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Entenda o que está a acontecer. Os números da crise no setor automóvel

O ano de 2024 está a revelar-se desafiante para a maioria da indústria automóvel e as dificuldades deverão prolongar-se por 2025. Volvo e Grupo Renault contrariam tendência e crescem.

No início deste ano os principais construtores automóveis fizeram projeções otimistas. No entanto, nas últimas semanas, assistimos a uma inversão generalizada desse sentimento.

Objetivos de vendas, faturação e lucros estão a ser revistos em baixa e, em alguns casos, os problemas já são graves o suficiente para serem equacionadas medidas drásticas. Foi o que vimos, muito recentemente, com a Volkswagen, na Alemanha, mas não é caso único. Reunimos neste artigo uma visão geral sobre o ponto de situação financeiro das principais marcas a operar na Europa.

Tendência geral de quebra

Na divulgação dos resultados do terceiro trimestre de 2024 (julho a setembro), praticamente todos os fabricantes automóveis — sobretudo europeus, americanos e japoneses —, registaram descidas em várias métricas e antecipam tempos difíceis que se arrastarão para 2025. Como veremos mais adiante, Volvo e Grupo Renault são, para já, as únicas excepções.

Há uma combinação de fatores que estão a contribuir para o que parece ser uma tempestade perfeita: queda da procura, crescente concorrência dos fabricantes chineses, custos de produção elevados e impacto das tarifas comerciais.

AUDI E dianteira
© Audi A Audi decidiu redefinir a sua estratégia apresentou o primeiro modelo elétrico, AUDI E, da sua nova marca AUDI. Será vendido exclusivamente no mercado chinês em conjunto com a SAIC.

Como se não bastasse, para 2025 podemos adicionar a entrada em vigor das novas metas de emissões na Europa. Neste artigo da Razão Automóvel pode entender melhor o que está em causa.

Além destes fatores, há fabricantes que estão a ser afetados por problemas adicionais particulares, como operações de recolha com forte impacto financeiro (BMW), ou problemas no fornecimento de matérias primas, como o alumínio (JLR e Porsche, por exemplo).

Não há prejuízo mas há quebras de lucros

As notas dominantes nos resultados financeiros do terceiro trimestre de 2024 são: quebra lucros e de rentabilidade, acompanhados por quebras de vendas generalizadas em mercados chave.

É o caso dos construtores premium alemães, que estão a perder tração naquele que é o seu maior mercado, a China. BMW, Audi e Mercedes-Benz registaram quebras de vendas no mercado chinês, e isso está a afetar a faturação e os lucros.

Contabilizados três trimestres (janeiro-setembro) de 2024 e em relação a 2023, os lucros baixaram quase 32% na BMW; 50% na Audi; e quase 54% na Mercedes-Benz. As margens operacionais também estão a cair para níveis que já não se viam há muitos anos.

Japoneses seguem trajetória europeia

Saindo dos premium e passando pela terra do sol nascente, as notícias não parecem ser melhores. O calendário fiscal do Japão começa a 1 de abril, pelo que os resultados apresentados pela Mazda, Honda e a gigante Toyota referem-se ao seu primeiro semestre. Todas apresentaram quebras de lucros: 20,5%, 20% e 29,5%, respetivamente.

Mais dramática é a quebra de lucros da Nissan em 90% no primeiro semestre (abril-setembro) em relação a 2023 — a margem de rentabilidade caiu para apenas 0,5%.

A situação dos gigantes europeus

Regressando à Europa, o Grupo Volkswagen viu os lucros encolher 21% entre janeiro e setembro de 2024. A Volkswagen (marca) tem concentrado todas as atenções, sobretudo devido à possibilidade, ainda não descartada, de encerrar três fábricas na Alemanha.

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A Stellantis deixou a divulgação dos lucros para o final do ano, mas no primeiro semestre viu os lucros caírem praticamente para metade (48%). A performance no mercado norte-americano é uma das principais causas para este resultado.

As exceções à regra

Se a generalidade dos construtores está a enfrentar dificuldades, outros estão a conseguir navegar melhor por estas águas turbulentas. O Grupo Renault, por exemplo, mantém as projeções para 2024 que tinha avançado no início do ano.

Volvo EX90 - 3/4 de frente
© Volvo

A Volvo também anunciou um novo aumento de vendas e da margem de lucro operacional, ainda que reconheça que o último trimestre do ano vai ser muito desafiante, o que poderá diluir parte dos bons resultados obtidos até agora.

Dentro do Grupo Volkswagen, a Skoda parece ser a única em contra-ciclo. O ano de 2024 está a correr particularmente bem, com aumentos de vendas (4,5%), receitas (3,8%) e, sobretudo, lucros (34,8%).

Medidas para reverter queda

Com quedas tão expressivas nos lucros e, em muitos casos, nas vendas, vários construtores decidiram avançar com medidas para reverter a trajetória dos números, o que inclui despedimentos.

A Nissan está a ponderar despedir 9000 empregados para reduzir os custos e a Audi deverá seguir o mesmo caminho, com planos para cortar 15% da sua força de trabalho, como parte do plano de redução de custos do Grupo Volkswagen. Estimam-se 4500 despedimentos, apenas na Alemanha.

Também a Stellantis anunciou o lay-off de até 1100 trabalhadores na fábrica que produz o Jeep Gladiator, em Ohio, nos EUA, face às vendas abaixo do expectável.

Além disso, tem sido várias as fábricas a suspender temporariamente a produção ou a reduzir o número de turnos, para fazer face à redução da procura, especialmente, nos modelos 100% elétricos.

Praticamente todos os construtores adiaram os planos de eletrificação total. Os mais recentes foram a Suzuki e a Bentley.