezes foi criticada, por não «abraçar» os elétricos tão veementemente como os outros.

E justifica esta desaceleração: “se os regulamentos são criados baseados em ideais, serão os utilizadores normais que irão sofrer”. O que é uma referência ao forçar e apressar de uma transição tecnológica por decreto que nem todos estão prontos para a fazer.

Recordamos que enquanto Akio Toyoda liderou os destinos da Toyota, os investimentos nos 100% elétricos foram muito inferiores aos que vimos outros gigantes da indústria efetuar.

Toyota GR Corolla H2 na pista
© Toyota A Toyota continua a desenvolver o motor de combustão a hidrogénio no palco mais exigente de todos: a competição

Ao invés, continuou a apostar forte na tecnologia híbrida, de que a Toyota foi pioneira, e diversificou o investimento noutras tecnologias para alcançar a neutralidade carbónica: fuel cell (elétricos com pilha de combustível a hidrogénio); e motores de combustão a hidrogénio.

O seu sucessor, Koji Sato, por outro lado, comprometeu-se em recuperar o atraso da Toyota nos elétricos a bateria. Os planos são ambiciosos: em 2030, a expectativa é a de vender cerca de 3,5 milhões de elétricos por ano (o grupo Toyota vende mais de 10 milhões de automóveis por ano).

No Salão de Tóquio tivemos um vislumbre desse futuro. A Toyota apresentou mais do que uma mão cheia de protótipos — de desportivos a várias pick-up, passando por berlinas e SUV —, todos eles elétricos a bateria, e a maioria deles antecipam modelos de produção.

Contudo, Sato, apesar do superior foco nos automóveis elétricos, não abandonou os investimentos nas outras tecnologias.