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Como combater a «invasão chinesa»? Carlos Tavares responde

Carlos Tavares, diretor executivo da Stellantis, tem planos para a indústria automóvel europeia, capazes de rivalizar com os carros provenientes da China.

Carlos Tavares durante a sua apresentação no Congresso Nacional da Ordem dos Engenheiros
© Stellantis

O XXIII Congresso Nacional da Ordem dos Engenheiros, que se realizou esta semana no Porto e no qual estivemos presentes, teve como convidado especial Carlos Tavares, o CEO do Grupo Stellantis.

Na sua apresentação, o português responsável por um dos grupos mais rentáveis do mundo, falou sobre a transformação energética que está em curso. Trata-se de uma “transformação brutal, profunda e feita num espaço de tempo extremamente curto”, referiu.

Entre diversos temas, uma das questões mais faladas dos últimos tempos está relacionada com a «invasão chinesa», tal como já foi apelidada. Sobre o tema, Carlos Tavares é claro: “O que está a acontecer é que os fabricantes de automóveis chineses têm uma vantagem de custo de 30% à saída das suas fábricas em relação aos construtores ocidentais”.

Carlos Tavares durante a sua apresentação no Congresso Nacional da Ordem dos Engenheiros
© Stellantis

Ou seja, na prática e graças a essa vantagem “os construtores chineses já têm hoje, através da sua competitividade de custos, uma capacidade de vender (e com um certo nível de lucro), veículos elétricos ao preço dos veículos térmicos. Se isso viesse a acontecer neste momento, seria, para a indústria automóvel europeia, um banho de sangue”.

Para que isso não aconteça, a Stellantis tem passado os últimos anos a analisar toda a sua cadeia de produção, com o objetivo de reduzir custos e criar novos produtos que tenham a capacidade de ser competitivos nesta realidade e continuar a gerar lucro para a empresa.

“Fizemos muita coisa para reduzir os nossos custos, mas agora estamos praticamente capazes de combater os chineses de frente”, refere Carlos Tavares. No entanto, não deixa de acrescentar:

“(…)o lucro que eu faço com um Citroën ë-C3 é muito inferior ao de um carro com motor de combustão”.

Carlos Tavares, CEO da Stellantis

O futuro modelo da marca francesa será o primeiro desta nova geração de produtos a chegar ao mercado, com preços a começarm nos 20 mil euros.

Faz parte de um investimento global da Stellantis na eletrificação que chega aos 50 mil milhões de euros e serve de resposta aos automóveis provenientes da China que incluem uma vantagem em termos de custo.

“Demagogia vem esmagar-se contra a parede da realidade”

A vertente mais política desta transformação energética, segundo o CEO da Stellantis, está totalmente desfasada do que seria aceitável, focando-se na decisão já tomada pela União Europeia de proibir a venda de veículos com motor de combustão a partir de 2035.

Carlos Tavares fala em “demagogia”, ou seja, o discurso do poder político em que vão resolver este problema; e em “dogmatismo” que diz que só podemos resolver isto quando os “transportes forem todos limpos, o que significa que as pessoas têm de ter poder de compra para comprar carros elétricos”.

É o ponto do dogma tecnológico — só os carros elétricos é que podem resolver o problema e não se pode ter carros a combustão —, que Tavares diz estar “totalmente desligado da realidade da vida real das pessoas. Isso não é aceitável numa União Europeia, que é uma união de países democráticos”.

Carlos Tavares durante a sua apresentação no Congresso Nacional da Ordem dos Engenheiros
© Stellantis

“Não se pode estar a dizer às pessoas que a partir de ‘amanhã’ não podem utilizar o seu automóvel”, diz Carlos Tavares. “Não faz sentido. Está-se simplesmente a esbarrar na burrice do dogmatismo que afirma não querer veículos térmicos.”

“O que é que vamos fazer? Vamos proibir a utilização desses veículos. Eu vou dizer aos meus trabalhadores agrícolas do Douro que têm de parar de utilizar a pick-up Diesel de 30 anos? Não faz sentido.”

Carlos Tavares, CEO da Stellantis

Tal como referido pelo seu CEO, a Stellantis tem “todas as tecnologias necessárias à disposição, mas temos (Europa) uma má estratégia, porque esta estratégia é unicamente resultado do dogmatismo e não de uma abordagem pragmática da vida real das pessoas, começando pelos meus trabalhadores agrícolas do Douro.”

Carlos Tavares conclui afirmando que esta “é uma das dificuldades que temos. Temos ciclos políticos que são curtos e incompatíveis com a consistência da execução de uma estratégia que necessita de 10 anos ou talvez 20 anos, se incluir uma mudança de energia. Se mudarmos de rumo a cada dois anos, nada se faz e o planeta está à espera. E eu estou a pensar nos meus netos.”