Notícias Northvolt pede insolvência de subsidiária e adia megafábrica em Setúbal

Indústria

Northvolt pede insolvência de subsidiária e adia megafábrica em Setúbal

A Northvolt, empresa parceira da Galp numa refinaria de lítio em Setúbal, está adiar vários projetos e acaba de pedir insolvência de uma subsidiária.

Os últimos meses têm sido difíceis para a empresa de baterias suecas Northvolt. Os atrasos na produção, a concorrência chinesa e o arrefecimento na procura de veículo elétricos está a colocar sob pressão o maior produtor de baterias da Europa.

Foi perante este cenário que o grupo sueco deu entrada esta semana, no Tribunal Distrital de Estocolmo, de um pedido de insolvência para a Northvolt Ett Expansion AB, uma das suas subsidiárias.

Em comunicado, a empresa informa que “todos os contactos com a Ett Expansion AB serão, a partir de agora, gerenciados pelo administrador da falência”, afastando, no mesmo comunicado, alguma perturbação nas restantes atividades.

“A Ett Expansion AB é uma das mais de 20 entidades diferentes dentro do Grupo Northvolt e o pedido de falência não se relaciona com nenhuma das outras entidades legais no Grupo.”

Northvolt

A subsidiária em causa estava responsável pela expansão da capacidade da gigafábrica do grupo na Suécia, porém a direção acabou por cancelar o projeto.

As obras de expansão da Northvolt em Ett, Suécia.

Recordamos que este não é o primeiro sinal de dificuldades na operação da Northvolt. No mês passado, o grupo sueco, que é o maior produtor de baterias europeu, viu-se obrigado a cortar 1600 postos de trabalho na sua sede na Suécia, o que corresponde a um quinto da sua força de trabalho na Europa.

Em 2023, o Grupo terminou o ano com um prejuízo de 1,09 mil milhões de euros, após ter registado uma perda de 260 milhões de euros no ano anterior. Segundo o Financial Times, a Northvolt já levantou mais capital que qualquer outro grupo privado na Europa, num total que já supera os 14 mil milhões de euros.

Refinaria de lítio em Setúbal adiada

A Northvolt cancelou recentemente a expansão de outras quatro fábricas e encerrou uma unidade de Desenvolvimento e Investigação nos EUA. Entre os adiamentos está a futura refinaria de lítio de Setúbal, que nasceu de um consórcio entre a Galp e a Northvolt em 2021.

Deste consórcio nasceu o projeto Aurora, cujo principal objetivo é desenvolver em Portugal a maior e mais sustentável fábrica de conversão de lítio da Europa. Os planos iniciais previam o fim das obras de construção em 2025 e o início da refinação de lítio em 2026.

Bateria de iões de sódio da Northvolt
© Northvolt Com investimento estimado de 1000 milhões de euros, esta refinaria de lítio em Setúbal pretende ter uma capacidade de produção anual de 35.000 toneladas métricas de hidróxido de lítio.

Em comunicado enviado à Reuters na quinta-feira passada, a Galp afirma que “continua comprometida com a joint venture Aurora e com a Northvolt”, mas “devido à natureza e à complexidade do projeto, estão em marcha ações para garantir a competitividade do projeto”. Não foram avançadas novas datas para o fim das obras e arranque da produção da fábrica em Setúbal.

As dificuldades da Northvolt

Fundada em 2016 por Peter Carlsson, antigo vice-presidente da cadeia de Abastecimento (VP of Supply Chain) da Tesla, a Northvolt tem vindo a enfrentar várias dificuldades desde 2022. A começar pelos atrasos nas encomendas e problemas de produção, e a terminar em desafios de qualidade e dificuldades financeiras.

© Northvolt

Como uma forma de reduzir custos, o grupo não só cortou na sua força de trabalho, como se afastou da sua missão original de controlar toda a cadeia de produção de baterias, desde a sua fabricação até à reciclagem.

Recorde-se que, há uns meses, a BMW, que é também uma das investidoras na empresa, viu-se obrigada a cancelar uma encomenda de 1,82 mil milhões de euros devido a atrasos na entrega e problemas de qualidade, o que veio fragilizar a credibilidade da Northvolt. A BMW entregou o contrato à Samsung SDI.

Para juntar às dificuldades, o grupo enfrenta uma concorrência intensa dos gigantes chineses e sul-coreanos, como a BYD, CATL e LG Chem. Recordamos que a China detém 85% da produção mundial da células de baterias, ameaçando a sua posição no mercado.

Além disso, o preço por kWh das empresas asiáticas também está muito abaixo daquilo que, para já, empresas como a Northvolt conseguem oferecer ao mercado.

Segundo Fredrik Erixon, do European Centre for International Political Economy, citado pela Bloomberg: “a procura pode não ser suficiente para a oferta e a Northvolt pode ser uma das primeiras vítimas dessa concorrência”.

Um problema à escala europeia?

Os problemas na Northvolt são apontados por alguns analistas como “um sinal de fraqueza da Europa” na produção e exploração de baterias para a indústria da mobilidade. Recordamos que esta empresa sueca, fundada em 2016, tem como missão assumida liderar a produção europeia de baterias.

© Northvolt Segundo a Bloomberg, o governo sueco já deixou claro que, em caso de necessidade, não vai resgatar a Northvolt, e que a Alemanha está em “contato constante” com a empresa.

Em 2019, a empresa, que tem contado com o apoio da Volkswagen e da Goldman Sachs Group Inc. entre vários outros investidores, tinha como objetivo alcançar uma capacidade de produção instalada de 230 GigaWatts-hora (GWh) até 2030. Atualmente, a sua única fábrica a operar, em Ett, perto da cidade sueca de Skelleftea, tem uma capacidade de 16 GWh.

Apesar de todas as dificuldades, a Northvolt reafirmou recentemente que “continua comprometida” com a sua joint venture NOVO com a Volvo Car AB na Suécia, a Northvolt Drei na Alemanha e a Northvolt Six no Canadá. A empresa sueca promete comunicar os cronogramas e potenciais economias de custos destas novas fábricas nos próximos meses.

Fonte: Reuters, Bloomberg

Sabe esta resposta?
O que significa baterias de LFP?