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Eleições EUA. Protecionismo deixa indústria portuguesa de componentes em alerta

O resultado das eleições nos Estados Unidos está à porta. Seja qual for o desfecho, é esperado um impacto na indústria nacional de componentes.

Componentes Audi
© André Mendes / Razão Automóvel

Este ano trouxe várias mudanças políticas que afetaram as empresas portuguesas, a começar pelas eleições legislativas em março. Agora, a dois meses de terminar o ano, os holofotes estão apontados para as eleições presidenciais nos Estados Unidos da América (EUA).

Nas próximas horas o mundo ficará a saber quem vai liderar uma das maiores potências do mundo: Donald Trump ou Kamala Harris. Com posições protecionistas de ambos os candidatos a alimentarem a campanha eleitoral americana, a atenção das empresas exportadoras no desfecho das eleições é maior do que nunca.

Portugal, que produz diversos componentes para a indústria automóvel, desde painéis de instrumentos, a caixas de velocidades, tem empresas norte americanas na lista dos seus principais clientes.

Peças que valem milhões a Portugal

O peso da indústria de componentes na balança comercial portuguesa é muito expressivo. Entre janeiro e agosto deste ano, foi responsável por mais de 14,6% do total das exportações nacionais.

Em 2023, os EUA foram o quarto principal destino destes produtos, absorvendo 5% do total dos componentes produzidos em Portugal para a indústria automóvel. É um mercado que está a ganhar cada vez mais importância, com as vendas a subirem 12% de janeiro a agosto de 2024, ao passo que as vendas de componentes para a Europa estão em queda.

Componentes Audi
© André Mendes / Razão Automóvel As exportações automóveis portuguesas são um dos setores que poderão vir a ser impactados com o resultado das eleições norte-americanas.

O que está em jogo?

De um lado está Donald Trump. O republicano, prometeu durante a campanha aumentar drasticamente os direitos aduaneiros, ao defender uma tarifa universal de 10% a 20% sobre todos os produtos importados.

A confirmar-se, significa uma potencial guerra comercial com a União Europeia (UE) que já anunciou ter medidas de retaliação preparadas.

Do outro lado está Kamala Harris. A democrata, apesar de defender um cenário de continuidade — incluindo a manutenção da política de subsídios Inflaction Reduction Act (IRA) — defende também políticas ambientais mais rígidas, com regulamentações e padrões de sustentabilidade mais exigentes. Isto significa potenciais custos adicionais para as empresas portuguesas, que vão necessitar de se adaptar rapidamente para cumprir novos padrões de conformidade.

Em declarações ao ECO, o diretor-geral da Confederação Empresarial de Portugal (CIP), Rafael Alves Rocha, diz acreditar que a política de Harris apresenta um menor risco de agravamento das tensões comerciais entre os EUA e a Europa.

Contudo, também relembra que existe uma diferença entre as promessas eleitorais e as ações reais. As políticas económicas americanas, independentemente do partido, tendem a ter um “fio condutor”. Como exemplo, temos o IRA e os conflitos na Organização Mundial do Comércio (OMC) que têm atravessado várias administrações.

O impacto nas exportações

Segundo o INE (Instituto Nacional de Estatística), os EUA foram o quarto maior exportador de bens portugueses no ano passado, com uma quota de 6,8%. Este é um valor que tem crescido nos últimos quatro anos.

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Entre os principais produtos exportados encontram-se: produtos químicos (26,7%), combustíveis minerais (17,9%), máquinas e aparelhos (10,2%), plásticos e borracha (7,2%) e metais comuns (6,2%). O setor químico, foi o setor que mais contribuiu, tendo gerado cerca de 1,4 mil milhões de euros.

O investimento direto de Portugal nos EUA totalizou mais de 1,5 mil milhões de euros em 2023, enquanto o investimento americano em Portugal cresceu 25%. Os EUA estão entre os maiores investidores estrangeiros em Portugal, principalmente no setor automóvel.

© Ryan Searle

Estas eleições podem representar, por isso, riscos acrescidos para a atividade das empresas portuguesas nos EUA.

O impacto no setor automóvel

Em 2023, os EUA foram o quarto maior comprador de componentes automóveis portugueses, enquanto que as vendas para o mercado europeu recuaram.

José Couto, presidente da AFIA (Associação de Fabricantes para a Indústria Automóvel), destaca em declarações ao ECO que ambos os candidatos adotam posturas protecionistas, mais acentuadas no caso de Trump. Isto poderá, segundo o responsável, forçar empresas portuguesas a transferir as suas operações para os EUA, com o objetivo de reduzir os custos de transporte e consequentemente melhorar a competitividade.

Outras indústrias, como a corticeira e a química, também enfrentam grandes desafios perante um cenário de protecionismo pós-eleições, uma vez que dependem, de forma significativa, das exportações para os EUA.

Fonte: Eco